'Internet do espaço': o plano da Amazon para enfrentar Musk fora da Terra
A Amazon está decidida a criar a sua própria constelação de satélites artificiais fora da Terra, em uma resposta aos avanços da Starlink, rede que oferece internet banda larga via satélite da SpaceX, de Elon Musk.
Chamado de Projeto Kuiper, tem como promessa a oferta de internet de boa qualidade e com custo mais baixo para pessoas e empresas. Em encontro com jornalistas da imprensa internacional, apenas dois brasileiros, na sede da empresa nos Estados Unidos, pude ver de perto como são as antenas que farão parte dessa rede.
A tecnologia da Amazon e da SpaceX são parecidas: milhares de pequenos satélites funcionando na órbita baixa da Terra (LEO, de Low Earth Orbit), capazes de levar conexão para o mundo todo, até as regiões mais remotas.
O Projeto Kuiper tem o objetivo de enviar 3.236 satélites ao espaço nos próximos anos. A Starlink, em operação desde 2021, já tem mais de 4.000 equipamentos em órbita, quer chegar a 12 mil até 2027 e eventualmente atingir 40 mil.
O plano ambicioso da Amazon
A empresa exibiu três modelos diferentes de antenas — que ainda podem sofrer alterações até o lançamento.
Segundo Naveen Kachroo, chefe de produto e desenvolvimento de negócio da rede Kuiper, a ideia é suprir a necessidade de cada cliente com o menor custo possível.
"Estamos desenvolvendo isso desde 2018", disse Kachroo, que antes de entrar na Amazon trabalhava justamente no projeto da Starlink.
Confira as opções que os clientes poderão comprar:
- Antena padrão: tem 28 cm x 28 cm e pesa cerca de 2 kg. Foi projetada para oferecer conexão de até 400 megabits por segundo (Mbps). Segundo a empresa, o custo de produção é de menos de US$ 400 por unidade.
- Antena menor: uma versão ultracompacta e mais barata, com 18 cm x 18 cm e apenas meio quilo, para quem precisa transportá-la para diferentes lugares ou quer um plano menor de internet: a velocidade será de até 100 Mbps.
- Antena grande: para clientes empresariais e governamentais, o terminal é fixo e parrudo, com 81 cm x 46 cm, para alcançar até 1 gigabit por segundo (Gbps).
Todas tem um design com a superfície plana, feito de algum tipo de plástico branco e brilhoso.
Elas são alimentadas por um chip proprietário da Amazon, batizado de Prometheus, que também estará a bordo dos satélites.
Perguntado por Tilt sobre as novas tecnologias embarcadas no programa, Kachroo disse que inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina (capaz de um sistema aprender sozinho) serão usados para receber feedback do uso — por exemplo, as regiões e horas do dia com mais fluxo de acessos — e assim otimizar a conexão em tempo real.
Os preços das antenas para o consumidor não foram revelados e nem os valores e franquias dos planos para uso de dados da internet via satélite.
Segundo a Amazon, a meta é desenvolver um terminal que custe menos de US$ 500, além de ser menor, mais leve e fácil de operar do que os concorrentes.
Lembrando que um dos entraves para a disseminação da rede Starlink é o alto custo do hardware. Nos EUA, a antena residencial custa US$ 599 (no Brasil, sai por R$ 2 mil com impostos, mais uma mensalidade de R$ 230) e a empresarial US$ 2.500.
Quando a Amazon lançará a rede?
De acordo com a Amazon, ainda este ano serão lançados dois protótipos de satélites ao espaço. "Estes serão apenas para testes. Com eles, teremos conexão apenas alguns minutos por vez", explicou o executivo.
Os primeiros lançamentos comerciais ficarão para 2024, quando devem começar os pilotos de internet para alguns clientes.
Conforme a licença da FCC (Comissão Federal de Comunicação, que regula o setor dos EUA), o prazo para lançar pelo menos 50% da frota é até 2026, e 2029 para 90%.
Kachroo mostrou que haverá satélites da rede Kuiper sobrevoando quase todo o globo terrestre, a cerca de 600 km de altitude. "Nossos satélites verão tudo", disse, se referindo à cobertura.
Ele garantiu ainda que a empresa já tem diversas parcerias para os lançamentos — nenhuma delas é a SpaceX. Os foguetes usados serão:
- New Glenn, da Blue Origin (a empreitada espacial de Jeff Bezos, fundador da Amazon)
- Atlas V, da United Launch Alliance (ULA, uma cooperação entre Lockheed Martin e Boeing)
- Vulcan Centaur, também da ULA, ainda em desenvolvimento
- Ariane 64, da francesa Arianespace
E o lixo espacial gerado pelos lançamentos?
Segundo Kachroo, a Amazon tem preocupação com "segurança e sustentabilidade", principalmente para evitar que satélites caiam na Terra de forma descontrolada ou batam uns nos outros.
Motores em cada um dos equipamentos os permitem fazer manobras para desviar de colisões em órbita e também queimar na atmosfera terrestre quando chegar a hora de "morrer" (um satélite LEO tem vida útil de cerca de 5 anos), similar ao que já acontece na Starlink, explicou o chefe.
Porém, não foram citadas ações para reduzir o lixo espacial, a poluição gerada por tantos lançamentos de foguetes, ou o impacto dessas constelações artificiais em estudos científicos relacionados à astronomia — temas que têm preocupado a comunidade internacional.
Ao ser questionado por Tilt sobre esses temores, Kachroo se limitou a dizer: "estamos fazendo investimentos para nos certificar que não serão problemas."
*A jornalista viajou a convite da Amazon
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.