'Criei um monstro': como carioca usou IA para fazer funkeiro cantar Joelma

"Criei um monstro." Essa foi a reação do produtor musical Anderson Junior, 38, ao ver o funkeiro Mc Poze do Rodo cantando em um show "Eu vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa", da cantora Joelma.

Anderson é o responsável pela página TunaTudo, no Instagram e no TikTok. Lá, ele faz experimentos e edições usando inteligência artificial. Em um deles, o mais bombado, atendeu ao pedido de uma pessoa que queria ver o funkeiro carioca cantar um trecho de "Voando Pro Pará", uma música lançada em 2015 e que, por causa de vários memes, voltou a tocar em tudo quanto é parte.

"Precisa pegar 10 minutos da voz de uma pessoa, com o mínimo de intervenção ou ruído. Depois sobe em sites que criam um modelo dessa voz. Então, basta pedir para que aquela voz leia um texto ou acompanhe uma música", explicou a Tilt.

@tunatudo Poze Tomando Tacacá Remix I.A: @Anderson Nem #joelma #tacacajoelma #pozedorodo #tunatudo ? som original - Tuna Tudo

Na internet, tem vários sites que fazem isso. Boa parte deles tem um pacote gratuito limitado e um completo, que é pago, e possibilita a criação de "covers" com qualidade melhor.

No fundo, isso é uma forma de deepfake, quando alguém modifica um vídeo, foto ou qualquer tipo de imagem usando inteligência artificial para parecer realista. E, embora alguns sejam inofensivos e engraçados, o risco é de que essa edição seja usada para enganar as pessoas ou veicular mensagens distorcidas.

O fenômeno Poze

Há vários covers do Mc Poze pela internet, segundo Anderson, pelo fato de o áudio usado para criar o modelo de voz ser muito bom.

"Ele estava na Roda de Funk [programa da produtora de mesmo nome em que MCs são entrevistados e apresentam seus trabalhos] e cantou à capela por quase 12 minutos. A IA consegue pegar as nuances da voz, a respiração e sotaque. Por isso dá para colocá-lo cantando Mariah Carey ou Joelma, e ele interpreta bem."

Continua após a publicidade

O vídeo do Poze cantando "Voando pro Pará" foi postado no TikTok em 26 de outubro e já tem mais de 3,5 milhões de visualizações, mas por que o sucesso?

"O fato de serem duas pessoas [Mc Poze do Rodo e Joelma] bem diferentes e de culturas bem distantes. Acho que isso gera curiosidade no público somando com o fato de que a melodia da música naturalmente já gruda na mente", disse Anderson.

Depois da montagem, fizeram um remix de funk de "Voando pro Pará", inventaram uma coreografia que viralizou nas redes sociais e vídeos em shows do Poze mostram o MC cantando um trecho de "Voando pro Pará".

Deepfakes para enganar

Ainda que Anderson e várias pessoas façam paródias inofensivas usando essas ferramentas de inteligência artificial, há também o uso da tecnologia para o mal.

Continua após a publicidade

Por exemplo, o médico Drauzio Varella já apareceu em um vídeo falso recomendando um produto de estética, segundo reportagem da BBC Brasil.

A voz do médico é reproduzida com grande fidelidade, mas, por ser um vídeo, há pistas que permitem notar que se trata de um deepfake, como a falta de sincronia na fala e movimentos esquisitos com a boca.

No ano passado, durante a campanha presidencial, foi feito um deepfake com a apresentadora Renata Vasconcellos, do Jornal Nacional, em que ela dizia que o então candidato Jair Bolsonaro estava na frente das pesquisas —o que era mentira.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.