Após casos de abuso, Discord vai permitir que pais 'monitorem' filhos
Talvez você só tenha ouvido falar do Discord por causa de reportagens jornalísticas sobre os casos de abuso e violência contra crianças online. Inicialmente uma plataforma para conversa entre gamers, a empresa quer resolver a situação com uma solução simples: levar os pais para a rede e permitir que eles saibam o que seus filhos fazem por lá.
Isso será feito pelo Family Center (Central da Família), que começa a ser liberado nesta terça-feira (11) para usuários do Discord, que já conta com 150 milhões de membros em todo mundo. Não chega a ser um "espião do bate-papo" das crianças, mas um recurso que dá alguma ideia aos responsáveis sobre com quem elas estão interagindo, além de dar aos responsáveis uma visão de como o app funciona.
A razão por que queremos pais na plataforma é porque eles não entendem o Discord, e isso torna difícil ter conversas boas com seus filhos sobre segurança. Savannah Badalich, diretora sênior de políticas do Discord, em conversa com Tilt
App de conversa por texto, áudio e vídeo, o Discord tem servidores particulares sobre temas diversos. Eles são abertos ou fechados. Nesse último caso, são acessíveis apenas por convite.
Dentro dos servidores, há canais — sinalizados por hashtags (sinal de jogo da velha) — para discussão de assuntos relacionados ao tema. A rede também permite interação individual entre as pessoas. No país, grupos de estudo e de discussão sobre o Minecraft são particularmente populares, segundo a companhia.
Atualmente, o Brasil é top 5 em número de usuários no Discord, mas a empresa não informa o número de menores de idade na plataforma. Um dos motivos da criação da Central da Família, porém, é justamente a grande presença desse público no site.
Criamos [a Central da Família] porque há mais adolescentes e jovens na plataforma e nós temos a responsabilidade de mantê-los seguros. Sabemos que pais e responsáveis são parte do processo. Savannah Badalich
Como funciona a Central da Família
Ao atualizar o aplicativo do Discord, o recurso Central da Família aparecerá.
O filho gerará um QR code na Central da Família, que deverá ser escaneado pelo app do responsável, também tocando na Central da Família
Com a conexão de contas, o responsável receberá informações como:
- amigos adicionados recentemente;
- servidores em que entrou ou de que participou e;
- usuários para quem enviou mensagem ou ligou em bate-papos diretos ou em grupo.
Os pais não terão acesso, porém, ao conteúdo das conversas dos filhos.
Além disso, uma vez na semana o app gerará um relatório com informações de atividade da criança e enviará ao e-mail do responsável.
Na conversa com Tilt, a executiva do Discord explicou que a Central da Família é uma tentativa de replicar a experiência entre pais e filhos fora da internet.
Digamos que um adolescente diz que vai à casa de alguém. Os pais não estarão lá junto com eles na conversa, mas sabem onde estão e com quem. Não queremos que as crianças pensem que há uma intromissão dos pais, até para incentivá-las a usar o recurso Savannah Badalich, diretora sênior de políticas do Discord
Por outro lado, a ideia por trás da função é dar visibilidade às atividades das crianças e fazer com que isso gere conversa entre pais e filhos, diz a executiva.
"Se um adolescente tiver algum problema, eles [os responsáveis] entenderão o contexto do Discord e poderá ajudá-los a reportar e enviar as informações necessárias", explica.
Por que importa?
O Discord foi alvo recente de reportagens no programa Fantástico, da TV Globo, em que a rede foi retratada como um espaço em que criminosos cometiam abusos virtuais contra adolescentes.
Abusadores chantageavam garotas, cometiam abusos sexuais e exigiam que elas se automutilassem em chamadas de vídeo. Os suspeitos foram presos pela polícia nas últimas semanas.
Questionada sobre a reportagem, a executiva diz que a rede tem uma política de "tolerância zero" contra esse tipo de conteúdo. E, assim que souberam dos problemas, tomou as devidas medidas. Além disso, informou que a rede social tem trabalhado junto de autoridades brasileiras, como o Ministério da Justiça, para remover conteúdos ilegais.
Atualmente, o Discord não tem um funcionário no Brasil. No entanto, a companhia diz que conta com um representante legal, a Licks Attorney.
Segundo a empresa, 99,9% das comunidades no Brasil nunca violaram as políticas de uso do Discord e que remove proativamente ameaças à segurança infantil.
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