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ANÁLISE

Do sucesso 'fake' a Musk bravo: qual a ambição de Zuckerberg com o Threads?

Dado Ruvic/Reuters
Imagem: Dado Ruvic/Reuters

De Tilt, em São Paulo

13/07/2023 04h00Atualizada em 14/07/2023 11h16

Se alguém duvidava do poder de fogo da Meta, isso deve ter caído por terra nos últimos tempos. Mesmo sendo dona das principais redes sociais do mundo (Facebook, Instagram e WhatsApp), a empresa apresentou o Threads, um clone do Twitter, que faz parte de um plano ambicioso do conglomerado de redes sociais.

Com o lançamento da rede, Mark Zuckerberg teve um protagonismo que não exercia há muito tempo, dando um golpe duplo ao lançar uma nova rede social:

-Ameaçou a soberania do Twitter com um app muito parecido, e que já soma mais de 100 milhões de usuários em cinco dias — a título de comparação estima-se que o Twitter tenha 450 milhões

-Fez com que Mark Zuckerberg, CEO da Meta, saísse da casinha e passasse a tirar um barato de Elon Musk, dono do Twitter. O criador do Facebook fez questão de postar no Twitter, após mais de uma década de silêncio na rede, o meme do Homem-Aranha (tuíte abaixo) — na imagem, um Homem-Aranha aponta para outro Homem-Aranha; é uma menção dizendo que o Threads é muito parecido com o Twitter.

Musk sentiu tanto o golpe que ele chegou a chamar Zuckerberg de corno no Twitter e propôs um campeonato para saber quem tem o maior pênis entre eles. Sem contar que há uma conversa para uma possível luta numa jaula entre os dois.

Rede descentralizada: que diabos é isso?

Sobre o Threads, mais que uma tentativa de superar o Twitter (que tem mudado de tempos em tempos regras e cobrando acesso de recursos previamente gratuitos), a rede faz parte de um projeto ambicioso até então novo em redes sociais de massa: a descentralização.

Ainda que tenha ficado em segundo plano no lançamento, o Threads é compatível com um padrão chamado ActivityPub. Dessa forma, é possível transferir seu conteúdo para outro serviço ou até acessar e interagir com pessoas de outras redes compatíveis. Até então, a Meta permitia apenas interação com suas plataformas.

Por enquanto não há muitas redes com este padrão, a mais famosa até o momento é o Mastodon, que também lembra o Twitter.

Mas a ideia, quando a Meta liberar o recurso no Threads, é que membros da rede possam ver servidores do Mastodon e interagir com pessoas de lá; e o contrário também será possível: usuários da plataforma poderão conversar e ver postagens de pessoas no Threads.

A comunicação será feita usando a estrutura "@nomedousuário@threads.net". No caso do Mastodon, o endereço para menção é "@nomedousuario@mastodon.social".

Isso é sem precedentes para a Meta, pois está "perdendo" um pouco o controle das coisas para tentar ser a escolha de uma próxima geração de redes sociais que conversam entre si.

Threads: milhões de usuários significa sucesso?

Ainda é cedo para dizer se o Threads vai ser um sucesso. Ainda que tenha atingido números recordes (100 mi de usuários em 5 dias), há o questionamento se o que está acontecendo com a rede não foi o mesmo que rolou com a Microsoft no passado.

A gigante da tecnologia tinha o Internet Explorer, o navegador de internet mais usado do mundo. Mas ele era bom mesmo ou era por que vinha embarcado no sistema operacional mais usado à época? A Microsoft foi alvo de uma ação por práticas monopolistas nos EUA no início da década de 2010 por causa disso. Posteriormente, a empresa tomou ações para "reduzir" sua influência.

No caso da Meta, o número deve ser visto de forma crítica, levando em consideração o contexto. O Threads conseguiu esses números astronômicos por ser uma opção muito melhor ao Twitter ou por que é uma obrigação ter uma conta no Instagram, que tem 2 bilhões de usuários ativos, para entrar?

Threads claramente se beneficia do efeito de rede das pessoas do Instagram e também do fator novidade, mas ainda levará um tempo para sabermos se será um sucesso ou não.

Com tudo isso, a Meta, que estava um pouco fora do radar, volta a ter protagonismo. Após polêmicas de privacidade (da Cambridge Analytica aos Facebook Papers) e a mudança de nome para dizer que estavam focados no metaverso (algo que a empresa parece que vai deixar para um segundo momento), a companhia, líder no ramo, parece que não quer só ser gigante (como já é), mas também ser cool.