Elas na garupa: o que explica tantas mulheres usando moto por aplicativo?
O transporte de moto por aplicativo se tornou bastante comum em várias cidades brasileiras, e chama a atenção a quantidade de mulheres que usam o serviço. Uma pesquisa da 99 mostrou que as mulheres de periferia são o público predominante na 99Moto, modalidade de transporte de passageiros por moto da empresa.
Mulheres na garupa
Mais da metade dos usuários de 99Moto são mulheres: 59% nas mais de 3.000 cidades em que está presente —em carros, a porcentagem de usuárias é um pouco menor: 57%.
Apesar disso, dentre as condutoras de moto por app apenas 10% são do sexo feminino, segundo a companhia. A empresa diz que fará investimentos para tentar atrair mais esse público nas cidades onde atua.
No recorte por idade, a grande maioria das usuárias tem entre 24 e 44 anos (57%), seguida por pessoas com mais de 44 anos (26%) e com faixa entre 17 e 24 anos (17%). Dois terços das corridas feitas na plataforma (66%) são realizadas fora das regiões mais ricas das capitais onde opera. A modalidade de moto por app acaba saindo mais em conta para as passageiros.
Por que as mulheres preferem a moto?
Entrevistamos as passageiras de moto e elas disseram que se sentiam mais seguras numa moto do que em um carro. Uma das questões é que no carro você está num lugar fechado, enquanto na moto, é aberto, à vista de todos. Se houver algum problema ou se sentir ameaçada, pode sair da garupa.
Luis Gamper, diretor de duas rodas na 99
Menos margem para assédio foi outro ponto destacado. Como o tempo de corrida é curto, as possibilidades de assédio tendem a ser menores. De qualquer forma, diz o executivo, quem se sentir incomodado (tanto condutor como passageiro) pode reportar para o aplicativo. Como ocorre com os carros, é possível também compartilhar a rota com um terceiro ou até mesmo notificar algum perigo durante o trajeto.
Trabalho e consultas são os trajetos mais procurados. Entre os percursos mais realizados pelo público feminino estão ir ao trabalho (62%) e ir a consultas médicas (45%). Em momentos livres, a preferência é por visitar amigos ou namorado/namorada (65%) e passeio em shoppings, praias ou parques (60%).
Marcus Quintela, diretor da FGV Transportes (centro de estudos de mobilidade urbana da instituição), diz que vê mais mulheres como passageiras de moto por app ou mototáxi e aponta como possível fator a questão da sensação de segurança. Quintela ressalta, porém, que deve haver melhores soluções técnicas para as mulheres. No transporte por moto, é comum que o condutor leve um capacete e ele seja compartilhado pelos diferentes garupas. Isso pode ajudar a transmitir doenças —uma touca descartável ou um lenço podem ajudar. A 99 chega a sugerir que a pessoa tenha um capacete próprio para evitar problemas.
Riscos
A motocicleta exige cuidados, tanto para quem dirige tanto para quem é garupa. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, os principais erros que levam a acidentes de moto são: não uso do capacete, direção sob efeito de álcool ou drogas, velocidade, inexperiência, erros de frenagem, mudança de faixa e competição entre condutores.
Onde tem transporte por moto?
Mototáxi é uma modalidade comum em várias capitais e em cidades médias. Grandes plataformas de carona, como 99 e Uber, começaram a aproveitar a popularidade com carros para oferecer também a modalidade de transporte por moto. Antes disso, havia uma predominância de soluções locais. Em São Paulo, a prefeitura publicou um decreto proibindo a modalidade.
Formalmente tanto 99 como Uber não usam o termo mototáxi para se referir à modalidade de transporte oferecida por elas. Na legislação, mototáxi tem regulação municipal, enquanto o transporte público individual em motocicletas tem legislação federal. A 99 diz estar em mais de 3.300 municípios. A Uber não revela em quantas cidades está presente, mas diz que foi pioneira (iniciando no fim de 2020, em Aracaju) e que tem cobertura maior que a concorrente. Boa parte das capitais já tem soluções de mototáxi.
Uma das exceções é a cidade de São Paulo, onde 99 e Uber estrearam o serviço em janeiro de 2023 e posteriormente foram proibidas por meio de um decreto assinado pelo prefeito Ricardo Nunes. O volume de acidentes fatais envolvendo motos é uma preocupação do município. Na época, Nunes disse que criaria um grupo de trabalho para avaliar a disponibilidade do serviço.
*O jornalista viajou para a cidade do Rio de Janeiro a convite da 99