Por que há poucos eclipses solares e como conseguir ver o de amanhã?
Colaboração para Tilt, em São Paulo*
13/10/2023 04h00Atualizada em 15/10/2023 13h31
O segundo sábado de outubro, dia 14, será a data em que quem estiver em nove Estados do Norte e do Nordeste poderá observar um eclipse anular do Sol. O fenômeno também vai ocorrer em outros países.
Mas, não ache que pode sair na rua e olhar diretamente para o Sol: sua observação direta apresenta perigos para nossa visão. Veja quando esse eclipse ocorre, onde será visível e o porquê não podemos olhar diretamente para o Sol em sua ocorrência —nem em dias sem eclipse solar —, muito menos com óculos de sol.
Quando ocorre eclipse anular?
Esse fenômeno astronômico acontece quando a Lua passa entre a Terra e o Sol, cobrindo a maior parte do disco solar e deixando visível apenas um "anel de fogo" brilhante ao redor da borda.
Um eclipse anular ocorre quando a Lua está em seu apogeu (o ponto mais distante da Terra, em sua órbita). Nesse período, a Lua parece menor do que o Sol no céu. O último eclipse anular do Sol ocorreu em junho de 2021, mas não foi visível no Brasil. O próximo eclipse deste tipo será em 2 de outubro de 2024.
Segundo o Observatório Nacional, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o eclipse do próximo dia 14 deve começar por volta das 15h.
Em parceria com entidades estrangeiras, o Observatório vai transmitir o fenômeno pelo YouTube durante toda sua ocorrência, mesmo em outros países, a partir das 11h30. Em todo o restante do Brasil será possível ver um eclipse parcial do Sol.
Onde será visível?
A anularidade (formação de um "anel de fogo" ao redor da Lua) será visível em dez países: Estados Unidos, México, Belize, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia e Brasil. Em outras partes das Américas — do Alasca à Argentina — será possível ver um eclipse parcial.
O fenômeno começará às 11h30 (horário de Brasília), na costa oeste dos Estados Unidos. Como estará amanhecendo lá, o sol ainda vai estar abaixo do horizonte. Depois o eclipse vai seguir pela América Central e Colômbia. Deve chegar ao Brasil por volta das 15h e seguirá até o pôr do sol, por volta das 18h (de Brasília).
A faixa de anularidade vai passar por Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Tocantins, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Só duas capitais poderão ver a anularidade: Natal (Rio Grande do Norte) e João Pessoa (Paraíba). Em todo o restante do Brasil será possível ver um eclipse parcial.
Por que não pode olhar diretamente?
Não se deve olhar diretamente para o Sol, nem mesmo com o uso de películas de raio-x, óculos escuros ou outro material caseiro porque a exposição ao Sol, mesmo durante poucos segundos, danifica a retina.
Então, como fazer a observação?
Existem duas formas de se observar o eclipse com segurança: direta ou indiretamente.
A observação direta é aquela feita sem o uso de projeções, e pode ser feita com algum instrumento especialmente adaptado para esse fim. O ideal é que se use filtros para a observação. A melhor opção é o filtro de soldador número 14 ou maior (ISO 12312-2). Mesmo assim, a observação não deve se estender por mais do que alguns segundos.
Observar o Sol com algum instrumento óptico, como binóculo ou telescópio, só é permitido sob orientação de astrônomos e que saberão os filtros corretos a serem usados.
Já a observação indireta é aquela feita através de uma projeção, sem o auxílio de qualquer instrumento óptico.
Durante a live organizada pelo Observatório Nacional, astrônomos amadores e profissionais vão transmitir o eclipse diretamente da faixa de anularidade, e também vão conversar com o público sobre astronomia, astrofísica, telescópios e obtenção de imagens astronômicas. O público pode interagir com os astrônomos, enviando perguntas e comentários através do chat.
Por que temos poucos eclipses?
Para que ocorra um eclipse solar é necessário que a Lua esteja exatamente entre a Terra e o Sol. A Lua, no entanto, se move na órbita do nosso planeta em um ângulo de aproximadamente 5 graus em relação ao plano da Terra com o Sol. Isso faz com que a Lua atravesse o plano orbital da Terra somente duas vezes ao ano, o que torna o eclipse solar um fenômeno relativamente difícil de ser visto.
Se nosso satélite girasse no mesmo plano da órbita terrestre, haveria eclipses todos os dias de Lua Nova. Como isso não acontece, é preciso que a Lua Nova coincida com a passagem pelos nodos, que são os pontos de intersecção do plano da órbita da Terra com o plano da órbita lunar.
Outros fatores contribuem para diminuir a chance de vermos um eclipse solar. Primeiro, a Lua é cerca de 49 vezes menor que a Terra e sua sombra é incapaz de envolver todo o planeta. Assim, durante um eclipse solar, uma sombra com cerca de 160 km de largura e 600 km de comprimento cobre apenas uma estreita faixa da superfície terrestre — e somente as populações situadas nesse trecho da Terra têm a oportunidade de assistir a esse fenômeno celeste.
Em segundo lugar, à medida que a Terra gira, a sombra da Lua cobre o planeta com uma velocidade de aproximadamente 1.800 km/h, motivo pelo qual um eclipse total do Sol não dura mais do que 7 minutos e 40 segundos.
A distância da Lua em relação à Terra determina a quantidade de luz do Sol que é interceptada, bem como a largura da penumbra e da escuridão total.
Durante a totalidade de um eclipse solar, ou seja, enquanto o disco da Lua cobre totalmente o disco do Sol, o céu fica bastante escuro, como se fosse o início da noite, e podem ser vistas algumas estrelas mais brilhantes. Conforme a Lua continua em sua órbita, ela vai descobrindo o Sol — e a luz solar volta a iluminar a Terra.
Tipos de eclipse solar
Como a sombra da Lua possui duas partes — uma região central (umbra) e uma região externa (penumbra) —, pode-se dividir os eclipses solares em três subtipos, dependendo de qual parte da sombra atinge determinada região:
- Eclipse Solar Total: esse tipo de eclipse acontecerá quando o tamanho aparente da Lua for maior que o Sol. Nesse caso, o alinhamento entre o Sol, a Lua e a Terra produz uma região sem luz solar na superfície terrestre.
- Eclipse Solar Anular: esse tipo de eclipse ocorre quando a Lua está mais distante da Terra e seu tamanho aparente é menor que o tamanho aparente do Sol, ou seja, a Lua não cobre totalmente o Sol. No auge do eclipse, observa-se um anel luminoso em volta da Lua, que nada mais é do que o próprio Sol.
- Eclipse Solar Parcial: ocorre quando o alinhamento entre o Sol e a Lua não atinge a superfície terrestre; o céu pode escurecer levemente, dependendo de quanto o disco solar for encoberto.
Periodicidade dos eclipses
A frequência dos eclipses depende de três fatores: 1) da posição entre os planos orbitais da Lua e da Terra; 2) da posição da Lua ao longo de sua órbita, em termos de sua proximidade ou coincidência com os pontos nodais; e 3) da distância entre a Terra e a Lua.
Todos esses fatores influem no desenho da órbita da Terra em torno do Sol e da órbita Lua em torno da Terra. E todos eles, sem esquecer do ângulo de aproximadamente 5 graus que há entre a órbita da Lua e a da Terra, atuam na periodicidade dos eclipses solares. Assim, no período de um ano podem ocorrer:
- No mínimo 2 eclipses solares e 2 lunares;
- 3 eclipses solares e 2 lunares;
- 4 eclipses solares e 2 (ou 3) lunares;
- 5 eclipses solares e 2 lunares.
Antes que os eclipses voltem a ocorrer na mesma ordem do período anterior, há um intervalo de 18 anos, 11 dias e 8 horas (durante o qual os eclipses continuam ocorrendo). Esse período é denominado de Período de Saros. A palavra "saros" vem do grego e quer dizer "repetição".
Ou seja, após um período de 18 anos, 11 dias e 8 horas (ou cerca de 6585,5 dias) Sol, Terra e Lua retornam, aproximadamente, às órbitas do ciclo anterior, fazendo com que os eclipses voltem a ocorrer numa mesma sequência (mas não no mesmo lugar). Durante um Período de Saros acontecem, no total, 70 eclipses, sendo 41 solares e 29 lunares.
Para que um eclipse total do Sol volte a ocorrer num mesmo lugar são necessários, aproximadamente, 360 anos.
*Com informações da Agência Estado e de matéria de 06/01/2014