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ANÁLISE

Dinossauro na sala e voo com balão: como é usar o novo Vision Pro, da Apple

Bruna Souza Cruz

De Tilt, em Cupertino (EUA)*

08/06/2023 04h00Atualizada em 13/06/2023 11h46

Voar perto de balões, contemplar a vista do alto de uma montanha, quase acariciar um dinossauro e ver cenas 3D do filme "Avatar" como se eu estivesse na sala de um cinema. E tudo isso sentada num sofá, movimentando apenas a minha cabeça, mãos e braços. Foi isso que eu vivenciei pessoalmente ao usar em primeira mão o Vision Pro, os novos óculos futuristas da Apple, na sede da empresa em Cupertino (EUA) nesta terça-feira (6).

Capaz de mesclar elementos do mundo físico e digital, o aparelho chegará às lojas só em 2024, mas já é apontado como uma aposta da Apple comparável ao iPhone quando o assunto é entrar em território novo.
O Vision Pro é ao mesmo tempo óculos, computador, headset e fone de ouvido. Essa mistura exige um novo jeito de interagir com a tecnologia:

Gestos: no lugar de exigir que a pessoa segure outros acessórios integrados aos óculos para executar comandos (como modelos atuais da concorrência), a Apple uniu tecnologias que rastreiam os olhos (o aparelho sabe exatamente para onde você está olhando), e os gestos das mãos. Movimentos de pinçar os dedos, segurar e arrastar são usados para tudo.

Áudios: é da estrutura lateral que o Vision Pro emite sons, dispensando os fones de ouvido. Com isso, ao movimentar a cabeça, o som acompanha o processo, de um modo imersivo.

Teletransporte para a mescla dos mundos físico e virtual: ir de um ambiente 100% virtual para um real com elementos digitais é muito fluída dentro do dispositivo. Basta girar a Digital Crown (parecida com a do Apple Watch).

vision - Reprodução - Reprodução
Apple Vision Pro
Imagem: Reprodução

O começo de tudo: escaneando meu rosto

A experiência de demonstração da empresa para convidados começou com um escaneamento do meu rosto e orelhas através da câmera de um iPhone.

Depois de alguns segundos, segui para uma sala para que os graus dos meus óculos fossem registrados e usados para adaptar as lentes do dispositivo - ela pode ser personalizada para cada pessoa através da parceria da Apple com a fabricante alemã de soluções óticas Zeiss. Não será possível usar o Vision Pro em cima de óculos de grau.

Aí a experiência começou. Dentro de uma sala de escritório, sentei num sofá, encaixei os óculos na minha cabeça e ajustei a alça de segurança para o aparelho ficar o mais preso possível e não cair — já pensou quebrar algo tão caro?

De modo geral, achei que o Vision Pro conseguiu dividir bem seu peso. Não tive a sensação de a parte frontal ficar mais pesada do que a de trás. Só que em poucos momentos, ao olhar muito para baixo ou muito para cima, os óculos se movimentaram levemente. Imagino que eu tenha apertado pouco ou o tamanho não tenha ficado tão personalizado para a minha cabeça.

Uso na prática

O Vision Pro funciona com telas microOLED, que trabalham com 23 milhões de pixels em dois monitores, um de cada lado do olho e do tamanho de um selo postal. Foi por meio deles, que vi o seguinte:

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Jogando game da NBA com o Vision Pro
Imagem: Reprodução

Pessoas digitais: durante todo o tempo em que estive imersa, conseguia ver na minha visão periférica o rosto e o corpo de duas pessoas, que estavam presentes na sala - elas assumiam um aspecto levemente digitalizado, como se fossem formadas por pontinhos (os pixels de uma TV).

Ao olhar para os lados, eu ainda conseguia ainda ver as duas pessoas que me acompanhavam na demonstração. A Apple diz que a ideia é essa mesmo. É tornar o uso imersivo, mas sem deixar de lado que existe o ambiente real e físico do mundo real acontecendo ao redor.

Apps flutuantes: A primeira experiência da demonstração foi com uma grade flutuante de aplicativos, posicionada na parte central do lugar.

Era só eu olhar para os aplicativos que eles ficavam em destaques, prontos para serem selecionados. Com gestos de pinçar e puxar com os dedos, a "mágica" acontecia em questão de segundos.

Levei um tempinho para me acostumar com os comandos e acabei abrindo alguns aplicativos sem querer, porque a velocidade entre o comando e a resposta é muito rápida.

Revivendo memórias: Navegando no álbum de fotos do sistema, me senti dentro de um vídeo. Tinha uma fogueira, pessoas conversando em volta e eu ali, vendo e sentindo.

Sentindo a natureza: Quando abri uma foto de um lago, ladeado por rochas, senti que eu estava lá mesmo. A imagem preenchia praticamente todo o meu campo de visão, de cima a baixo, sem interferências de objetos que estavam fisicamente na sala.

Para deixar o ambiente real um pouco mais visível, girei a digital crown e o dispositivo mesclou o ambiente da natureza com as pessoas na sala, a mesa de centro, etc.

Quando uma pessoa falava, a imagem dela ficava em destaque. Se ela ficasse em silêncio, a imagem dela ficava mais apagada na cena.

Receber chamada de vídeo: Quando recebi uma chamada em vídeo ao vivo de uma pessoa que também usava os óculos e estava em outro local, vi o rosto digitalizado dela saltar dentro dos meus óculos. Nessa hora, o som da fala era limpo e de boa qualidade, mas, em alguns momentos, a boca dela se mexia sem sincronia. Parecia filme dublado.

Uma das novidades dos óculos, o tal "áudio espacial" também criou a sensação de o som da fala da pessoa se mover conforme a posição dela na tela da chamada de vídeo. Por exemplo, ao colocar o painel para a esquerda, o som da voz começou a ser reproduzido com maior intensidade na minha lateral esquerda.

Filme 3D sem precisar do cinema: Ao ver, ainda que por alguns segundos, as cenas 3D da última versão do filme "Avatar", a sensação era de fazer parte de Pandora, o mundo fantástico da trama. No cálculos da Apple, o Vision Pro cria a sensação de estar diante de uma tela de cinema de até 30 metros de largura.

Vivência 100% imersiva e com tontura: Estar no modo 100% virtual e ver vídeos com resolução de 180º me fez agarrar o sofá. Foi nesse momento que voei com balões e subi ao topo de uma montanha. Essas duas coisas me deram uma ligeira tontura - imagino que pela imersão, o movimento da cabeça (olhar para cima, para baixo, para os lados) e, claro, a aflição da altura.

Ao movimentar a cabeça, podia ver detalhes e texturas com uma qualidade muito incrível. Um pouco antes, a cantora Alicia Keys surgiu cantando. Era como se ela olhasse no fundo dos meus olhos. Minha reação não poderia ser outra: estendi as mãos para tentar tocá-la.

Imersão no mundo dos dinossauros: Antes do fim, uma borboleta pousou no meu dedo. Eu mexi as mãos, e ela seguiu firme em cima dele até que resolveu ir embora. Segundos depois, um dinossauro se aproximou. Nesse momento, levantei do sofá e caminhei alguns passos até próximo dele.

É útil para quem?

Minutos depois da demonstração, eu só conseguia pensar: "isso é loucura", "isso é loucura". E não só pelo aspecto imersivo. Acontece que a Apple tenta balançar um setor em que ela está bem longe de pioneira, o de realidade virtual.

Contudo, é difícil imaginar que tipo de público compraria e usaria com frequência essa tecnologia -pessoas com dinheiro claramente, já que o preço é de US$ 3.499 (R$ 17,1 mil na conversão direta. E valor - se o produto for para o Brasil - certamente será muito maior).

Até os aparelhos chegarem às prateleiras, veremos uma corrida incessante da Apple para convencer o mundo de que o Vision Pro é uma revolução da computação. Em meio a isso, ela vai ter de ter sucesso onde outros estão derrapando, afinal não é como se a estrada estivesse livre de concorrentes. Meta, com seu Quest 3, Microsoft e o compatível com o videogame PS5 estão na pista e não é como se estivessem vendo suas iniciativas de realidade mista decolar.

*A jornalista viajou a convite da Apple