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Tecnologia precisa incluir quem foi parado pela polícia, diz escritora

Ruha Benjamin, professora da Universidade Princeton e autora dos livros "Race After Technology" (Raça Depois da Tecnologia, em tradução livre) e "Viral Justice" (Justiça Viral). Imagem: Cyndi Shattuck Photography

Ruam Oliveira

Colaboração para Tilt, de São Paulo

28/09/2023 11h38

"Pense nas plantações escravistas: elas eram diversas, mas não eram justas e nós não queremos isso." A crítica aos processos de diversidade promovidos por algumas empresas é da pesquisadora Ruha Benjamin, socióloga e professora na renomada Universidade de Princeton (EUA), que participa nesta quinta-feira (28) do PrograMaria Summit, evento que promove ações para impulsionar a jornada de mulheres no mundo da tecnologia.

Ao refletir sobre mulheres e pessoas negras em posições de poder - entre elas na área da tecnologia -, Benjamin afirma que é necessário refletir os ambientes em que elas são inseridas e se são saudáveis.

Referência nos estudos de intersecção entre ciências sociais, sociedade e tecnologia, Benjamin é autora premiada dos livros "Race After Technology" (Raça Depois da Tecnologia, em tradução livre) e "Viral Justice" (Justiça Viral, em tradução livre).

A pesquisadora participou de uma conversa sobre gênero, raça e tecnologia com Taís Oliveira, fundadora e diretora-executiva do Instituto Sumaúma. A live vai ao a partir das 19h (veja aqui).

Na contramão de mulheres e pessoas negras que ocupam espaços de prestígio e são impedidas de se destacar, Benjamin cita a empresária norte-americana Sheryl Sandberg, ex-chefe de operações da Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp.

Para a professora de Princeton, as mulheres geralmente precisam se reafirmar no poder e tomar espaços para, assim, "poder fazer parte da engrenagem", coisa que Sandberg conseguiu.

"Ela causou muito impacto ao se posicionar, teve muito poder e autoridade. Porém, só porque você tem uma mulher ocupando esses espaços, isso não faz deles um lugar bom", pontuou.

De acordo com ela, empresas, principalmente as de tecnologia, precisam criar mecanismos para que seus processos de diversidade e inclusão não façam mulheres e pessoas negras ocuparem espaços apenas para servir como "fachada de bondade, enquanto o que acontece nos bastidores é realmente danoso".

"Se você quer exercer um poder real, precisa fazer isso coletivamente, e não como indivíduo. Nosso poder e status individual não é suficiente, precisamos trabalhar juntos, organizar e questionar para trazer mais justiça e equidade para o mundo, ou então são apenas falácias e nada muda de verdade no dia-a-dia desses campos tecnológicos", afirmou.

Benjamin ainda comentou que as pessoas que fazem parte desses grupos minorizados socialmente não devem se contentar em servir como vitrines de diversidade. Ela se refere ao processo de "tokenização", uma inclusão simbólica, sem que de fato seja dado algum poder ou influência a essas pessoas.

Tecnologia e o contato com outros conhecimentos

Além de abordar a questão da diversidade, Ruha Benjamin afirmou como a tecnologia deve estar ligada a áreas do conhecimento, para além das ciências consideradas "duras".

"Os problemas que precisamos enfrentar são muito importantes e estão afetando a vida das pessoas de tal forma que nós não podemos deixar apenas que pessoas que têm conhecimento técnico [lidem com eles]", afirmou.

Para a pesquisadora, a sociedade inteira perde ao não incluir outros tipos de conhecimentos como o cultural, histórico e social.

Nós falamos sobre inteligência artificial e esse método de aprendizagem profunda, redes neurais e aprendizagem por máquina. E a ideia é que, sem profundidade social e histórica, aquela profundidade computacional é na verdade uma aprendizagem superficial Ruha Benjamin, professora de Princeton

A escritora explica que a tecnologia enfrenta desafios que exigem a inclusão de pessoas com uma diversidade de experiências de vida e que pensam o mundo de maneira histórica e sociológica.

"Pessoas que têm realmente vivido experiências de saúde e de desigualdade, que têm sido paradas pela polícia, que tiveram uma má experiência com suas escolas e educação", de acordo com ela, são fundamentais para pensar criticamente e criativamente sobre como solucionar problemas que atravessam a ciência e a tecnologia.

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