Topo

'Passei mal': Mãe cria deepfake da filha desaparecida para ajudar na busca

Marcele Ribeiro Silva, mae de Polyanna Ketlyn, a garota que desapareceu na porta de casa quando tinha 10 anos, em 2015 Imagem: Ricardo Borges/UOL

Matheus de Moura

Colaboração para Tilt, do Rio de Janeiro

24/09/2023 04h01

Desde 2 de abril de 2015, Marcele Ribeiro Silva, 39, vive num constante estado de alerta por novidades sobre sua filha. O motivo: o desaparecimento de sua primogênita, Polyanna Ketlyn da Silva Ribeiro, à época com apenas 10 anos de idade.

Perturbada pelas marcas do que a Polícia Civil do Rio de Janeiro classificou na época como sequestro da filha —até hoje sem solução—, a mulher mobiliza todos os recursos, inclusive digitais, para não desmobilizar a busca pela garota. O último foi controverso: recorreu a técnicas de Inteligência Artificial para animar imagens que têm sido usadas para fazer vítimas de crimes, desaparecidas ou mortas contarem as violências que sofreram.

Relacionadas

Quando o vídeo ficou pronto, passei mal, me emocionei demais. É um choque de realidade muito grande. As falas da inteligência artificial descrevem muito bem a minha filha e conseguem transmitir um pouco da minha dor para quem assiste Marcele Ribeiro Silva

Usuária ativa do TikTok — são 624 mil os seguidores dela na plataforma—, Marcele encontrou, certo dia, o perfil Fatos Bizarros, adepto da criação das chamadas deepfakes de vítimas de crimes.

"Pedi para a pessoa para fazer a história da minha filha. O intuito era as pessoas não esquecerem o caso dela e apresentar a novas pessoas, seguidores do TikTok e do Instagram", explica ela.

Compadecido com a história, o administrador do perfil transformou a foto de Polyanna um vídeo, em que a criança relata:

Se você já viu meu rosto em algum lugar, por favor não pule esse vídeo. Estou desaparecida e preciso da sua ajuda. Meu nome é Polyanna Ketlyn. Eu tinha apenas 10 anos quando tudo aconteceu. Eu morava no bairro Piratininga, Niterói, Rio de Janeiro

O relato sucede a história que a mãe já cansou de contar: moravam em uma casa na beira da lagoa de Piratininga, uma região empobrecida e rodeada por jacarés e capivaras. Inquieta no sofá, Polyanna assistia à nova infantil Chiquititas, quando pediu à mãe para comprar doce de banana em uma venda, a menos de 200 metros de casa. Marcele deu a ela R$ 2,50, dinheiro suficiente também para comprar um caixa de fósforo. Eram 21h15, quando ela saiu para nunca mais voltar.

Mãe faz deepfake da filha desaparecida, Polyanna Ketlyn da Silva Ribeiro Imagem: Reprodução/Tiktok

Como a distância era curta e a menina não voltava, a mãe foi falar com o dono do estabelecimento. Descobriu que a filha nem chegou ao local. Desde então, a família segue na procura pela filha. Já mobilizou até a Interpol, que incluiu Polyanna no banco de desaparecidos após localizar uma sósia da menina na República Dominicana.

Tilt localizou o administrador do perfil Fatos Bizarros, que topou falar sob a condição de anonimato, pois teme as possíveis repercussões de seu trabalho. Ele afirma que começou a mexer com esse tipo de animação via IA ainda em 2023, após ver o surgimento desse tipo de vídeo no exterior e em alguns canais do Brasil.

"Quando criei meu perfil, ele estava bombando muito, tanto que, em sete dias, ganhei 10 mil seguidores. Daí a Marcele me chamou, perguntando se eu não podia fazer um vídeo da filha dela", explica o administrador.

Muita gente pede para ele fazer vídeos com seus parentes desaparecidos, a fim de comover usuários em ajudá-los na busca, diz.

Não dou conta. Na verdade, meu perfil ainda está cheio de mensagens que ainda não respondi porque eu não consigo responder todo mundo Administrador do perfil no TikTok Fatos Bizarros

Com uma demanda tão intensa, ele fez por volta de 20 vídeos sob demanda.

Ele admite que o trabalho circula numa zona cinzenta entre o ilegal e o imoral, seja pela falta de regulamentação clara sobre a nova tecnologia, seja por usar a imagem de um falecido ou desaparecido como se tivesse recebido dado aval para tal.

"Vejo muitas pessoas nos comentários que não gostam. São muitas opiniões divididas."

Todavia, ele considera que o potencial da Inteligência Artificial deve ser explorado e que as pessoas tendem a desgostar daquilo que é novo. Acrescenta ainda que talvez esse seja o motivo para os que desgostam do seu trabalho.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

'Passei mal': Mãe cria deepfake da filha desaparecida para ajudar na busca - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Inteligência artificial