Por que livro de Natália Pasternak está causando revolta de psicanalistas?
O livro "Que bobagem!: pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério", da microbiologista Natália Pasternak e do jornalista Carlos Orsi, deu o que falar. Desde que foi lançado, em julho, tem provocado repúdio de entidades médicas e psicanalistas.
Pasternak é professora pesquisadora da Universidade de Columbia e presidente do IQC (Instituto Questão de Ciência). Ela ganhou notoriedade durante a pandemia, quando participou da CPI da Covid e defendeu o uso de máscaras e distanciamento social. Orsi é formado pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo), escritor e fundador do IQC.
O UOL apresenta a seguir alguns argumentos que são defendidos pelos autores e outros pontos que são questionados pelos críticos à obra.
O que dizem os autores no livro?
Eles analisaram 12 práticas populares no Brasil, entre elas a psicanálise, a homeopatia, a astrologia e a acupuntura.
Os autores defendem que essas terapias não funcionariam melhor do que os placebos —tratamentos que não apresentam interação com o organismo e não têm capacidade de produzir efeito fisiológico, mas, que, ainda assim, produzem eficácia e melhoram sintomas.
"A homeopatia foi testada exaustivamente e falhou miseravelmente em todo teste bem conduzido, sem mostrar um efeito maior do que o placebo", disse Pasternak, em entrevista à Agência Estado.
Algumas práticas, como a homeopatia e a medicina tradicional chinesa, podem causar danos ao "mascarar sintomas, atrasar diagnósticos e afastar pessoas de tratamentos que realmente funcionam", segundo ela.
Já a psicanálise não seria aceita como prática científica, porque não possui, de acordo com eles, comprovação dentro do método científico de que funciona.
O título também aborda que nomes como de Sigmund Freud, considerado pai da psicanálise, apresentariam um histórico de fraudes e de conduta antiética.
Por conta disso, as pessoas podem adotar uma postura mais pessoal e quase religiosa em relação a essas práticas, que podem ser consideradas como "pseudociências de estimação".
Em artigo publicado no UOL, os autores dizem que a psicanálise não é uma "vaca sagrada", isenta de críticas. "É de conhecimento público a reação intensa da comunidade psicanalítica, que no Brasil, especialmente, não está acostumada a ser questionada - nem mesmo dentro da academia".
Pasternak e Orsi afirmam que não pretendem indicar como as pessoas devem cuidar de sua saúde, mas que teriam a obrigação de fazer a "informação correta" circular.
Quais são as críticas de entidades médicas e psicanalistas?
A Febrapsi (Federação Brasileira de Psicanálise) disse, em carta, que a crítica é "despropositada" e que psicanalistas ensinam e pesquisam há décadas em instituições brasileiras, como USP e Unicamp, e internacionais, como a Universidade de Columbia, à qual Pasternak é ligada.
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Quero receberSobre as críticas à falta de estudos clínicos randomizados, a Febrapsi recomenda fontes como a bibliografia da disciplina de pós-graduação "Ensaios Clínicos Randomizados e Estudos Neurocientíficos na Produção de Evidências em Psicanálise", do Instituto de Psicologia da USP.
Já o psicanalista Christian Dunker, em sua coluna em Tilt, examinou trechos do livro (partes 1, 2 e 3). Em resposta à afirmação de que a psicologia científica cobra evidências científicas mais robustas sobre a eficácia da psicanálise, ele indica a referência que traz centenas de estudos controlados sobre a eficiência do método.
"Em vez de trazer o dissenso científico, as hipóteses concorrentes e a controvérsia que move o debate científico, apresenta-se apenas uma versão das evidências", diz o psicanalista. Ele afirma que os estudos foram enviados aos autores e ignorado — segundo a assessoria de Pasternak, nem ela e nem Orsi foram procurados ou tiveram contato com Dunker "antes, durante ou depois da publicação do livro. Ambos tampouco conhecem o psicanalista, de modo que não faz sentido falar em 'envio' de estudos."
Segundo Dunker, o capítulo do livro sobre psicanálise apresenta um "conjunto de erros, inconsequências, exageros e imperícias que nenhum cientista é capaz de aceitar".
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Pará repudiou as declarações de Pasternak em relação à homeopatia, afirmando que a prática é reconhecida pela Comissão Mista de Especialidades Médicas e normatizada em resoluções do CFM (Conselho Federal de Medicina).
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás também manifestou repúdio a afirmações de Natália sobre a acupuntura e a homeopatia. "Ao afirmar que essas práticas não possuem fundamento científico, a bióloga demonstra flagrante ignorância em relação à vasta literatura que comprova a eficácia e segurança dessas abordagens terapêuticas."
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