Erupção, tsunami: mistério de Santorini na Grécia é resolvido após 373 anos
Foram necessários 373 anos para que o mistério de uma erupção seguida de tsunami com ondas de até 20 metros na ilha de Santorini, na Grécia, fosse resolvido.
Um artigo publicado no final de outubro na revista científica Nature Communications aponta que relatos de testemunhas da época só puderam ser descritos no cenário em que houvesse a combinação de deslizamento de terra seguido por uma erupção explosiva.
Para isso, foi utilizado a reconstrução da erupção vulcânica com sísmica 3D no navio Poseidon.
Erupção vulcânica histórica
A erupção ficou visível por semanas a partir da ilha grega de Santorini, hoje conhecido destino turístico da Grécia.
Era final do verão de 1659 quando habitantes da região relataram que a cor da água havia mudado e que ela estava fervendo.
Distante sete quilômetros a nordeste de Santorini, um vulcão subaquático surgiu do mar e começou a expelir rochas brilhantes com lava. Fogo e relâmpagos eram vistos de longe e nuvens de fumaça escureceram o céu.
Até que a água recua de forma repentina, para então na sequência avançar em direção à costa atingindo ondas de até 20 metros de altura, e gerando um estrondo ouvido a mais de 100 km. Pedras-pomes e cinzas chegaram a cair em ilhas vizinhas e uma nuvem mortal de gás venenoso tirou várias vidas.
"Conhecemos esses detalhes da erupção histórica de Kolumbo porque há relatos contemporâneos que foram compilados e publicados por um francês no século 19", falou Jens Karstens, geólogo marinho do Geomar (Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica de Kiel), na Alemanha, em comunicado.
A descoberta
Para chegar na conclusão do estudo, Karstens e colegas gregos e alemães que assinam o artigo foram ao Mar Egeu grego em 2019 para estudar a cratera vulcânica utilizando uma tecnologia especial com métodos sísmicos 3D.
"Queríamos entender como o tsunami surgiu naquele momento e porque o vulcão explodiu tão violentamente", explicou o líder do estudo.
Com a imagem tridimensional criada do Kolumbo, agora eles sabem que esse vulcão está a 18 metros abaixo da superfície da água, e que também tinha 2,5 quilômetros de diâmetro e 500 metros de profundidade.
Outra descoberta foi referente ao flanco do cone que tinha sido claramente deformado. "Esta parte do vulcão certamente escorregou", afirmou Gareth Crutchley, coautor do estudo.
Os pesquisadores então fizeram uma abordagem de detetive comparando os vários cenários que poderiam ter causado o tsunami conforme os relatos históricos.
Apenas com a explosão vulcânica, eles viram que as ondas tinham seis metros conforme as simulações e que a crista de uma onda atingia a costa primeiro.
Porém, apenas quando eles chegaram à conclusão que uma combinação de deslizamento de terra seguida de explosão vulcânica poderia explicar o tsunami, esse cenário foi o único que bateu com as observações históricas.
"Quando um dos flancos do vulcão escorregou, o efeito foi como abrir uma garrafa de champanhe: a liberação repentina da pressão permitiu que o gás no sistema do magma se expandisse, resultando em uma enorme explosão", explicou Karstens.
Prevenção?
O que ocorreu no Mar Egeu no século 17 poderia ter ocorrido durante a erupção de 2022 do vulcão submarino Hunga Tonga, em Tonga, no Pacífico, cuja cratera vulcânica se assemelha à de Kolumbo.
O estudo publicado na Nature fornece informações valiosas para o desenvolvimento de programas de monitoramento da atividade vulcânica submarina ativa, como o Santory, liderado pela coautora do atual estudo, Paraskevi Nomikou, da NKUA (Universidade Nacional e Kapodistrian de Atenas).
"Esperamos poder usar nossos resultados para desenvolver novas abordagens para monitorar a agitação vulcânica, talvez até mesmo um sistema de alerta precoce, coletando dados em tempo real. Esse seria meu sonho", concluiu Karstens.