Com raios e trovões: a saga para enviar o maior satélite do mundo ao espaço
Temporal com raios e trovões. Descarga elétrica na nave. Cancelamento no último minuto. Três adiamentos. Acompanhado por Tilt, o lançamento do maior e mais moderno satélite do mundo, o Viasat-3, foi um teste de paciência para os aficionados por missões espaciais e uma saga para a SpaceX, empresa de Elon Musk responsável por levar o equipamento ao espaço.
Primeiro de uma constelação de três satélites artificiais, ele é parte dos planos da empresa Viasat para peitar o ambicioso projeto de Musk, que quer cravejar o espaço com os pequenos satélites da Starlink. A apreensão começou uma semana antes das idas e vindas vistas no complexo 39A do Centro Espacial Kennedy, da Nasa, na Flórida (EUA).
A expectativa de fazer história
A primeira janela de lançamento, período de tempo em que todas as condições estejam favoráveis para a decolagem de um foguete, do Viasat-3 era 18 de abril. Sem maiores informações, o evento foi adiado em uma semana:
Dois dias depois, porém, outro evento histórico estava marcado: a SpaceX lançou de Boca Chica, no Texas, o mais poderoso foguete do mundo, o Super Heavy, com a missão de testar o envio da nave Starship para fora da Terra.
Criada para que a Nasa realize o sonho de voltar à Lua com uma missão tripulada em 2024, essa nave é a esperança de levar seres humanos a Marte pela primeira vez.
Quatro minutos após decolar, o susto: o megafoguete explodiu no ar. Por erros na hora de as partes da nave se desacoplarem e falhas em alguns dos 33 motores, a SpaceX resolveu ativar o sistema de destruição. Ainda assim, a empresa considerou a operação um sucesso, já que o objetivo era coletar dados para melhorar os lançamentos futuros.
Na véspera do lançamento do Viasat-3, uma nova tentativa histórica com sabor de fracasso: a japonesa ispace tentou ser a primeira empresa privada a pousar uma sonda na Lua, mas perdeu contato com a espaçonave. Teve de admitir que a missão foi um fracasso.
Raios e trovões
Foi com esse rastro de insucessos espaciais no retrovisor que Viasat e SpaceX preparam a missão. A partir daí, a saga começou:
1º adiamento: Temendo fortes tempestades na Flórida, a SpaceX não quis arriscar e adiou o lançamento na quarta-feira (26) horas antes do horário marcado.
2º adiamento: O dia seguinte começou bastante ensolarado, o que animou todos os profissionais envolvidos. Com lançamento estava previsto para as 20h29 (horário de Brasília), as empresas seguraram a decolagem até o fim da janela, às 21h24. Quem olhava para o céu, porém, já não guardava esperança alguma. Uma tempestade desabou sobre o Cabo Canaveral. A reportagem de Tilt chegou a receber pelo celular alertas de tornado e orientações para se abrigar. Neste dia, um vídeo flagrou um raio atingindo a torre da plataforma de lançamento do Falcon Heavy, da SpaceX.
3º adiamento: A terceira tentativa contava com um prognóstico positivo. Mais cedo, a SpaceX havia lançado um foguete menor da mesma base espacial. Se o Viasat-3 fosse colocado em órbita, seria uma ocasião rara para as missões espaciais: dois lançamentos em pouco mais de duas horas. No entanto, a decolagem foi cancelada para "revisão de dados" faltando um minuto para a ligação dos motores.
O lançamento do Viasat-3 só ocorreu no domingo (30).
Como é o Viasat-3
O Viasat-3 Américas tem cerca de 6 toneladas e 45 metros de envergadura — o peso de um elefante africano e a largura de dez carros populares enfileirados.
O Viasat-3 Américas tem 16 painéis solares, oito em cada "asa", e é o satélite de telecomunicações mais poderoso a ser lançado no espaço.
Com um custo estimado de US$ 97 milhões, o satélite foi lançado todo dobrado, assim como com o telescópio James Webb.
O aparelho conta com 16 painéis solares e é o satélite de telecomunicações mais poderoso a ser lançado no espaço. Essas células solares são semelhantes às usadas nas missões lunares Apollo e alimentaram mais de mil satélites em todo o mundo.
Com um custo estimado de US$ 97 milhões, o satélite foi lançado dobrado, assim como ocorreu com o telescópio James Webb. Ele só abre em órbita após se soltar do foguete.
O Viasat-3 Américas será o primeiro satélite próprio da empresa e de alta velocidade a operar no Brasil.
Ainda não se sabe quanto da capacidade total será destinada ao país, mas a ViaSat Brasil informou que cerca de 80% da cota nacional será focada no em zonas rurais do Norte e Centro-Oeste, com menor penetração de banda larga.
O plano mais em conta da ViaSat, voltado a clientes residenciais, custa R$ 179 ao mês, com velocidade de download de 10 Mbps e franquia de dados de 25 GB. Com a nova frota, espera-se que a velocidade por usuário ultrapasse 100 Mbps.
Esperamos iniciar a operação comercial dois meses após o lançamento
Leandro Gaunszer, diretor-geral da Viasat Brasil
Por que o ViaSat-3 é tão potente?
O novo satélite possui um refletor feito de polímeros reforçados, com grafite e fibra de carbono, e preso a um longo braço.
Sua antena vai direcionar os sinais do satélite para a Terra e vice-e-versa, possibilitando a conexão de internet entre as estações no solo e os usuários.
Esse será o primeiro de três satélites geoestacionários de banda Ka de ultra-alta capacidade a serem lançados no espaço, segundo a ViaSat Brasil.
O satélite lançado hoje cobrirá as Américas. O segundo está definido para cobrir a Europa, Oriente Médio e África. O terceiro está planejado para cobrir a área Ásia-Pacífico.
Eles oferecerão uma velocidade de 1 Tbps (terabit por segundo) cada, cobrindo todos os continentes e as principais rotas aéreas e marítimas do globo.
Viasat x Starlink
Numa altitude elevada (35.785 km) e uma órbita geoestacionária, o satélite acompanha o movimento da rotação da Terra. Do nosso ponto de vista, ele está sempre no mesmo ponto no céu, como se estivesse "estacionado" em uma vaga no espaço.
Quer dizer que ele está sincronizado com o planeta e demora 24 horas para dar uma volta inteira, se movendo a 3 km/s. Para comparação, os satélite da Starlink orbitam a Terra aproximadamente a cada 90 minutos, dando 16 voltas no planeta por dia e se movendo a 7,7 km/s.
Assim, alguém que usa a banda larga da SpaceX fica alternando entre satélites o tempo todo. Já na conexão da ViaSat, e de concorrentes mais tradicionais como a empresa HughesNet, a internet fica ligada o tempo todo ao mesmo satélite, o que pode significar uma estabilidade maior.
Se o funcionamento ocorrer dentro do previsto, será o primeiro de três satélites geoestacionários de banda Ka que serão lançados pela Viasat.
Com ultra capacidade (oferta de velocidade de 1 Tbps - terabit por segundo - cada) e alta tecnologia embarcada, os três serão capazes de cobrir todos os continentes e as principais rotas aéreas e marítimas do globo. Enfrentarão, assim, a expansão de sua maior competidora: a rede Starlink, da SpaceX, de Elon Musk.
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