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Inovações de celulares estão só no começo, diz novo presidente da Motorola

Rodrigo Vidigal, presidente da Motorola no Brasil Imagem: Helton Simões Gomes/UOL

De Tilt, em Jaguariúna (SP)*

09/11/2023 11h13

Rodrigo Vidigal assumiu a presidência da Motorola no Brasil em setembro. Mal teve tempo de se acostumar no novo cargo e já comemora os 10 anos do Moto G. A linha de celulares, a primeira de muito brasileiro, mudou a cara da indústria, ao levar para celulares baratos recursos antes apenas encontrados em aparelhos caros.

A família de aparelhos atingiu outra marca: 200 milhões de unidades vendidas em todo mundo. Com passagens por Claro e Algar, Vidigal é reverente ao papel que o Moto G desempenhou na história da Motorola. Mas, para ele, o futuro são os smartphones dobráveis. Mostra disso é o Razr 40 Ultra de um vermelho gritante, que ele usa no dia a dia -ainda que que contraste com sua postura sóbria.

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Rodrigo Vidigal, presidente da Motorola no Brasil

Na conversa exclusiva com Tilt, na planta de Jaguariúna (SP) da Flex, a fabricante dos aparelhos da Motorola, o executivo revelou que são aparelhos com tela dobrável que mais fazem donos de iPhones abraçarem o mundo do Android. Para quem acha que os lançamentos de smartphones são um marasmo só, ele tem um recado.

Vai vir muito mais. Quando falamos de inteligência artificial e de 5G com latência zero, não vimos nem o começo.
Rodrigo Vidigal, presidente da Motorola no Brasil

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Tilt - Você assumiu em setembro. Já deu para sentir o gostinho de ocupar essa cadeira?
Vidigal -
Ah, tô na fase de experiência ainda. Se fizer qualquer bobagem, é [demissão] por justa causa.

Tilt - Qual é o tamanho do Moto G para a Motorola?
Vidigal -
A linha Moto G é a nossa principal família. Nesses 10 anos de Moto G, estamos comemorando também 200 milhões de Moto G vendidos. Em 2020, a gente chegou a 100 milhões de smartphones desse modelo no mundo. Levamos sete anos para atingir os primeiros 100 milhões e três anos para chegar aos outros 100 milhões.

Tilt - Como é assumir a empresa e já comemorar 10 anos de uma linha de celulares tão icônica?
Vidigal -
Olha, eu entrei na Motorola em 2009. A última atividade como diretor de marketing foi lançar o Moto X e o Moto G, antes de sair para um outro desafio. Depois, eu voltei.

Antes disso, tivemos um período muito difícil na Motorola. Fizemos o turnaround [compra pelo Google e venda para Lenovo] da empresa, lançamos o primeiro Android, trouxemos o consumidor de volta para marca e criamos alguns produtos, os Razr D1 e D3, que abriram caminho para o Moto G.

Estar nessa posição é dar sequência a um trabalho feito no Brasil por um grupo de pessoas muito determinado. A empresa sempre aposta no país.

A modificação [de organograma] que abriu essa oportunidade para mim está dentro de um escopo de dobrar o tamanho da empresa no mundo nos próximos anos. É um desafio e uma oportunidade.

Componentes do primeiro Moto G, lançado em 2013 Imagem: Helton Simões Gomes/UOL

Tilt - De que forma essa estratégia inclui o Brasil, já que aqui a empresa tem um grande recall de marca?
Vidigal -
Já temos 31% de participação de mercado no Brasil. O desafio é continuar crescendo e a gente vai buscar isso. O Brasil tem um papel [nessa estratégia], que não é o mesmo de outros países, porque cada lugar enfrenta um desafio específico de acordo com a sua realidade.

A Motorola fez uma mudança na sua gestão. E tem muita gente do Brasil cuidando da operação global. Isso tem permitido um crescimento que há muito tempo a Motorola não via.

Tilt - Em algum momento a Motorola pensa em ser a primeira, desbancar a Samsung?
Vidigal -
Sonhar está aí. Já fomos primeiro lá atrás. Nada impede de sermos novamente. Depende do trabalho que fizermos. Mas por que não?

Não tem isso de "Ah, quero ser número um em tanto tempo". Queremos, sim, ser a opção número um na cabeça do consumidor. Isso é o mais importante.

Tilt - O que mudou nesses 10 anos em relação ao comportamento do brasileiro em relação aos smartphones?
Vidigal -
Quando eu busco um pouco da história, passa um filme na minha cabeça. Nosso maior sucesso no Brasil foi democratizar a tecnologia. O pré-pago serviu para isso. A Motorola cumpre muito desse papel com o Moto G, de levar o que há de mais avançado em tecnologia para a maior quantidade de pessoas.

Teve uma época em que ele estava mais preocupado com o tamanho da tela. Hoje, elas não têm muito mais como expandir. O que mudou mais recentemente é a preocupação com o design, com a busca por cores, materiais.

O brasileiro gosta de tecnologia, de novidade, de beleza. Tem uma limitação financeira, mas quer ter o melhor produto, a última geração, quer estar antenado com o que há de mais avançado em comunicação. À medida que se torna mais educado em tecnologia, o brasileiro quer o melhor smartphone em game, para consumir conteúdo, entretenimento.

Tilt - O brasileiro passou a trocar o celular com um maior tempo de intervalo. Mudou algo no comportamento dele ou mudou algo nos celulares?
Vidigal -
Quando a gente lançou primeiro o Moto G, se não me engano, o preço dele era R$ 799. Hoje, 10 anos depois, com uma tecnologia 100 vezes melhor, temos Moto G a R$ 999.

A inflação subiu, mas o smartphone continua muito acessível. O que vejo é que o brasileiro perdeu um pouco do poder de compra nos últimos anos. Tem a crise, os juros, o aumento da inadimplência. Já li reportagens mostrando o usuário com a tela quebrada, com o risco de machucar a mão mesmo, mas sem condição de trocar o telefone.

Há uma demanda represada de pessoas querendo trocar o seu smartphone por um produto mais novo. A limitação não é uma opção do consumidor, mas uma restrição baseada no momento econômico que o país atravessa.

Nós somos sempre otimistas. Acreditamos no Brasil acima de tudo. Vemos uma queda na taxa de juros, importante para o aumento do consumo, para o varejo, para a geração de empregos. O país precisa voltar a crescer. E isso é uma questão de tempo. 2024 já terá uma retomada, mas vai ser gradual.

Tilt - Há um movimento de marcas antigas retornando ao mercado. A Mesbla voltou com loja online. A Aiwa, de áudio e vídeo, também. O Razr, ainda que repaginado, também vem nessa linha do saudosismo? Ou a Motorola aposta que pode atrair novas gerações?
Vidigal -
Nós olhamos para o futuro. Usamos a marca Razr porque ela foi muito forte no mundo. É uma ativo da Motorola, que leva tempo para construir.

As pessoas que viveram aquele momento lembram, mas o jovem não conhece. O objetivo não é resgatar essa história, mas mostrar um telefone com um design maravilhoso, que tem boa espessura e design e o que há mais de avançado em tecnologia.

É com essa proposta de valor que a gente vai brigar pelo segmento super-premium, em que a gente ficou de fora até voltar com a família Edge. Com o Razr, estamos colhendo frutos importantes, pois faz o consumidor super-premium considerar a Motorola. Eu coloco o Razr na mesa do restaurante, e as pessoas param para perguntar que telefone é esse. "Ah, é da Motorola? Nossa, eu não sabia."

Tilt - Qual é o peso da categoria dos dobráveis para a Motorola?
Vidigal -
O segmento super-premium no Brasil representa de 5% a 7% do total do volume de vendas. Para nós, é um pouco menos. Estamos no caminho para ocupar espaço nesse segmento.

Mas, por ficar muito menor e mais confortável, os celulares de tela dobrável fazem seus compradores não voltarem para os aparelhos de barra. Ele não aceita mais um telefone gigante no bolso.

Ele é o mais eficiente em trazer clientes da concorrência. Dos nossos produtos, é o que mais atrai o usuário do iOS.

Tilt - Você acha que a ideia da tela dobrável é tão revolucionária e tão impactante quanto foi a tela sensível ao toque?
Vidigal -
Não sei se chega a tanto. O smartphone começou a crescer de tamanho, porque a gente queria consumir conteúdo em uma tela confortável e grande. Ele passou a permitir isso, mas ocupa muito espaço.

O Razr resolve esse problema, pois tem uma tela maior que a média e, quando fechado, é o menor telefone que tem. O smartphone dobrável tem uma eficiência que vai ser o futuro, eu não tenho dúvida.

Tilt - Até pouco tempo atrás, havia grande expectativa em torno da grande novidade dos próximo modelo de smartphone. Hoje em dia, a impressão é que esse sentimento está se esvaindo.
Vidigal -
Não, pelo contrário. Vai vir muito mais. Quando falamos de formatos, a Motorola já apresentou a tela rolável e, recentemente no Tech World, mostrou o celular que pode virar pulseira. As possibilidades são infinitas com as telas flexíveis. Quando falamos de inteligência artificial e de 5G com latência zero, não vimos nem o começo.

Tilt - E inovações que podem surpreender os brasileiros?
Vidigal -
Temos mais de mil engenheiros no Brasil desenvolvendo tecnologia. Muitas das nossas inovações nos smartphones, na câmera, no software e até no Android são desenvolvidas por engenheiros brasileiros e exportadas para o mundo todo.

Temos como parceiros universidades e institutos de tecnologia no Brasil. A gente vai inaugurar, no final do mês, um prédio na Universidade do Amazonas para ampliar a capacidade na formação de engenheiros para a nossa fábrica de Manaus. A nossa pesquisa é feita em cima da necessidade do consumidor brasileiro.

*o jornalista viajou a convite da Motorola

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