O que são e o que podem fazer os chips cerebrais da empresa de Elon Musk
Colaboração para Tilt*
31/01/2024 04h00
Elon Musk anunciou hoje o primeiro implante do chip cerebral da Neuralink em um ser humano. O dispositivo tem como objetivo permitir que pessoas com paralisia controlem equipamentos externos com seus pensamentos.
O que são os chips da Neuralink?
Comunicação entre o cérebro e as máquinas. Fundada por Musk e uma equipe de cientistas e engenheiros em 2016, a Neuralink é uma empresa de neurotecnologia dedicada a construir canais de comunicação direta do cérebro com as máquinas.
Musk quer conectar o cérebro com computadores para permitir o download de informações e memórias das profundezas da mente, como no filme de ficção científica "Matrix", de 1999.
Além de usar a tecnologia para tentar tratar condições como cegueira, paralisia e outras doenças neurológicas, o bilionário expressou ambições de usar um chip para alcançar a telepatia humana. Isso, segundo ele, ajudaria a humanidade a prevalecer em uma guerra contra a inteligência artificial. Musk também disse que quer que a tecnologia forneça às pessoas uma "supervisão".
Para isso, nos últimos oito anos, a empresa vem desenvolvendo este chip de computador projetado para ser implantado no cérebro e monitorar a atividade de milhares de neurônios, com comunicação direta com computadores por meio do pensamento.
O chip consiste em uma pequena sonda contendo mais de 3.000 eletrodos ligados a fios flexíveis mais finos que um fio de cabelo humano. O implante, chamado "Link", seria colocado dentro do cérebro humano por meio de uma cirurgia invasiva.
Os primeiros testes foram realizados em macacos e porcos. Musk apresentou a tecnologia Neuralink em 2019, mostrando um porco com um chip implantado no cérebro e um vídeo de um macaco jogando pong com a mente.
Porém, o potencial das ICCs (Interface Cérebro-Computador) vai muito além de animais jogando. Considerando o uso clínico desse tipo de chip, a tecnologia foi projetada para registrar sinais elétricos de neurônios no córtex motor e, em seguida, enviar os sinais para um computador onde são exibidos como texto.
Uso clínico e autorização para testes em humanos
Normalmente, o córtex motor não está envolvido no pensamento. Em vez disso, o local é onde as instruções de movimento são enviadas ao corpo, como os movimentos dos músculos da língua e da mandíbula quando se fala.
O que os eletrodos realmente registram é um plano motor —mais precisamente, o resultado de todo o processamento em diferentes partes do cérebro (sensorial, linguístico, cognitivo) necessário para se mover ou falar.
Portanto, as ICCs não registram realmente os seus pensamentos, mas sim o plano do cérebro de mover um dedo, uma perna ou abrir a boca para fazer um som.
No entanto, em maio de 2023, a Neuralink anunciou ter recebido a aprovação das autoridades sanitárias dos EUA para testar os chips cerebrais em seres humanos. Agora, principalmente após o teste inédito, caso a Neuralink consiga comprovar que seu dispositivo é seguro em seres humanos, ainda levará anos, potencialmente mais de uma década, para a startup obter a autorização para uso comercial do produto.
Ficção científica ou realidade?
Desejos de Musk, no entanto, não são completamente viáveis. Em 2023, Giacomo Valle, engenheiro neural da Universidade de Chicago, nos EUA, disse à Deutsche Welle que não é possível ler a mente das pessoas. "A quantidade de informação que podemos decodificar do cérebro é muito limitada", explicou.
Neurociência por trás dos pensamentos. Juan Alvaro Gallego, pesquisador de ICC no Imperial College London, no Reino Unido, concorda. "O problema fundamental é que realmente não sabemos onde ou como os pensamentos são armazenados no cérebro. Não podemos ler pensamentos se não entendermos a neurociência por trás deles", disse à agência de notícias.
Polêmicas
Em dezembro de 2022, a Neuralink passou a ser investigada pelo departamento de agricultura dos EUA por possivelmente violar leis de bem-estar animal. Na época, documentos obtidos pela Reuters mostraram que a companhia já havia matado mais de 1.500 cobaias desde 2018.
Transporte ilegal de patógenos. Já em fevereiro do ano passado, o PCRM (Comitê de Médicos para Medicina Responsável) disse em uma carta ao Departamento de Transportes dos EUA, também compartilhada com a agência de notícias, que obteve e-mails e outros documentos que sugerem embalagens e movimentações inseguras de implantes removidos de cérebros de macacos. Esses equipamentos podem ter transmitido doenças infecciosas, violando a lei federal norte-americana.
Ressalvas e preocupações da FDA. Além disso, segundo funcionários da startup, apesar de terem recebido a autorização da FDA (Food and Drug Administration), agência responsável pela supervisão de fármacos e alimentos nos EUA, entre as diversas ressalvas levantadas pelo órgão estavam a segurança da bateria de lítio integrada, a possibilidade de o implante migrar dentro do cérebro, e a dificuldade de extraí-lo de forma segura, sem danificar tecidos cerebrais.
*Com Deutsche Welle, AFP e Reuters