Topo

"Me senti descartável": os bastidores das demissões em grupo dono do TikTok

Escritório da ByteDance em Xangai - Divulgação/ ByteDance
Escritório da ByteDance em Xangai Imagem: Divulgação/ ByteDance

Simone Machado

Colaboração para Tilt, em São José do Rio Preto (SP)

27/05/2023 04h02Atualizada em 27/05/2023 16h02

Ao ser contratado no Brasil pela ByteDance, empresa chinesa conhecida por ser dona do TikTok, há dois meses, Felipe (nome fictício) sentia-se realizando um dos maiores sonhos da vida profissional: trabalhar num dos maiores conglomerados de tecnologia do mundo. Felipe só não imaginava que passaria por uma demissão e seria desligado da empresa tão rápido.

O profissional, que pediu para não ter o nome real divulgado, é um dos cerca de 60 funcionários que trabalhavam com a divisão da rede social de vídeos Helo no Brasil, um dos produtos da ByteDance, e que terá as atividades encerradas no dia 30 de junho.

"Me senti totalmente descartável. Estava disposto a abrir mão de muitas coisas pela empresa, iria me mudar para ficar mais próximo do escritório porque existia a possibilidade de o trabalho híbrido se tornar presencial. Hoje a minha sensação é de que sou como um copo descartável, que você usa três vezes na festa e joga fora", afirmou Felipe a Tilt.

"Estou há três dias tomando remédio para dormir. Fiz tudo o que podia para entregar o meu melhor e nem tive oportunidade", acrescentou.

O comunicado sobre o fim das operações da plataforma Helo e o impacto nas equipes foram realizados por uma reunião por vídeo, com duração de 10 minutos, na manhã de segunda-feira (22), segundo os funcionários ouvidos pela reportagem. O contato foi realizado por pessoas dos Recursos Humanos na Índia.

"Não nos deram nenhum suporte ou ofereceram programa de benefício devido às demissões, como muitas empresas fizeram. Apenas pediram para que eu esteja presencialmente no dia 30 de junho, em São Paulo, para que eu entregue o computador", relata Felipe.

"É demissão, mas não em massa"

Carolina (nome fictício) saiu do antigo emprego para assumir o cargo de especialista em parcerias com criadores de conteúdo na Bytedance há dois meses.

"Estava num trabalho estável de quatro anos, pedi demissão com a expectativa de trabalhar na maior empresa do segmento. Na entrevista, eles falaram que o Helo era um aplicativo que estava em crescimento e eu acreditei", contou.

Segundo ela, após a reunião, os representantes globais da ByteDance solicitaram que os funcionários evitassem expor a situação e que não se tratava de uma demissão em massa, mas sim do encerramento de um produto com a realocação de alguns funcionários.

Eles disseram que quem não se realocar será demitido. Só que as vagas abertas não são do nosso setor, então não tem como se encaixar. E mesmo se você se encaixar mais ou menos em uma vaga, você precisa fazer todo o processo seletivo novamente. Carolina

Ainda segundo os funcionários, apenas seis cargos foram disponibilizados para serem disputados entre os quase 60 funcionários que atuavam no app Helo.

Futuro incerto

"Estou perdido", disse Mateus (nome fictício).

Trabalhando na equipe de operações desde abril, ele não imaginava que a empresa teria uma demissão de várias pessoas e em tão pouco tempo.

Segundo ele, outros 10 funcionários que começaram na companhia na mesma data que ele também receberam o comunicado do desligamento.

A gente ainda tem um mês, porque a demissão não é imediata. Então já comecei a procurar outra oportunidade, estou mandando currículo e acionando minha rede de contatos. Mateus

Como era o Helo

O Helo é uma rede social que se assemelha ao Facebook e Twitter. Ela é chamada irmã do TikTok por pertencer ao mesmo grupo de tecnologia chinês.

A plataforma foi criada para estimular o compartilhamento de memes, imagens, vídeos e postagens. O app chegou a acumular mais de 50 milhões de downloads nas lojas de aplicativos. Hoje, ele não está mais disponível para ser baixado.

Por aqui, o número de usuários mensais estava longe de ser insignificante, afirmou João (nome fictício). Para ele, existe uma sensação de frustração geral de que nunca houve um lançamento formal da plataforma para imprensa e divulgação da rede social. Estratégias que poderiam ajudar a fortalecer a marca no Brasil.

"Não houve marketing fora de redes sociais, nem esforço de relações públicas para informar a existência do produto ao público brasileiro", disse. "Como concorrente do Twitter, o Helo sequer aproveitou aquela janela de oportunidade de quando o aplicativo Koo viralizou. Isso irritou muita gente [funcionários]."

O que a ByteDance diz

Em nota, a empresa ByteDance confirmou a Tilt o fim das atividades da plataforma e a demissão de funcionários. Porém, não deu detalhes de quantos serão impactados.

Tomamos a difícil decisão de encerrar os serviços do Helo. Gostaríamos de agradecer aos nossos usuários e parceiros pelo apoio e à nossa equipe pelos esforços e trabalho. A partir do dia 30 de junho, o aplicativo deixará de funcionar. Estamos fazendo o possível para prestar assistência aos funcionários afetados ByteDance

A companhia também não detalhou como ficará a questão dos conteúdos já compartilhados pelos usuários no Brasil e nem sobre os dados armazenados.