Aviação sustentável? 'Passagem vai ficar mais cara', diz head da Embraer

O assunto do painel realizado nesta terça-feira (12) durante o SXSW, maior festival de inovação do mundo, era espinhoso: "A aviação pode realmente se tornar sustentável?". Enquanto os outros painelistas se esquivavam, o brasileiro César Pereira, head de Inovação da Embraer, foi enfático: se a sociedade quiser mesmo aviões voando com combustível verde, é bom avisar aos passageiros, pois eles também pagarão a conta.

Não tem jeito de colocar o gasto na mão de uma pessoa só. Os governos precisam contribuir com desenvolvimento tecnológico, políticas de incentivos fiscais e linhas de financiamento para desenvolvimento tecnológico. Os fabricantes precisam investir em produtos e na tecnologia. E não dá para tirar o passageiro que quer um céu mais limpo dessa conta: ele precisa ter noção de que a passagem vai ficar um pouco mais cara, como qualquer produto sustentável, que tem um custo embutido
César Pereira, da Embraer

A mesa contava ainda com Andrea Aks, da incubadora norueguesa de startups de aviação Widerøe Zero; Kirsten Bartok Touw, do fundo norte-americano de investimento New Vista Capital; e Aisling Carlson, da incubadora norte-americana de startups para o clima Greentown Labs.

Tecnologia não decola sem economia

Os palestrantes concordam que é necessário investir em tecnologia para ter céus sem carbono em curto prazo. Porém, ninguém sai do lugar se não for economicamente viável.

Já tentamos entender a viabilidade financeira e econômica de uma aeronave regional movida a eletricidade, por exemplo. O que esta pesquisa mostrou é que o grande desafio que temos é o custo pela vida útil da aeronave. Faz sentido também pensar que a energia custará muito mais no futuro, ou pelo menos mais do que custa hoje
Andrea Aks, da Widerøe Zero

Durante a conversa, Pereira pressionou os convidados a não ficarem em cima do muro: se queremos voar de maneira mais verde, quem vai pagar essa conta?

Para Touw, da New Vista Capital, a tecnologia não se constrói sozinho -assim como os custos devem ser compartilhados. "A parceria com as corporações é imprescindível para que tenhamos estrutura. Só assim vamos começar a ver a mudança real acontecendo realmente rápido", diz.

Diante da fila de gente que se formou para chegar ao microfone e fazer perguntas aos executivos, o executivo brasileiro comentou que, "quando se fala de sustentabilidade na área de aviação, o interesse e a paixão das pessoas são muito grandes".

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"O desafio é enorme. Achar o direcionamento correto é a grande questão que enfrentamos como fabricantes de aeronaves que impulsionam a tecnologia. Nós acreditamos que não existe uma única solução", ele diz.

É por isso que indústria, governos e institutos de pesquisa apostam em tantas frentes para atingir a descarbonização do segmento, diz ele: energia renovável; combustíveis sustentáveis; tecnologias de eletrificação da aeronave, como hibridização; hidrogênio em diferentes áreas, como célula de combustível ou combustão direta do hidrogênio.

"Há uma ansiedade grande das pessoas. Todo mundo quer ver isso acontecer amanhã", diz Pereira.

O executivo brasileiro acrescenta que o mercado de aviação aumentou eficiência de seus produtos em mais de 50% nos últimos 100 anos.

"Temos nossa responsabilidade, mas há outras indústrias poluindo muito mais hoje em dia. Nenhum outro ramo evoluiu tanto ou reduziu consumo de combustível como a aviação, que é até relativamente nova perto de outros mercados", diz.

Segundo o head de inovação da Embraer, nos 53 anos de existência, a empresa brasileira vem encabeçando o desenvolvimento tecnológico, tanto de carros voadores elétricos como de aviões.

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O executivo pondera que o ambiente regulatório no Brasil precisa melhorar e acompanhar o desenvolvimento internacional. Nos Estados Unidos, exemplifica, já há incentivos fiscais e política para combustíveis sustentáveis. No Brasil, essa possibilidade ainda está em construção.

"O governo precisa liderar essa discussão das políticas e de um arcabouço fiscal e regulatório que facilite e incentive a adoção de novas tecnologias. Senão, nós não vamos chegar. Vamos ficar para trás", afirma.

Ele declara que o Brasil é referência mundial com o Pró-Álcool (Programa Nacional do Álcool), iniciativa para promover a produção de etanol, e com o sistema de carros Flex, que mistura etanol com gasolina.

"E mesmo assim, nós estamos perdendo a chance de liderar essa discussão com o coletivo de aviação global. Estamos deixando Europa e Estados Unidos [saírem] na frente", afirma Pereira.

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