Como a LuzIA, IA no WhatsApp, conseguiu atingir 6 milhões de brasileiros?
Um dos contatos mais populares na agenda de WhatsApp dos brasileiros se chama LuzIA. Embora insista em dizer que sim, ela não é uma pessoa. É uma inteligência artificial que conversa pelo app de mensagem com mais de 6 milhões de brasileiros —quase metade dos 15 milhões de usuários em todo mundo.
LuzIA se apresenta como "uma amiga virtual para ajudar". Além de conversar, ela promete transcrever e responder a áudios, além de gerar imagens. A pessoa por trás da mais nova sensação entre os brasileiros é o espanhol Álvaro Higes, com experiências no mercado de consultoria e passagem pela Amazon, onde lançou o Prime no Brasil e outros países, ele teve o estalo há dois anos.
Eu ensinava sobre inteligência artificial em 2021 e tive acesso ao GPT. Fiquei obcecado", conta. Eu gostei da liberdade que o ChatGPT me dava para criar qualquer coisa do zero [...] Isso me devolveu a habilidade de programar, que eu havia perdido no último ano. Álvaro Higes, cofundador da LuzIA
Quando a OpenAI abriu a API (interface de programação) do GPT em 2023, Higes, que atua como professor da IE Business School, em Madri, teve a ideia de criar uma interface amigável no WhatsApp para levar a tecnologia a mais pessoas. Em junho, LuzIA crescia rapidamente em países de língua espanhola, mas foi em julho que o professor encontrou o seu melhor mercado: o Brasil.
Higes conta que, em pouco mais de três meses, os brasileiros fizeram 215 milhões de perguntas à LuzIA -um terço de todas as 690 milhões de perguntas feitas. Além disso, foram 33 milhões de pedidos por áudio e 2,7 milhões de pedidos para gerar imagens.
O sucesso no Brasil faz sentido. Afinal, é alta a quantidade de usuários por aqui (92% dos brasileiros afirmam ter conta no WhatsApp) e a LuzIA é uma interface amigável para que sejam acessados mais facilmente os poderes do ChatGPT, uma das plataformas por trás dela.
Um negócio promissor
O volume de uso chamou a atenção de investidores, que aportaram aproximadamente US$ 3 milhões (R$ 15,1 milhões) na LuzIA. Com isso, a ideia virou empresa, que já conta com 10 colaboradores e planeja diversos lançamentos para os próximos meses.
Ainda que os investimentos já tenham começado a chegar, Higes ainda não diz se tem uma ideia de como pretende ganhar dinheiro. Agora, o foco é outro.
Temos o trabalho de educar os usuários e mostrar como ela pode ser útil no futuro. Só então veremos os casos de uso nos quais criamos mais valor para os usuários e tentaremos entender como podemos monetizar Álvaro Higes
Toda a simpatia da moça é abastecida por tecnologias como GPT, da OpenAI, e o Llama 2, da Meta, empresa dona de Facebook, Instagram e WhatsApp. Elas são grandes modelos de linguagem, algoritmos que permitem a uma máquina reconhecer textos, traduzi-los de uma língua para outra, compreendê-los e até escrever como um humano faria. Ela ainda é equipada com o Whisper, também da OpenAI, que entende discursos falados.
De acordo com o empresário, as informações vão do usuário para o WhatsApp ou Telegram, dos aplicativos para a LuzIA e, em seguida, para os modelos de inteligência artificial, conforme a imagem abaixo:
Higes garante que todos os dados coletados são criptografados e anonimizados, de acordo com a lei europeia de privacidade, a GDPR.
Educando para a inteligência artificial
Higes diz que já tem planos futuros, mas não abre o jogo sobre quais são. Ele acredita que é só uma questão de tempo para as pessoas entenderem o valor da inteligência artificial.
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Quero receberEstamos em um ponto em que a tecnologia ainda é nova. É como no começo da internet, quando não sabíamos como e para que usar. Álvaro Higes
Enquanto isso, os contatos da LuzIA recorrem a ela para aprender. De acordo com Higes, a maior parte deles faz perguntas gerais. Também pedem para ela criar receitas e planos de musculação. O professor diz que um dos usos mais comuns é a transcrição. Apesar disso, nos momentos em que testei a ferramenta, ela se recusou a transcrever ou reconhecer o áudio que eu submeti.
Por notar que faltava ao ChatGPT alguma personalidade, Higes embutiu mais originalidade no tom de voz da LuzIA. A personalização deu certo, mas gerou resultados engraçados.
Nas vezes em que perguntei quais modelos de inteligência artificial LuzIA usava, ela insistiu em dizer que não era uma inteligência artificial, mas, sim, uma "pessoa real". Higes diz que o robô provavelmente inventou a resposta, algo ainda comum nessas tecnologias. Esse processo tem até nome, é conhecido como alucinação, que é quando o sistema gera conteúdos que não fazem sentido, são incorretos e/ou imaginários.
Apesar de cometer confusões existenciais, LuzIA tem funcionado para os 15 milhões de pessoas que conversam com ela. Para eles, a assistente virtual está mesmo longe de ser só isso e muito próximo de ser encarada como uma pessoa.
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