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Caçador de buraco negro, Euclid será lançado para criar mapa 3D do Universo

Preparo do Euclid na França antes de ser levado ao seu local de lançamento nos EUA - Manuel Pédoussaut/ESA - M. Pédoussaut
Preparo do Euclid na França antes de ser levado ao seu local de lançamento nos EUA Imagem: Manuel Pédoussaut/ESA - M. Pédoussaut

Simone Machado

Colaboração para Tilt*, em São José do Rio Preto (SP)

01/07/2023 04h00Atualizada em 01/07/2023 11h48

Um dos grandes enigmas da ciência é entender como o Universo se formou. Até o momento, calcula-se 95% dele seja formado por energia escura e matéria escura. Neste sábado (1º), o telescópio Euclid, da ESA (Agência Espacial Europeia), será enviado ao espaço exatamente com a missão de desvendar esse mistério.

O observatório espacial vai criar o maior e mais preciso mapa 3D do cosmo e de bilhões de galáxias distantes. A partir dessas informações os pesquisadores esperam ter maior compreensão sobre esses componentes escuros e a relação com expansão do Universo — o Euclid também será um ótimo caçador de buracos negros.

O lançamento ocorrerá a partir das 12h11 (horário de Brasília) em um foguete Falcon 9, da empresa norte-americana SpaceX. O custo da missão gira em torno de 1 bilhão de euros (R$ 5,2 bilhões, na conversão direta).

Seu objetivo principal é estudar com precisão as distâncias de galáxias remotas para procurar descrever melhor o mecanismo de aceleração da expansão do Universo. Por isso os resultados a serem obtidos serão de muita importância
Roberto Dias da Costa, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP

Vizinho do James Webb

Se tudo ocorrer como esperado, o Euclid será vizinho do já famoso telescópio James Webb, que inaugurou uma nova era nos estudos do espaço.

Após o lançamento, o satélite seguirá numa viagem de cerca de um mês por 1,5 milhão de quilômetros até o Ponto de Lagrange 2 — o James Webb levou esse tempo para chegar lá. Trata-se de uma região de estabilidade gravitacional.

Mais de 2 mil cientistas europeus estão envolvidos nesse projeto divididos em 16 países.

Concepção artística do telescópio Euclid, da ESA (Agência Espacial Europeia) - ESA/ATG medialab - ESA/ATG medialab
Concepção artística do telescópio Euclid, da ESA (Agência Espacial Europeia)
Imagem: ESA/ATG medialab

Por que o Euclid importa

O Euclid foi criado para observar e gerar dados de 2 bilhões de galáxias a até 10 bilhões de anos-luz, além de montar mapas tridimensionais ao longo de mais de um terço da abóbada celeste. Isso será inédito.

Seu nome vem de Euclides de Alexandria, grego criador da geometria. Parte de sua missão será coletar informações sobre:

Matéria escura. Funcionaria como a "cola" dentro das galáxias, para mantê-las juntas. Tem ligação com partículas que não emitem, refletem ou absorvem luz — por isso o seu nome. Astrônomos acreditam que ela existe a partir da atração gravitacional que ela exerce sobre as galáxias, resume uma reportagem do site britânico The Guardian.

Energia escura. Teria ação direta na expansão acelerada do Universo a partir de uma força antigravitacional.

Como Euclid trabalhará

O telescópio tem 1,2 m de diâmetro, 4,7 metros de altura e 3,5 de comprimento. Ele usará dois instrumentos científicos em sua missão:

Uma câmera óptica (Vis), desenvolvida pela Universidade College London. Será responsável por gerar as imagens do cosmo.

Espectrômetro e fotômetro de infravermelho próximo (Nisp).

O pesquisador Euclides Lourenço Chuma, membro sênior do Instituto dos Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE), explica que com esse conjunto o telescópio será capaz de medir e criar uma relação de o quanto os objetos no Universo estão se distanciado.

"A partir disso pretende-se descobrir mais sobre a matéria e energia escuras", ressalta o pesquisador, que atua na Universidade de Linköping, na Suécia.

Tanto a matéria escura quanto a energia escura são invisíveis. Suas análises se darão medindo o comportamento de estrelas e galáxias. Do ponto em que estará, o Euclid poderá gerar dados sobre o espaço profundo com o Sol, a Terra e a lua atrás dela, acrescenta outra reportagem do site.

"Desde os anos 1920 sabia-se que o Universo estava em expansão, uma descoberta feita por Edwin Hubble. Mas o fato de que essa expansão está acelerando, quando foi descoberta, causou uma surpresa enorme, afirma o professor Costa.

"A explicação da surpresa é simples: a origem do Universo, chamada popularmente de Big Bang, foi o gatilho da expansão, mas como a gravidade é uma força atrativa, acreditava-se que essa expansão estivesse sendo desacelerada pela atração gravitacional das galáxias. Foi então uma surpresa enorme descobrir que a expansão está acelerando", acrescenta.

Milhões de imagens

Como a matéria escura não pode ser vista a olho nu, o Euclid usará a técnica de lente gravitacional — que em março deste ano resultou na descoberta de um dos maiores buracos negros já vistos. Ela tem a ver com a distorção entre espaço-tempo.

Usando o exemplo de uma galáxia, a partir desse tipo de detecção, é possível coletar dados sobre o desvio da luz que ela emite diante da atração gravitacional, da matéria visível e da matéria escura no caminho dessa luminosidade até a Terra.

"Ao subtrair a matéria visível, podemos 'calcular' a presença da matéria escura", explicou Giuseppe Racca, responsável pela missão Euclid, à AFP. "Observando esse fio de deformações na história do Universo, vamos entender como a energia escura se comporta", acrescentou David Elbaz, colaborador do projeto.

O trabalho do projeto Euclid deve durar no mínimo até 2029. A expectativa é coletar informações de como o Universo se expandiu nos últimos 10 bilhões de anos.

Como acompanhar o lançamento

A ESA irá realizar a transmissão ao vivo do lançamento em seu canal no YouTube.

Caso o lançamento não ocorra no dia 1ª, a agência espacial tem o plano de adiar o processo para domingo (2).

*Com informações da agência de notícias AFP e The Guardian