'Sonzinho não pode?': caixa de som na praia vira 'guerra' de fãs e haters
O blogueiro catarinense Carlos Augusto Lippel, 44 (conhecido como Zé, do Clube do Pai Rico), publicou uma foto de si na praia, sentado, com uma caixa de som gigante em segundo plano e a seguinte legenda:
O bom da praia é que é um ambiente popular e democrático, onde todos se respeitam.
A publicação, do fim de janeiro, viralizou no X (antigo Twitter), atingindo milhões de visualizações e quase mil comentários. A maioria deles foi feito por pessoas que odeiam caixas de som na praia.
O bom da praia é que é um ambiente popular, democrático, onde todos se respeit? pic.twitter.com/PK8sFrc1u6
-- o Zé, do Clube do Pai Rico (@clubedopairico) January 20, 2024
"É um problema atual que vem incomodando muita gente", disse em conversa com Tilt. "Não pela presença da música, mas pelo volume."
O boom da caixa de som
Caixas de som na praia se tornaram muito populares nos últimos cinco anos, graças ao barateamento da tecnologia (podem variar de R$ 100 a R$ 5.000) e a crescente autonomia delas, que pode ultrapassar as 10 horas longe de uma tomada. Elas são bastante usadas em locais públicos, como clubes, piscinas ou praias.
E qual a etiqueta para se usar uma caixa de som? Não existe, mas, em tese, deveria ser o bom senso.
"Se quiser ouvir em um volume que fique perto do seu guarda-sol ou da barraca, ótimo. Ninguém é obrigado a ouvir a música do outro", diz a administradora niteroiense Marina Amaral, 29, que viu a praia de Itacoatiara, em Niterói (RJ), considerada relativamente calma, ter um "duelo de caixas de som".
Tinha dois grupos de pessoas competindo sobre quem botava o som mais alto. Filmei os dois lados e fiz um desabafo para mostrar minha insatisfação. Sempre vejo caixas na praia, mas nunca tinha visto isso.
Marina Amaral
Para o empresário curitibano Clayton Figueiredo, que frequenta a praia de Caiobá (a 1h30 de Curitiba, no município de Matinhos), o que incomoda é o volume em que as pessoas colocam as caixas de som e as letras das músicas.
Sou a favor da proibição em casos exagerados do uso da caixa de som. O problema maior é o tipo da letra da música, ainda mais porque tem criança junto e às vezes a gente tem de explicar o que é dito e são coisas mais 'baixaria'.
Clayton Figueiredo
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Quero receberA estudante cearense Alyne Ferreira, 24, diz que em Fortaleza também tem muita gente usando caixa de som, gerando "uma poluição sonora horrível, e acaba que ninguém consegue ouvir nada, só a barulheira".
Ela concorda com a proibição em algumas praias e diz que as pessoas devem respeitar o espaço dos outros.
Gosto de colocar um som na praia, e lá eu fico ouvindo, sentada na minha barraquinha, comendo e bebendo. Mas tem um porém: não coloco música alta, pois sei que tem gente que não gosta, então é algo para quem está comigo mesmo, não prejudicando os outros.
Alyne Ferreira
E quem é a favor?
Se tem quem reclame, tem também quem goste de ouvir música na praia, não se importando tanto se é muito alta ou não.
A fotógrafa Sibila Ribeiro, 31, diz que entende quem não gosta, mas não vê problema em locais movimentados.
Em praias lotadas, acho um completo exagero [a reclamação]. Adoro saber o que as pessoas estão escutando e não tenho restrição musical. Sou curiosa e acho que muda a vibe da praia [quando tem som] para algo mais agitado. Quem quer sossego, dá para ir a locais mais isolados e silenciosos.
Sibila Ribeiro
Opinião semelhante foi compartilhada por Wilson Batore, no TikTok. Para ele, a proibição de uso de caixa de som é um problema, e as pessoas deveriam se acostumar que, em lugares movimentados, com certeza, ouvirão ruídos.
[Praia] É área de lazer, o povo quer escutar música, quer se divertir (...). Passa o cara vendendo picolé, churrasquinho, e ninguém fala p... nenhuma, agora se eu botar um sonzinho, para botar meu pagode na praia, não pode.
Wilson Batore, em vídeo no TikTok
@wilsonbatore caixa de som proibido nas praia do Rio, vc e contra ou a favor #caixadesom #jbl #prefeiturarj #carnavaltiktok #tiktok #viral #foryou #vidigal #foryoupag #riodeja #show #vitrinniloungebeer #ravedefavela ? som original - Wilson Batore
O que tem sido feito
Prefeituras de cidades litorâneas pelo Brasil têm adotado diferentes abordagens para tentar regular a atividade. De 2018 para cá, várias passaram a criar leis específicas para proibir as caixas de som ou usam a lei de perturbação do sossego, condicionando o uso de equipamento sonoro nesses espaços a uma autorização prévia do município.
Talvez a implementação mais radical tenha sido a que foi feita no Guarujá (SP). Lá, a prefeitura não permite nem que as pessoas levem a caixa de som para a praia, mesmo desligada.
Como resultado dessa "linha dura", o município diz que só entre 13 de janeiro e 13 de fevereiro 768 aparelhos foram retirados pelos donos e 144 aparelhos foram apreendidos (os donos se recusaram a cumprir a lei).
Em alguns lugares, como Vitória, a multa para uso de caixa de som na praia pode chegar a quase R$ 10 mil. Na cidade do Rio de Janeiro, a punição é de R$ 500.
Por parte das marcas, a JBL, uma das mais conhecidas do ramo, diz que trabalha na conscientização dos clientes.
Sugerimos que os consumidores curtam ao máximo a temporada [de verão], com respeito e responsabilidade: moderação no volume, escolha de locais apropriados, posicionamento das caixas, dialogar com as pessoas ao redor, respeitar horários e espaços públicos.
Luciano Sasso, VP de vendas e marketing de áudio da Harman [empresa que administra a JBL] para América do Sul
'Não precisa estourar'
Para a maioria dos entrevistados, o uso de caixas de som na praia exige bom senso.
Mesmo Sibila, que gosta de ouvir o som dos outros, diz que se sente incomodada com as competições sonoras. "Às vezes, parece que querem abafar uma música com outra; não precisa estourar a caixa para escutar".
E alguns veem a proibição como uma medida extrema para tentar educar minimamente quem não tem noção.
A proibição pura e simples não é legal. Muitos usam só a caixa para ter um som ambiente, e isso não chega a incomodar. Infelizmente, por conta da falta de noção de meia dúzia, todos acabam pagando
Carlos Augusto Lippel
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