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Raios não caem duas vezes em um mesmo lugar? Veja o que a ciência diz

Estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, costuma ser atingida por raios Imagem: EFE/ Antonio Lacerda

De Tilt, em São Paulo*

15/12/2023 04h00

Uma das maiores lentas propagadas por aí é o de que dois raios não caem no mesmo lugar. Mas não dê ouvidos a tudo o que lhe dizem.

Em áreas de grande incidência, podem cair não somente dois, mas diversos raios. Prova disso é o Cristo Redentor, agraciado por seis raios por ano, em média, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O Empire State Building, em Nova York, recebe 25 descargas, sendo que já aconteceu de o topo do prédio ser atingido oito vezes em apenas oito minutos.

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Riscos para as pessoas

A chance de uma pessoa ser atingida diretamente por um raio é muito baixa, em termos estatísticos: é menor do que um para um milhão. O que não é motivo para baixar a guarda. Se você estiver em uma área descampada (como uma praia ou campo de futebol) durante uma tempestade forte, a probabilidade é bem maior: de um para mil. Isso porque o seu corpo acaba se transformando em para-raios nessas situações.

A intensidade típica de um raio é de 30 mil ampères, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico. Portanto, os riscos são enormes de morte imediata. Além de queimaduras, a corrente pode provocar parada cardíaca e respiratória. Os relatos de vítimas que sobreviveram referem-se a quem foi afetado indiretamente, ou por faíscas laterais, ou pela corrente que vem do solo. As sequelas podem incluir insuficiência cardíaca, problemas de memória e psicológicos.

Como se formam raios?

Raios são descargas elétricas de grande intensidade que conectam as nuvens de tempestade e o solo. Ou seja: para que eles ocorram, é necessário haver uma nuvem carregada de partículas com carga negativa (geradas pelo choque das partículas de gelo) e um solo repleto de partículas com carga positiva. Como os campos elétricos costumam se acumular em extremidades, não é de se estranhar que arranha-céus, monumentos pontiagudos, copas de árvores e cabeças sejam mais vulneráveis.

É bom lembrar que relâmpago é o nome genérico que se dá às descargas elétricas, mas os raios são só os que se conectam ao solo. E o trovão? É o som produzido pelo ar que se aquece e se expande rapidamente na região na qual circula a corrente elétrica do raio.

Brasil é recordista

A ocorrência de raios no Brasil é de 50 milhões por ano, segundo o Inpe, o que faz do país o recordista mundial. A cada 50 mortes por raio no mundo, uma ocorre por aqui. Isso quer dizer que 130 brasileiros morrem dessa forma a cada ano. A explicação é geográfica: é o maior país da chamada zona tropical do planeta — área central onde o clima é mais quente e, portanto, mais favorável à formação de tempestades.

São Paulo costuma ser o Estado com maior número de mortes por acidentes com raios, de acordo com o Inpe. Mas a Amazônia é uma das três regiões com maior incidência de descargas elétricas do país e do mundo: recebe cerca de 30 milhões de raios por ano, devido à grande quantidade de água doce e calor. As outras regiões chamadas de "chaminés de raios" são a África Central e a Indonésia.

Um estudo feito por pesquisadores do Inpe e divulgado no periódico American Journal of Climate Change mostrou que, nos últimos 30 anos, a capital amazonense registrou um aumento de 50% na taxa de descargas atmosféricas, alcançando 13,4 raios por quilômetro quadrado ao ano. A explicação para isso é que a urbanização em Manaus fez a temperatura máxima da cidade subir 3°C em relação à encontrada na floresta amazônica.

Outros estudos do Elat já haviam mostrado como a urbanização tende a formar um cinturão de ar quente ao redor da região central das cidades, favorecendo tempestades e raios. E o aquecimento global só tende a piorar o cenário, à medida que faz aumentar a presença de vapor d'água na atmosfera. Um estudo publicado na revista "Science" mostrou que a ocorrência de relâmpagos em todo o mundo vai aumentar 50% até 2100.

Segundo levantamento de cientistas do Elat feito em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, o aumento da temperatura das águas do oceano Atlântico no Hemisfério Sul fará a incidência de tempestades duplicar no Sudeste em 2070, chegando a triplicar nas cidades litorâneas.

Só a cidade de São Paulo, por exemplo, tinha 33 dias de tempestade por ano de 1910 a 1951. De 1951 a 2010 esse número aumentou para 67 dias de tempestade — um crescimento de 103%.

A previsão é a de que os dias de tempestade se tornem ainda mais frequentes nos próximos anos. O período mais afetado pela incidência de raios no Brasil é a transição entre a seca e a estação chuvosa, ou seja, entre a primavera e o verão.

Como evitar ser atingido por um raio

Se você estiver em uma área sem abrigo próximo durante uma tempestade e sentir os pelos arrepiados (sinal da proximidade de um raio), ajoelhe-se e curve-se para frente, colocando as mãos nos joelhos e a cabeça entre eles;

Se estiver sem abrigo na tempestade, evite segurar e mantenha distância de objetos metálicos e/ou longos, como varas de pescar, tacos de golfe, enxadas e tripés;

Durante a tempestade, mantenha distância de árvores (especialmente as isoladas), cercas de arame e varais metálicos. Saiba que pequenas construções como tendas, barracos e celeiros não oferecem proteção;

O ideal é não sair de casa durante tempestades, mas, se estiver na rua, procure abrigo em: carros, ônibus ou outros veículos metálicos não conversíveis (mas evite ficar encostado na lataria); moradias ou prédios (de preferência que possuam proteção contra raios); abrigos subterrâneos (como metrôs ou túneis); grandes construções com estruturas metálicas; barcos ou navios metálicos fechados; desfiladeiros ou vales;

Caso esteja em algum local protegido, evite usar o telefone com fio ou o celular ligado ao carregador, assim como tocar em equipamentos elétricos ligados à tomada, já que as redes elétricas podem ser atingidas. Evite também ficar ao lado de portas, canos ou janelas metálicas (esses objetos têm maior condutividade elétrica).

Fonte: Osmar Pinto Junior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

*Com matéria publicada em 11/02/2020

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