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Conexão que vem do espaço: como funciona a internet via satélite?

ViaSat-3 Américas, o maior e mais potente satélite de internet, será lançado nesta semana com conexão para o Brasil - Guilherme Zamarioli/Arte UOL
ViaSat-3 Américas, o maior e mais potente satélite de internet, será lançado nesta semana com conexão para o Brasil Imagem: Guilherme Zamarioli/Arte UOL

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo (SP)

23/04/2023 04h01Atualizada em 24/04/2023 11h41

Apesar de já existir há duas décadas, a internet via satélite ganhou destaque recentemente, impulsionada pelos ambiciosos projetos de empresas como a SpaceX, de Elon Musk, que criou sua "constelação" Starlink e chacoalhou este mercado. Nesta quarta-feira (26), o setor ganhará um novo avanço.

A norte-americana ViaSat, uma das mais tradicionais operadoras do ramo, vai lançar o maior e mais potente satélite de internet do mundo. Ele será o primeiro da rede ViaSat-3, cujo objetivo é oferecer cobertura em toda a América, inclusive no Brasil.

O lançamento está previsto para as 20h24 (horário de Brasília), do Centro Espacial Kennedy, da Nasa, na Flórida (EUA). Será usado o foguete mais potente em operação comercial, o Falcon Heavy, da SpaceX, de Elon Musk. Tilt estará lá para acompanhar ao vivo e de perto.

Voltada a pessoas em locais onde a rede terrestre não chega ou é insuficiente, a conexão satelital não é tão rápida como a banda larga via fibra óptica, mas "enxerga" até os pontos mais remotos.

Como? Os satélites são como olhos no espaço, a centenas ou milhares de quilômetros da Terra; de cima, cobrem grandes áreas sem precisar de cabos.

Também são equipamentos desse tipo que enviam sinais de GPS e de canais de televisão, além de permitir ligações telefônicas em áreas distantes, controle de tráfego aéreo e comunicações em alto mar.

Como funciona?

A internet por satélite é uma banda larga que não depende de cabos externos ou linhas telefônicas para funcionar. Em vez disso, usa "estradas espaciais".

O satélite é como um entreposto — ele não cria a internet, apenas rebate sinais de e para a Terra. Parece um jogo de ping-pong no espaço.

Tudo que você pede vai para o satélite, depois para uma grande antena terrestre (ela, sim, conectada por fibra à internet), volta para o satélite e então chega até seu dispositivo.

O único fio fica entre uma pequena antena em sua casa e o modem/roteador — que vai "traduzir" o sinal e permitir a conexão (por wi-fi ou com cabo de rede), como em qualquer rede residencial.

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Imagem: Guilherme Zamarioli/Arte UOL
  1. Quando você acessa um site, transmite um vídeo ou faz qualquer outra ação online, este sinal sai pelo modem e é convertido em ondas de rádio
  2. A antena transmite o pedido para o satélite
  3. O satélite o envia a uma antena maior em solo, em uma estação terrestre da operadora (também chamada de gateway ou hub de comunicação)
  4. O gateway estabelece a conexão à internet e retorna o sinal desejado ao satélite
  5. O satélite retransmite os dados à antena/modem, para que sejam acessados pelo computador ou smartphone
  6. Sob condições normais, os sinais viajam na velocidade da luz, e o processo todo acontece em menos de um segundo

    O que preciso para acessar?

    • Antena: uma pequena parabólica, como as de televisão por satélite (tipo a usada por empresas de canais por assinatura), para enviar e receber o sinal ao satélite; ela precisa ficar do lado de fora de casa, com o máximo de acesso possível ao céu (em geral, no telhado)
    • Um contrato com uma empresa especializada, mediante pagamento de mensalidade; no Brasil, temos um punhado de operadoras: Starlink, ViaSat, HughesNet, NetLight, InternetSat, OkSat e outras.

    No Brasil esse tipo de serviço começou a ser oferecido em 2014, focado em áreas rurais, afastadas das torres e cabos de comunicação dos grandes centros urbanos.

    Devido ao custo, os principais clientes são empresas, indústrias, agronegócio, mineração e petróleo. Também há algumas iniciativas do governo para democratização do acesso em cidades isoladas, dentro do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL).

    Telebras levou antenas de internet via satélite transportáveis para a Terra Yanomami - Dibulgação - Dibulgação
    Telebras levou antenas de internet via satélite transportáveis para a Terra Yanomami
    Imagem: Dibulgação

    Pontos positivos:

    • Disponível mesmo onde não há infraestrutura terrestre de telecomunicações
    • Simples e rápido de adquirir: encontre uma empresa, contrate um plano e receba uma antena em sua casa
    • Novos competidores e tecnologias no mercado têm permitido preços mais baixos e conexão mais rápida

    Pontos negativos:

    • Mais caro que outras formas de internet (além da mensalidade, em geral, é preciso comprar a antena)
    • Velocidade menor, latência maior (tempo de resposta entre um comando e a resposta) e franquia limitada de dados na maioria dos casos
    • Pode haver instabilidades devido a mau tempo (chuva, vento) ou à posição da antena
    • Gera poluição espacial, devido a milhares de satélites ocupando a órbita (principalmente no caso de grandes redes em órbita baixa, como a Starlink)

    Entenda a vida e a "morte" dos satélites artificiais

    Vale a pena?

    A promessa de conexão em qualquer lugar é tentadora, mas ainda só faz sentido para quem realmente precisa dela: pessoas ou empresas em áreas remotas, que não têm outra opção de banda larga ou que necessitam de uma conexão mais confiável do que a disponível.

    Isso porque os planos são salgados. Os mais baratos, das operadoras tradicionais, como ViaSat e HughesNet, custam em torno de R$ 200 ao mês e oferecem velocidade de download entre 10 Mbps (megas) e 15 Mbps.

    Parece pouco, mas dá até para assistir streaming em Full HD. Jogos online e chamadas de vídeo são prejudicados pelo tempo que o sinal demora para ir e voltar.

    A Starlink, como esperado, é mais cara. No Brasil, a mensalidade fica em torno de R$ 300. É preciso desembolsar ainda cerca de R$ 3 mil para a adquirir a antena (valores já com impostos). Mas os dados são ilimitados e a velocidade de download é de mais de 100 Mbps, segundo a empresa.

    Sim, ela é mais rápida e com menor latência do que as concorrentes satelitais, mas faz sentido para poucos brasileiros:

    • pessoas que necessitam de latência mais baixa e/ou de grande volume de dados, mas estejam em áreas sem cobertura de operadoras tradicionais ou em que a qualidade é muito ruim
    • negócios que dependem de operações em tempo real, como transações financeiras, telemedicina e fábricas automatizadas
    • profissionais com um trabalho itinerante em locais afastados, já que a antena e o modem podem ser carregados para onde for (especialmente no caso da Starlink)

    Para comparação, um plano de internet de fibra óptica comum (Vivo, Tim, Claro), com velocidade de 500 Mbps de download, gira em torno de R$ 150.

    Escolas rurais, unidades de saúde, postos de fronteira, instalações militares, comunidades indígenas e outros espaços em áreas remotas também se valem da internet via satélite.

    No Brasil, a ViaSat tem uma parceria com a Telebras para oferecer essas conexões de interesse público, em troca do uso de parte da capacidade de nosso SGDC (Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Terrestres) para suas operações comerciais.

    O Viasat-3 Américas é o primeiro satélite próprio da empresa a operar no Brasil; com ele, os brasileiros podem ganhar maior cobertura e velocidade — e o investimento pode se tornar mais interessante. O foco serão as regiões Norte e Centro-Oeste, onde há menor penetração de serviços de banda larga tradicionais.

    O segundo satélite deve ser lançado ainda este ano, para servir Europa, Oriente Médio e África, e o terceiro em 2024, para a região da Ásia/Pacífico. Juntos, serão capazes de cobrir todos os continentes e as principais rotas aéreas e marítimas do globo.