Nova corrida espacial: por que o mundo quer chegar no polo Sul da Lua?
Depois de mais de 50 anos, a Lua voltou a ser o centro das atenções da exploração espacial. Quatro países estão em uma verdadeira corrida para pousar nela: Estados Unidos, China, Rússia e Índia.
O objetivo do momento é chegar ao polo Sul do satélite terrestre. Nenhum ser humano, ou sequer uma missão robótica, já esteve lá — mas isso pode mudar em breve.
Esta região da Lua tem um visual bem diferente daquele que conhecemos nas fotos das missões Apollo, que aconteceram em regiões mais equatoriais. Nas extremidades, como o Sol aparece bem próximo ao horizonte, a paisagem é escura, com sombras longas. E o terreno é mais acidentado, com muitas crateras e depressões.
O que faz dele tão especial?
As potências mundiais têm interesses econômicos, científicos e/ou estratégicos na Lua. Nos polos, principalmente o Sul, pode haver importantes recursos escondidos.
In the darkest and coldest parts of the Moon's poles, ice deposits have been found. At the southern pole, most of the ice is concentrated at lunar craters, while the northern pole's ice is more widely, but sparsely spread. More on this @NASAMoon discovery: https://t.co/kvjPbMrEWK pic.twitter.com/ZkVFyKrOB6
-- NASA (@NASA) August 20, 2018
Além de minerais raros de se encontrar na Terra, acredita-se que as regiões permanentemente frias e escuras guardem água congelada. E água é mais valiosa do que ouro no espaço.
Com um suprimento local de H2O, seria possível viabilizar uma presença humana sustentável fora da Terra: dá para beber, extrair oxigênio para respirar e até fazer combustível para foguetes, que aí poderão chegar mais longe — especialmente a Marte, que é nossa próxima parada.
A Lua seria uma escola (e uma escala) para aprendermos a viver em outros pontos do Sistema Solar.
Quem vai chegar primeiro?
Pousar na Lua continua sendo um desafio, ainda mais em um novo local. Israel e Japão, por exemplo, falharam recentemente.
Índia e a Rússia tinham as melhores chances. Ambos os países possuíam naves não tripuladas na órbita lunar, que tentariam um pouso no polo Sul nos próximos dias. A missão russa, porém, se espatifou contra a superfície da Lua no sábado (19).
Agora, as expectativas estão com a Índia. Mas, mesmo se ela for bem-sucedida, não significa que será a "vencedora".
A ideia agora não é apenas chegar primeiro, como na corrida espacial entre EUA e União Soviética durante a Guerra Fria. Novas missões têm um objetivo mais ambicioso: estabelecer uma presença humana constante na órbita e na superfície da Lua durante as próximas décadas.
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Quero receberO ser humano pisou pela última vez na Lua em 1972, na missão Apollo 17, a última do icônico programa. A Nasa quer que isso se repita em 2025.
Rússia - Luna-25
A missão russa Luna-25, lançada no último dia 10, tentaria pousar na cratera Boguslawsky nesta semana. Mas teve uma falha catastrófica durante as manobras de preparação para a descida.
Era um lander, ou seja, uma estrutura fixa para coletar dados científicos da superfície da Lua, que carregava oito instrumentos, incluindo um escavador de regolito (rochas, poeira) lunar e um detector de gelo.
Assim, a Rússia tentava se reinserir na corrida espacial moderna, após um programa com muitos sucessos na era soviética, e em um novo momento de isolamento internacional, devido à guerra na Ucrânia.
A última vez que o país esteve na Lua foi em 1976, quando a Luna-24 recolheu amostras de solo lunar e as trouxe à Terra.
Índia - Chandrayaan-3
A Índia lançou a Chandrayaan-3 no dia 14 de julho e está se preparando para uma tentativa de pouso nesta quarta-feira (23).
Ela é composta pelo lander Vikram e o rover Pragyan — um robô sobre rodas para explorar a superfície lunar. A missão tem apoio da Nasa e da ESA, a agência espacial europeia.
Esta será a segunda empreitada do país para pousar na Lua. Em 2019, a missão Chandrayaan-2 foi perdida mais ou menos como acaba de acontecer com os russos, caindo descontroladamente na superfície do satélite terrestre.
Caso tenha sucesso desta vez, a Índia se juntará aos EUA, Rússia e China no rol de nações que já pousaram na Lua.
Estados Unidos - programa Artemis
No ano passado, a Nasa começou a preparar seu retorno, com a missão Artemis 1. A cápsula Orion deu uma volta na Lua e retornou, para testar seus sistemas.
Foi super bem sucedido e, no ano que vem, a viagem será repetida com quatro pessoas a bordo — mas ainda sem um pouso, na Artemis 2.
Em 2025 ou 2026, a missão Artemis 3 pretende enfim pousar com astronautas no polo Sul da Lua, usando a nave Starship da SpaceX. Ela deve incluir a primeira mulher e/ou o primeiro negro a pisar na Lua — até hoje, 12 pessoas estiveram em nosso satélite, todos homens brancos da Nasa.
Depois disso, o objetivo é construir uma estação espacial na órbita da Lua e uma base em sua superfície.
China - Chang'e
Além dos EUA, apenas a China já planeja uma missão lunar com tripulantes, para a década de 2030.
E o país tem experiência: neste século, foi o único que pousou no satélite terrestre com sucesso, três vezes, nas missões robóticas Chang'e 3, 4 (foi ao lado oculto da Lua) e 5 (trouxe amostras de rochas para a Terra). A Chang'e 6 deve acontecer em 2024.
O programa espacial chinês, apesar de recente, tem recebido grandes investimentos. O objetivo é construir uma base próximo ao polo Sul, chamada International Lunar Research Station (ILRS), possivelmente em parceria com a Rússia.
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