Cortella: 'Tenho suspeitas sobre encantamentos exagerados em relação à IA'
Renato Pezzotti
Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro
16/04/2024 17h02
O uso de ferramentas com inteligência artificial já faz parte do dia a dia de 74% das micro, pequenas e médias empresas, segundo um estudo recente da Microsoft. O levantamento, que ouviu líderes de 300 companhias brasileiras, ainda aponta que 90% deles buscam adotar tecnologias desse tipo. O consumidor brasileiro, por sua vez, é o segundo mais entusiasmado com a IA generativa (capaz de gerar conteúdos) entre 10 países, atrás apenas dos indianos, aponta um estudo da consultoria Thoughtworks.
Apesar desse grande interesse, o filósofo Mario Sergio Cortella pede cuidado quando o assunto envolve IA: "a parcimônia é decisiva nesses casos", afirmou, em entrevista exclusiva à reportagem de Tilt, antes de sua participação na abertura do evento Web Summit Rio, realizado nesta semana no Rio de Janeiro.
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Eu tenho uma longa atividade no mundo da escrita e da comunicação, mas uma das coisas que me coloca no campo da filosofia é carregar algumas suspeitas sobre encantamentos exagerados.
Mario Sergio Cortella
O que aconteceu
Cortella participou de um painel dedicado à criatividade nesta terça-feira (16), durante apresentação que marcou a chegada oficial da ferramenta ManyChat, que usa inteligência artificial para gerar respostas automatizadas, ao Brasil.
Participaram ainda Pedro Cortella, fundador da agência Sophia, empresa que administra as redes do filósofo, e Flavia Rosario, diretora geral da ManyChat no Brasil.
Não tenho nem formatolatria, uma adoração pelo mundo da tecnologia, nem formatofobia, que é uma recusa disso. Não tenho essa sedução de que [as ferramentas de IA] são uma alternativa exclusiva, mas não tenho nenhuma tolice de imaginar que esse não seja um caminho.
Mario Sergio Cortella
Atualmente, Cortella tem mais de 20 milhões de seguidores em suas redes sociais. A ferramenta de inteligência artificial da ManyChat, utilizada por sua equipe, apenas identifica possíveis interações com quem busca produtos relacionados ao filósofo. Segundo Pedro Cortella, entre 15% e 20% da captação de novos clientes vem da utilização da ferramenta.
A ferramenta é excelente, mas o que não pode haver é a simulação do contato. Isso pode ter uma eficácia imediata, mas abala a criatividade e reputação.
Mario Sergio Cortella
Automação nas redes sociais
A ManyChat, fundada em 2015, usou o Web Summit Rio para anunciar sua chegada ao Brasil. O país é, atualmente, o 2º maior mercado da empresa em todo o mundo.
Segundo Flavia Rosario, a ManyChat já teve cerca de 200 mil clientes no Brasil, entre empresas e criadores de conteúdo.
A ferramenta é um 'chatbot': a partir de termos e palavras utilizados nas mensagens recebidas nas redes sociais, o sistema responde automaticamente, a partir das definições feitas pelos proprietários dos perfis.
Quando você gera respostas em escala, economiza muito do tempo desse criador de conteúdo ou desse pequeno negócio, que não fica respondendo mensagem a mensagem. No dia a dia, isso aumenta conversão, vendas e relacionamento com o público-alvo.
Flavia Rosario, diretora-geral da ManyChat
Impacto da IA no futuro do trabalho
A adoção de ferramentas de respostas automáticas, como a ManyChat, tem ampliado a discussão sobre o impacto da transformação digital no ambiente de trabalho.
Segundo um relatório divulgado no começo do ano pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a inteligência artificial vai afetar 40% dos empregos em todo o mundo.
Já temos a IA no cotidiano há muito tempo, mas ela não tinha essa capacidade de agora. A tecnologia é absolutamente decisiva, alterou o nosso modo de presença e nos carrega os alertas. Não seja possuído por aquilo que você possui, como diz Millôr Fernandes. Sem catastrofismo, mas sem triunfalismo.
Mario Sergio Cortella
Mas como a IA está transformando as empresas - e a força de trabalho? As empresas estão acelerando seus investimentos em inteligência artificial, mas será que estão trabalhando por um impacto positivo?
Para Justina Nixon-Saintil, vice-presidente e diretora de impacto da IBM, que também esteve na abertura do Web Summit Rio, 6 em cada 10 pessoas precisam ser treinadas para adquirir novas habilidade de forma urgente. Segundo a executiva, isso passa pelas empresas, que precisam dar acesso gratuito a treinamentos.
Justina destacou a iniciativa IBM SkillsBuild da empresa, que possui mais de 1.000 cursos, em diferentes línguas, de campos como dados, cibersegurança e inteligência artificial, e que é aberto ao público em geral.
O acesso gratuito a treinamentos, dos mais variados formatos, faz parte de um movimento social que é muito importante para as empresas. Grupos minorizados vão ficar para trás se não estiverem prontos para usar as novas tecnologias.
Justina Nixon-Saintil, VP de impacto da IBM
Já para Marcelo Braga, presidente da IBM Brasil, o uso dessas novas ferramentas também passa por um letramento dos executivos que ocupam altos cargos nas empresas.
O engajamento executivo é fundamental. Não é sobre TI (tecnologia da informação), não é sobre inovação. É sobre como tudo pode ser feito de maneira nova.
Marcelo Braga, presidente da IBM Brasil