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NGB News: como guardador de carros virou o 'Amaury Jr' das favelas do Rio

Carlos Eduardo Firmino, o Negão Oi, fundador do NGB News Imagem: Arquivo Pessoal

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

28/08/2023 04h11Atualizada em 28/08/2023 12h43

Com uma ideia na cabeça e um iPhone 11 nas mãos, Carlos Eduardo Firmino, de 42 anos, viu sua vida dar uma guinada nos últimos dois anos quando passou a mostrar a realidade dos bailes funks das favelas do Rio de Janeiro ao entrevistar pessoas completamente anônimas.

Conhecido pelo nome artístico de Negão Oi, ele é uma espécie de Amaury Júnior das favelas. Morador da Cidade de Deus, o dono do canal NGB News vai aos bailes ouvir pessoas que desejam alguns minutinhos de fama.

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Repletos de carisma, descontração, humor, boas histórias, entrevistados icônicos e reviravoltas, os vídeos viraram um sucesso na internet. Em quatro plataformas, ele já possui mais de 700 mil seguidores. Somente no YouTube, seus vídeos somam mais de 4,5 milhões de views e não param de crescer.

A ideia, conta Negão Oi, é:

  • dar voz aos bailes das favelas;
  • mostrar que as festas são, geralmente, os escapes de uma realidade diária de falta de lazer nas comunidades;
  • contar como os eventos são uma fonte de renda informal para os trabalhadores.

O nosso objetivo é pegar apenas a alegria nos bairros, a realidade dos baileiros e mostrar que essas festas geram trabalho e emprego
Negão Oi, dono do NGB News

Do futebol aos bailes

O nome NGB News é uma referência a "Negão da Barra", apelido de Firmino na Avenida Lúcio Castro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, onde ele trabalha como guardador de veículos.

Durante o dia é Negão da Barra e à noite é Negão Oi

No NGB News, Negão Oi divide os microfones com Victor Rosa, o Arrascaeta Debochado, de 23 anos, e Vitor Pinheiro, de 35 anos, ambos da Cidade de Deus.

Victor Rosa, o Arrascaeta Debochado, Vitor Pinheiro, e Negão Oi Imagem: Arquivo Pessoal

O canal nasceu de um sonho antigo de Negão Oi, que adora uma câmera e registra tudo e todos na comunidade. É tanto flash que calcula ter cerca de 30 mil fotos desde 2008.

A ideia de mudar para o vídeo só surgiu em 2021, com uma proposta diferente e com a ajuda da comunidade, já que a logomarca foi feito pela amiga da namorada e as redes sociais pelo primeiro de Negão Oi.

Eu gravava os jogadores saindo do campo e a comunidade começou a aceitar e rir das bobeiras da palhaçada. A galera gostou e continuei
Negão Oi

A aceitação foi boa, mas não como esperavam. E o começo foi difícil, tanto que Negão Oi credita a guinada do canal à força divina.

"A festa que mais marcou o NGB News, que fez a nossa rede social subir, foi o Baile do Egito, no Complexo Chapadão, no começo de 2022. Dali em diante ,o pessoal começou a acompanhar nosso canal. O pastor revelou que o sucesso iria chegar. Depois disso, participamos até da cobertura do Rock In Rio, em 2022
Negão Oi

O que também ajudou o NGB News foram entrevistas com astros da música, como Felipe Ret e MC Cabelinho — o funkeiro foi quem popularizou um dos bordões do canal, o "joga para Lua que é sucesso", após uma cena na novela Vai na Fé, da Rede Globo. "Ficamos anestesiados de alegria", diz Negão Oi.

Bordões e personagens viraram a marca do canal

Os vídeos do NGB News são recheados de bordões. Daqueles que pegam fáceis:

  • "Olha o preto/preta que eu achei"
  • "Olha a preta americana"
  • "NGB News não para"
  • "Joga pra lua que é sucesso"
  • "Toda posturada"

"É tudo na hora, nada pensado. O MC Cabelinho falou aquele na novela das 19h e foi uma felicidade imensa quando soubemos. Isso é gratificante e muito maneiro. Vamos ao shopping, academia e cinema e vemos todo mundo falando", comenta Negão Oi.

Além dos bordões, o sucesso do NGB News criou celebridades. São os casos do Negão 5.5 e Dadá de Manguinhos. As entrevistas deles bombaram tanto que ambos viraram blogueiros.

A forma como os bate-papos são conduzidos também é um diferencial do canal. Do nada, uma pergunta ou uma resposta "quebra o gelo", como perguntar às 5h de um baile: "como está a fase do Vasco?".

O NGB News admite que as entrevistas os colocam na linha de tiro do cancelamento na internet, devido à falta de filtro dos entrevistados, que fazem fila nas festas para aparecer no canal. Por causa disso, os conteúdos mais leves vão para Instagram e YouTube. O pesadão aparece no X (antigo Twitter).

R$ 1,5 mil por evento e agenda lotada até o Carnaval

O NGB News é uma empresa de comunicação da Cidade de Deus, diz Negão Oi. De fato, o que era para ser apenas diversão hoje virou uma fonte de renda.

O canal emprega dez profissionais, Todos são da favela:

  • 3 repórteres
  • 2 cinegrafistas
  • 1 assessor de imprensa
  • 1 profissional de marketing
  • 1 motorista
  • 2 editores

A estrutura de equipamentos também cresceu. "Antigamente o microfone nem funcionava direito, era praticamente apenas de enfeite. Mas hoje são três microfones sem fio, sendo o primeiro pago por um amigo nosso da Barra da Tijuca, que já vinha acompanhando nosso trabalho".

Para capturar o que acontece nos bailes, a equipe usa iPhones 13. Já a edição fica por conta da "base", que é onde eles se organizam. "Eu aprendi a mexer em tecnologia na marra. Hoje estamos com uma equipe, mas no começo foi assim. Meu afilhado me ajudou muito a mexer e entender a internet".

Contar com a cobertura do NGB News não é coisa fácil. A agenda deles está quase toda lotada pelo menos até o Carnaval de 2024. A cobertura de um baile varia, mas o mínimo é de R$ 1,5 mil por duas horas. O valor pode chegar a R$ 5 mil, em caso de Réveillon. Não há limite de entrevistas dentro do período contratado.

"Cada lugar tem um valor porque tem motorista e funcionários para pagar. O intuito é divulgar a festa, a comunidade e a alegria do lugar, mas é uma empresa de comunicação. A gente sai 0h de casa e só volta da rua às 9h da manhã. É vamos a qualquer lugar. Contratou, nós vamos. É só jogar pra Lua que é sucesso".

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