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De músico sem fãs a startup de US$ 4 bi: ele salva artistas do algoritmo

Jack Conte, CEO do Patreon Imagem: Hutton Supancic/SXSW

De Tilt, em Austin (EUA)

17/03/2024 10h10

Jack Conte entra no palco do SXSW, o maior festival de inovação do mundo, de boné e pochete. Com ares de menino, fala rápida e um carisma irretocável, ele é um contador de histórias.

Também é CEO da Patreon, plataforma de fomento a criadores de conteúdo que já arrecadou US$ 3,5 bilhões desde sua fundação e é avaliada em US$ 4 bilhões. Há 250 mil criadores formando comunidades por lá.

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E tudo começou com a história de fracasso de Jack.

Em 2007, trabalhando como músico, ele fazia diversos shows. O desafio era atingir as pessoas que gostavam de sua música, mas as casas noturnas estavam sempre vazias. Agora, a ideia parece simples, mas, naquela época, ele aderiu a uma novidade: postou suas músicas gravadas no YouTube. Primeiro, vieram visualizações esporádicas. Com a invenção do botão de "inscrever-se", Jack se deparou com a possibilidade de ver seguidores surgirem. Eram pessoas que e queriam receber o próximo vídeo.

Isso mudou o futuro da criatividade na internet. Era muito melhor do que tocar em bares vazios. De repente, percebi que as casas começavam a lotar. (...) Um dia, tinha US$ 30 mil na minha conta. Nunca tinha visto tanto dinheiro junto. O botão de 'inscrever-se' mudou minha vida. É o mais perto de magia que já vivi
Jack Conte, CEO do Patreon

Criando comunidades

Para ele, o botão do Youtube é o começo da ideia de seguidor, depois popularizado em outras redes sociais. Ao ver gente interessada em sua música, Jack expandiu: vendeu sabonetes com o logo da banda, pen drives de música e a fez campanhas ao disponibilizar online discos novos para quem doasse livro para a biblioteca da cidade norte-americana de Richmond - ela teve que alugar containers para guardar tudo.

Quando o Facebook criou o ranking por engajamento, tudo mudou. "O novo sistema das redes sociais funcionava para as Big Techs, porque mais gente ficava por mais tempo rolando a tela. Mas foi péssimo para a criatividade do artista. Meus seguidores podem não ver minhas postagens e eu deixo de fazer o que é importante para eles. Não penso mais nos meus objetivos para fazer um conteúdo que se espalhe. Me preocupo apenas com os objetivos do algoritmo", ele diz.

O surgimento do TikTok, no começo dessa década, acentuou essa transformação - a navegação "para você" não permite a criação de comunidades. O algoritmo decide o que você vai ver.

"Há algo muito importante para os criadores de conteúdo: se você não está se conectando com sua audiência, não é sua culpa. Eu não acho que o seguidor vai morrer", afirmou Conte em um painel do SXSW nomeado para sugerir justamente o contrário: "A morte do seguidor".

O próximo movimento, segundo ele, é que o criador aja a seu próprio favor. Ele cita plataformas novas, como o Kejabi, Moment House, Gumroad e Fourth Wall, focadas em conexões reais. E afirma que seu objetivo na liderança da Patreon é focar no seguidor verdadeiro. "Tem um jeito melhor da arte existir na internet", ele afirma.

O princípio se constrói pautado em três valores principais:

  • comunidade;
  • comercialização;
  • filiação gratuita - porque fãs normalmente não querem pagar.

Quero que as pessoas voltem a sentir o calor de ser parte de uma comunidade
Jack Conte

Ele diz antes de finalizar com três conselhos para o criador de conteúdo na internet:

  1. investir em fãs de verdade;
  2. fazer coisas bonitas;
  3. saber o que você quer e confiar nisso.

Eu quero dizer algo que importe para alguém. Eu quero dizer algo que apenas eu posso dizer por causa das experiências que vivi. Algo que seja singularmente meu. Descobrir como expressar a verdade humana central em minha experiência, e comunicá-la de forma eloquente, clara e autêntica, e que outra pessoa veja isso e pense: 'sim, isso parece verdadeiro'. E eu quero que essa pessoa se sinta conectada a mim, mesmo que nunca tenhamos nos encontrado antes em nossas vidas
Jack Conte

Ao dizer isso, ele é ovacionado. E completa: olhar para trás é um bom jeito de focar lá na frente para entender qual a nossa parte na mudança que queremos no mundo digital.

À medida em que navegamos nesta próxima fase da internet como pessoas criativas, enquanto passamos por altos e baixos da web, em seu estado sempre em evolução, não esqueça o que é importante para você como artista. Não esqueça o que te enche de orgulho ao criar. Não esqueça seu propósito: por que você acorda de manhã e dedica seu tempo e energia à sua arte? Isso dá um sentido de significado como pessoa criativa. E por último, não esqueça de se entregar completamente ao seu trabalho
Jack Conte

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