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ChatGPT vira veterinário e casamenteiro: veja usos curiosos do robô da moda

Logotipo da OpenAI, desenvolvedora do chatbot ChatGPT - Florence Lo/Ilustração/Reuters
Logotipo da OpenAI, desenvolvedora do chatbot ChatGPT Imagem: Florence Lo/Ilustração/Reuters

Aurélio Araújo

Colaboração para Tilt, de São Paulo

01/05/2023 04h00

Como você usa o ChatGPT? As possibilidades oferecidas pela inteligência artificial por trás do robô da OpenAI parecem quase infinitas. No entanto, algumas pessoas criaram usos para o chatbot imprevistas até pelos criadores da tecnologia.

Para exemplificar, Tilt foi atrás de gente que ousou utilizá-lo de outra maneira. Abaixo, contamos quatro dessas histórias.

Antes, é preciso lembrar que o ChatGPT, como outras ferramentas de inteligência artificial generativa, funciona com modelos de processamento de linguagem natural, um campo de estudos que visa dar aos computadores o poder de se comunicarem conosco como se fossem humanos. Ou seja: sintetizando dados e informações complexas a partir do uso da nossa própria língua.

É dessa forma, por exemplo, que conseguimos dar uma ordem a um chatbot para que crie um texto, e ele consegue nos responder criando uma sequência de palavras totalmente coerente. Mas esse é o uso mais simples: tem quem use a IA de forma mais sofisticada.

A cadela salva pelo ChatGPT

No final de março, um homem, que prefere se identificar só como Cooper, postou no Twitter que o GPT-4 (modelo de linguagem pago usado como base da estrutura do ChatGPT) salvou a vida da sua cadela.

A cachorrinha foi diagnosticada pelo veterinário com uma doença transmitida por carrapatos. Apesar de apresentar forte anemia, ela estava melhorando, até que suas gengivas começaram a ficar muito esbranquiçadas.

Como a condição piorou bastante, o veterinário disse a Cooper que não tinha mais o que fazer, a não ser esperar e observar. Inconformado, o tutor do animal informou os resultados dos exames de sangue ao GPT-4 e pediu ajuda com o diagnóstico.

Eu já tinha usado bastante [o GPT-4] para solucionar problemas de outras áreas, então eu tinha uma noção geral do que ele faz bem. Reconhecer padrões em dados é uma dessas coisas nas quais ele é realmente ótimo. Diagnósticos são exatamente isso, por isso eu arrisquei
Cooper

Antes de tudo, o chatbot esclareceu: não podia substituir um veterinário. Depois, fez uma análise dos dois testes e concluiu que havia explicação para a piora na anemia.

Após ser questionado, o robô sugeriu que poderia ser uma hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos) causada por anemia hemolítica auto-imune, um problema comum para cachorros. Cooper procurou outro veterinário, a quem apresentou o diagnóstico, confirmado depois por testes.

Mesmo com a confirmação do diagnóstico, não sabíamos se ela iria sobreviver. Felizmente, deu tudo certo e ela está ótima
Cooper

Crianças nascidas com uma mãozinha da IA

Em vez de resolver problemas individuais, há quem acredita que a inteligência artificial pode solucionar problemas de toda a sociedade. É o caso de Jake Kozloski, chefe-executivo e fundador do Keeper, um aplicativo para relacionamento que, diferentemente de Tinder ou Bumble, dispensa usuários atrás de algo casual.

Como diz seu criador, o objetivo da Keeper é "solucionar a crise de fertilidade".

As pessoas estão se casando menos e tendo menos filhos, isso é um fato. Se nós pudermos ajudar as pessoas a se apaixonar, a se casar e ter filhos, qual é o problema? Nós acreditamos no amor
Jake Kozloski, do Keeper

Com a ajuda do GPT-4, o app lê imagens e texto para buscar unir pessoas de acordo com suas preferências, informadas por meio de um questionário. Há ainda ação humana: alguns "casamenteiros" analisam os "matches" oferecidos pela IA e refinam os resultados, oferecendo aos selecionados a possibilidade de se conhecerem.

Com cerca de mil frequentadores, o Keeper já formou 40 casais, diz Kozloski. Dois deles se casaram.

O app é voltado apenas a casais heteronormativos, porque o executivo acredita que seu sistema não se ajusta a casais homoafetivos.

Além disso, ele explica que sua motivação é pessoal. Criado só pela mãe, ele diz que, embora tenha tido uma boa infância, ela poderia ter sido melhor se seu pai estivesse presente. "O amor é uma coisa difícil. As melhores coisas do mundo são difíceis, mas elas são as melhores coisas do mundo por uma razão", afirma.

Autonomia para quem não enxerga

Desde 2015, a empresa dinamarquesa Be My Eyes ("seja meus olhos", em tradução livre) oferece soluções para dar autonomia a pessoas com deficiência visual.

Por intermédio da companhia, voluntários se oferecem para resolver situações do cotidiano - saber a data de validade de um alimento, por exemplo. O serviço é gratuito. Mas, segundo o chefe-executivo da empresa, Mike Buckley, a receita vem de parcerias com empresas como Microsoft, Google e Spotify, que precisam da Be My Eyes para atender clientes com limitações na visão.

A inovação trazida pela IA ao negócio está em prescindir de voluntários humanos. O plano é usar o GPT-4 para ler imagens e textos para traduzi-los em áudio. Ele ainda não foi lançado. E o recurso possui uma lista de espera de interessados em usá-lo.

A IA vai preencher uma necessidade de mercado (...) Queremos que pessoas cegas e com baixa visão tenham escolhas. Elas devem ter o poder de decidir quais ferramentas vão utilizar [humanos ou a tecnologia]
Mike Buckley

Bom humor artificial

O artista digital dinamarquês Andreas Refsgaard diz se preocupar com os avanços rápidos da inteligência artificial. Mas ele decidiu usar o humor e a brincadeira no seu trabalho para tornar o tema menos intimidador e evitar que apenas especialistas e grandes empresas "dominem a narrativa" sobre a IA.

Em parceria com o desenvolvedor Frederik Lauenborg, ele usou a tecnologia para criar memes: nasceu assim o MemeCam, um site que gera uma legenda engraçada para qualquer foto que insira nele. Ele se apoia no BLIP, um algoritmo chamado capaz de descrever imagens, e no GPT 3.5, que faz a descrição ficar engraçada.

No vídeo de demonstração exibido nas redes sociais, é possível ver exemplos da verve cômica do site: a foto de alguém perto de uma caixa do correio recebe a seguinte legenda da IA: "quando você está esperando chegar aquela compra online".

Já a imagem de alguém em frente a uma TV numa loja é legendada com "uau, a natureza em tela plana é de tirar o fôlego".

Mas afinal, a inteligência artificial é capaz de produzir boa comédia?

A IA já me fez rir várias vezes. Não sei se o MemeCam já é melhor que os memes criados por humanos, mas ele tem pontos fortes que os humanos não têm. Ele produz memes em diversas línguas, e há uma grande chance de ele ficar mais engraçado à medida que a tecnologia avança e os modelos por trás dela melhoram o seu entendimento do imaginário e da linguagem
Andreas Refsgaard