'Assustador': golpista invade Instagram de mulher e posta deepfake dela
O deepfake, técnica cria imagens falsas e realistas de rostos com IA (Inteligência Artificial), ganhou ainda mais notoriedade no Brasil por ser a mágica que fez Elis Regina, morta há 41 anos, contracenar com sua filha Maria Rita. Mas agora é usado por golpistas nas redes sociais.
Foi o que aconteceu com a designer de arte Juliana Brichesi, de 46 anos. Ela teve o Instagram hackeado por um golpista na terça-feira (19) após gravar um vídeo agradecendo por ter ganhado um sorteio promovido por um restaurante de São Paulo. O problema é que o prêmio nunca existiu, pois o estabelecimento também teve a conta invadida. As imagens foram adulteradas e postadas no perfil dela para promover golpes financeiros.
Recebi mensagem no direct dizendo que eu ganhei um jantar com direito a acompanhante, bastando apenas enviar um vídeo agradecendo. A origem do vídeo é real, mas, a partir disso, eu já não tive mais acesso à conta e comecei a ser bombardeada com mensagens de amigos. Foi assim que matei a charada de que havia sido hackeada. Juliana Brichesi
A designer diz que o golpista adulterou o vídeo de agradecimento ao restaurante. Assim, ela passou a falar que ganhou R$ 10 mil após ter aplicado R$ 1 mil.
Usaram a minha imagem para parecer real e foi muito assustador. Juliana Brichesi
Para incrementar o golpe, o criminoso marcou nos stories de Juliana o perfil "@biel_investimentospix", que conta com mais de 9 mil seguidores no Instagram — o perfil possui fotos aparentemente roubadas de um perfil especializado em investimento. A conta promete retornos de até 1.000% em investimentos via pix, mas não informa como isso acontece. Apenas publica diálogos de supostos ganhadores e falsos extratos bancários.
Tilt entrou em contato com o dono do perfil, que não se mostrou preocupado com as acusações.
Te devo satisfação de alguma coisa, por acaso? Não estou nem ligando. golpista
Golpista fez babá perder R$ 1 mil
Depois de ter o vídeo publicado, o golpista também entrou em contato com amigos de Juliana pela rede social para oferecer o falso investimento. Uma ex-babá do filho da designer chegou a depositar R$ 1 mil e não teve o retorno. Amigos fazem uma vaquinha virtual para devolver o dinheiro da vítima.
"Já avisei todo mundo, hoje acabou o horário dos stories, mas permaneceu durante as 24 horas", lamentou a designer.
Ela precisou pagar R$ 200 a uma empresa especializada em recuperação de contas para iniciar o processo de contestação do seu perfil. "Foi absolutamente inexistente o suporte do Instagram. Fiquei perdida e não consegui recuperar a conta sozinha."
É uma conta pessoal, mas o sentimento é de invasão de privacidade. Abriram minha conta, que era restrita a amigos, trocaram meus dados de email e telefone cadastrados nela, e tive até foto do meu namorado usado nos reels. Juliana Brichesi
Em nota a Tilt, o Instagram informou que "possui recursos como Autenticação de Dois Fatores e Solicitações de Login, que, quando acionados, ajudam a manter as contas seguras, além de caminhos disponíveis na Central de Ajuda do Instagram para auxiliar na recuperação da conta em caso de invasão".
"Recomendamos que as pessoas façam uso das ferramentas de segurança disponíveis e denunciem publicações e contas que considerarem suspeitas. Manter nossa comunidade segura é uma das nossas prioridades e uma área em que buscamos melhorar constantemente", completou a plataforma.
O que fazer ao ser vítima
Alexander Coelho, advogado especializado em direito digital e proteção de dados, orienta que a vítima desse golpe deve tomar algumas medidas imediatas para tentar recuperar o controle de sua conta e mitigar os danos.
- Informar o Instagram sobre o ocorrido por meio do suporte técnico da plataforma.
- Alterar senha, caso seja possível acessar a conta
- Verificar quais dispositivos ou IPs estão conectados à conta e desconectar qualquer sessão suspeita.
- Postar uma mensagem pública nos stories ou no feed de outra plataforma informando sobre o golpe.
"A responsabilidade recai principalmente sobre o golpista ou hackers que executaram a ação criminosa. O Instagram possui mecanismos de segurança para proteger as contas, mas a segurança das credenciais de login é principalmente responsabilidade do usuário", comentou Coelho, sócio do escritório Godke Advogados.
O advogado diz que o golpista pode responder por:
- Acesso ilegal a dispositivo ou sistema informático
- Furto de identidade digital
- Fraude e estelionato
- Violação de direitos autorais e imagem (em caso de deepfake ou uso de imagem sem autorização)
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