Repelente ultrassônico funciona ou faz mosquito picar mais? A gente explica
A ideia por trás dos repelentes ultrassônicos parece ótima e sustentável: um aparelho que emite ondas sonoras capazes de afugentar insetos sem a necessidade de inseticidas, sem gerar odores e sem incomodar as pessoas. Mas a ciência diz que não só isso não acontece, como pode piorar a situação.
A ciência diz o contrário
Apesar de esses aparelhos serem vendidos com o argumento de que seu funcionamento se apoia em estudos científicos, é justamente a partir da ciência que podemos colocar em xeque a sua eficácia.
"Já tive acesso a estudos sobre o efeito desses repelentes em mosquitos, formigas e baratas, alguns feitos no Brasil, inclusive, com o teste de aparelhos de diversas marcas comercializadas. A conclusão, de maneira geral, é que esses repelentes não funcionam nesses insetos", explica a física biomolecular Natasha Mezzacappo, que já realizou pesquisas com larvas do mosquito da dengue, o Aedes aegypti.
"Em tese os mosquitos seriam repelidos por sons que imitam predadores, como morcegos e libélulas, ou pelo som das asas dos mosquitos machos, pois, após o acasalamento, as fêmeas se afastariam desse tipo de som", diz.
A bióloga explica que alguns insetos até conseguem detectar ondas sonoras em determinadas frequências, que não são as usadas por esses aparelhos, o que faz com que eles sejam inúteis. Também não ajuda em nada o fato de eles serem bem generalistas —algo problemático considerando a grande diversidade de espécies de insetos existentes.
No caso dos mosquitos, a situação é ainda pior. "Há pesquisas com mais de um século que mostram que, quando falamos de mosquitos, o único som percebido por eles é o bater das asas da fêmea. E isso, na verdade, é um chamado de acasalamento", diz Isaías Cabrini, pesquisador do Instituto de Biologia da Unicamp.
Cabrini possui uma tese de mestrado, apresentada em 2005, na Unicamp que estuda aparelhos para afastar mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus (outro vetor do vírus da dengue). Além de mostrar a ineficácia deles, o estudo apontou que, com os repelentes ligados, ambas as espécies de mosquitos acabavam tentando picar mais do que quando estavam desligados — como é possível ver na página 52 do estudo em questão.
A ausência de certificação atestando a sua eficiência em entidades como o Inmetro também joga contra esses repelentes. Uma busca dentre os aparelhos certificados até mostra como resultado um desses repelentes.
Procurado por Tilt, a assessoria de imprensa da entidade afirmou que a certificação aponta que o produto está contemplado pela portaria 371 do Inmetro, que é compulsória e atesta que ele atende aos requisitos mínimos de segurança elétrica. Não se trata, portanto, de um certificado em relação à eficiência do produto.
Inimigo dos pets
Flávia Virgínio, doutora em Ciências e que atua como pesquisadora científica e curadora da Coleção Entomológica do Instituto Butantan, aponta outro problema que esses aparelhos podem provocar.
"Esses repelentes supostamente emitem um som acima de 20 kHz, acima do limite audível pelas pessoas. Não é o que ocorre, por exemplo, com animais de estimação, como cães e gatos, que são sensíveis a um espectro sonoro mais amplo do que os humanos. Esses aparelhos, portanto, podem incomodá-los e estressá-los", diz.
De qualquer maneira, há um consenso entre os especialistas: os meios mais tradicionais ainda surgem como os mais eficazes na hora de evitar os mosquitos. "Pensando em proteção coletiva, é o que todos já sabem: evitar ao máximo o acúmulo de água parada, seja limpa ou suja. Além disso, as pessoas podem adicionar telas nas janelas e portas. Usar roupas claras e longas também ajuda a evitar a atração dos mosquitos", diz Virgínio.
Quem não curte usar aerossóis também pode lançar mão dos inseticidas elétricos, que agem como difusores e são alimentados por líquido ou pastilhas. A questão é que esses aparelhos podem não ser tão eficientes. "Quando ligados, eles atordoam os mosquitos. Em alguns casos, os insetos de fato morrem. Há situações, porém, que eles voltam à ativa após o aparelho ser desligado", diz Cabrini.
O pesquisador complementa afirmando que o meio mais eficiente para afastar os mosquitos ainda é o uso de repelentes tópicos. "Especialmente os que têm em sua fórmula Dietiltoluamida e Icaridina. Esses realmente funcionam", conclui.
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