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Vermes de 46 mil anos descongelam, 'ressuscitam' e começam a se reproduzir

Reanimação de verme microscópico revela que existem seres vivos capazes de permanecer em estado de dormência por mais tempo do que previa - AFP
Reanimação de verme microscópico revela que existem seres vivos capazes de permanecer em estado de dormência por mais tempo do que previa Imagem: AFP

Simone Machado

Colaboração para Tilt, em São José do Rio Preto (SP)

31/07/2023 15h35Atualizada em 31/07/2023 17h30

Vermes pré-históricos de 46 mil anos foram "ressuscitados" após descongelamento do ambiente em que estavam. Cientistas se surpreenderam com a velocidade com que eles começaram a se reproduzir.

Os "zumbis" em questão são nematoides, um tipo de verme microscópico com o corpo em formato cilíndrico e que geralmente vivem dentro de um hospedeiro. Eles estavam congelados em uma camada de solo da Sibéria conhecida como permafrost, por permanecer congelada o ano todo.

Segundo o site Futurism, a descoberta aconteceu depois que os cientistas coletaram uma amostra desse solo. Eles perceberam que os vermes presentes nele começaram se locomover e a se reproduzir depois do descongelamento.

Os nematoides pertencem a uma espécie que ainda não havia sido descrita: chamada Panagrolaimus kolymaensis.

O retorno dos vermes foi registrado em 2018. Mas somente agora, cinco anos depois, o estudo foi concluído e publicado.

"Você só precisa colocar os vermes em condições favoráveis, em uma placa de cultura (ágar) com algumas bactérias, um pouco de umidade e temperatura ambiente. Eles simplesmente começam a rastejar. Eles também começam a se reproduzir", afirmou Philipp Schiffer, biólogo da Universidade de Colônia e coautor do estudo em entrevista ao Futurism.

Essa espécie de nematoides, segundo os pesquisadores, é assexuada, o que faz com que eles não precisem encontrar machos para produzir ovos e se desenvolver.

Parando o próprio metabolismo

Segundo os pesquisadores, com esse estudo foi possível descobrir que essa espécie de verme pode "parar" o próprio metabolismo para entrar em um estado chamado "criptobiose", permitindo que ele sobreviva por dezenas de milhares de anos.

Anteriormente, os cientistas tinham evidências de que os vermes poderiam permanecer nesse estado por até quatro décadas - bem abaixo dos 46 mil anos dos nematoides.

Ainda conforme o estudo, uma leve desidratação desses seres vivos antes do congelamento melhorou a preparação deles para entrar em criptobiose, além de aumentar a sobrevivência deles a uma tempera de 80 graus Celsius negativos.

"Nossas descobertas indicam que, ao se adaptar para sobreviver [em um] estado criptobiótico por curtos períodos em ambientes como esse solo da Sibéria, algumas espécies de nematoides ganharam o potencial de vermes individuais permanecerem no estado por períodos geológicos", diz o artigo.

Ajudando no envelhecimento humano

Embora trazer esses vermes novamente para o nosso mundo possa lembrar ações científicas retratadas no filme "Jurassic World" (Parque dos Dinossauros, em português) - e deixar alguns com receio diante da ameaça com o retorno dos animais -, os pesquisadores garantem que a descoberta pode ajudar nós, seres humanos.

Os cientistas afirmam que o estudo pode contribuir com o desenvolvimento de terapias combinadas para ajudar a retardar o processo de envelhecimento em humanos.

Impacto das mudanças climáticas

Contudo, ainda se sabe pouco sobre o impacto que esses organismos teriam na saúde humana e de animais.

Com o aquecimento global, áreas cobertas por gelo podem descongelar, fazendo com que vermes como esse ressurjam.

"Essa descoberta tem implicações para nossa compreensão dos processos evolutivos, já que os períodos de geração podem ser estendidos de dias a milênios, e a sobrevivência a longo prazo de indivíduos de espécies pode levar à refundação de linhagens extintas", explicam os autores.

A pesquisa que descreve a descoberta foi publicada na revista PLOS Genetics e teve a participação de pesquisadores do Instituto de Zoologia da Universidade de Colônia, do Instituto Max Planck de Biologia Celular e Genética Molecular (MPI-CBG) em Dresden e do Centro de Biologia de Sistemas de Dresden (CSBD).

*Com informações do site Insider