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É planeta ou não? Há 17 anos, Plutão foi rebaixado a ‘anão’; entenda

Plutão já foi planeta; hoje é considerado um planeta-anão após discussão de especialistas do IAU (União Astronômica Internacional) Imagem: Nasa

De Tilt*, em São Paulo

26/08/2023 04h01

Foram meses de debates que resultaram na decisão, o que faria com que livros fossem reescritos e as pessoas tivessem que "reaprender" o que foi dito no tempo de escola.

Com a decisão, declarou o pesquisador Mike Brown à época, que "há, oficialmente, oito planetas no Sistema Solar" e que "Plutão não é um planeta".

Ao todo, participaram do processo de votação 424 astrônomos internacionais - a maior parte deles acredita que o "rebaixamento" foi uma vitória da ciência. Alguns, no entanto, eram a favor de manter Plutão como planeta.

"Estou com vergonha da astronomia. Menos de 5% dos astrônomos do mundo votaram. Essa definição 'fede', por razões técnicas", disse Alan Stern, líder da missão New Horizons, da Nasa, à época.

O que define um planeta?

A decisão não foi um ataque à Plutão em específico. O que rolou, na verdade, foi uma redefinição de planeta, de modo que não houvesse uma avalanche de novos planetas com o avanço da exploração espacial.

São três categorias:

  • planetas (os oito grandes mundos, de Mercúrio a Netuno - o que também inclui a Terra)
  • planetas-anões (objetos esféricos, exceto satélites, que não tenha "limpado" a vizinhança ao seu redor)
  • pequenos corpos (todos os outros em torno do Sol)

Assim, pela definição atualizada, um planeta precisa:

  • orbitar o Sol
  • não ser um satélite de outro planeta
  • ser grande o suficiente para gravidade o tornar esférico
  • ser dominante em sua órbita e não compartilhá-la com outro objeto

O "rebaixamento" de Plutão não ocorreu apenas por seu tamanho, mas por não ser capaz de "limpar sua órbita": ao redor dele há vários objetos.

Isso acontece porque sua gravidade não é forte o suficiente para atraí-los, como ocorre com planetas tradicionais. E, embora cumpra os três primeiros requisitos, não é o objeto principal de sua órbita, que se cruza com a de Netuno.

O ex-planeta tem cerca de 2.370 km de diâmetro — ele é menor que a Lua (3.470 km) e até "caberia" em cima do Brasil. Se desse para fazer uma viagem de carro ao redor do equador de Plutão, ela terminaria em cerca de cinco dias. Mas é o maior dos "anões" conhecidos, o que reforça o limbo do rebaixamento.

Pode voltar a ser planeta?

Perspectiva de Plutão, baseada em imagens de alta resolução feitas pela espaçonave New Horizons, em 2015 Imagem: Nasa/Divulgação via Reuters

A discussão ganhou novos argumentos com a missão New Horizons, que foi lançada também em 2006 e chegou à órbita de Plutão em 2015. A sonda revelou imagens impressionantes do planeta-anão e suas luas: lá tem céu azul, vulcões, montanhas e geleiras; ele também é rochoso, e bem mais parecido com Terra do que os gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno).

"Quando vemos estas estruturas familiares, naturalmente usamos 'planeta' para descrevê-lo. Há um poder psicológico nesta palavra que ajuda as pessoas a entenderem que aquele é um lugar importante do espaço", declarou Stern.

Com estas descobertas, o líder da missão reuniu um grupo que fez uma nova proposta de definição de planeta: "um corpo de massa subestelar que nunca foi submetido à fusão nuclear, e que possui autogravitação suficiente para assumir uma forma esferoidal, independentemente de seus parâmetros orbitais".

Porém, isso implicaria que aproximadamente uma centena de objetos conhecidos seriam elevados à categoria, não apenas planetas-anões, mas também satélites naturais. Todas as luas redondas do Sistema Solar, incluindo a nossa, se tornariam planetas. Isso causaria uma confusão na astronomia e nas escolas.

O debate continua entre a comunidade astronômica internacional, mas, para a tristeza de muitos nostálgicos, é pouco provável que Plutão volte a ser planeta. Só podemos aceitar e nos apegar aos belos 76 anos de reinado, desde sua descoberta.

*Com reportagem de Marcella Duarte de 24/8/22

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