Fim do ICQ: serviço de mensagens encerra atividades em junho, após 28 anos
Rute Pina
De Tilt, em São Paulo
27/05/2024 16h25
Se um dia você teve ICQ, seu número finalmente deixará de existir. A empresa russa VK, que administra o serviço desde 2010, anunciou na sexta-feira (24) que o serviço deixará de funcionar a partir de 26 de junho.
História do ICQ
Muito antes do WhatsApp,o ICQ foi um dos primeiros serviços de mensagens instantâneas, como o AOL Instant Messenger ou o MSN Messenger, que permitiam conversas em tempo real.
Além do alerta "Uh oh!" que tocava quando você recebia uma mensagem, o serviço se diferenciava dos outros por atribuir aos usuários um número. Esse número era usado para se conectar uns aos outros, em vez de apelidos ou endereços de email.
Também tinha recursos incomuns, como envio de SMS e a capacidade de enviar mensagens para pessoas que estavam offline.
O ICQ foi criado em 1996 pela empresa israelense chamada Mirabilis. O nome é um "jogo de letras" em inglês que significa "I seek you" (algo como "Eu procuro você"). Em 1998, o app foi comprado pela AOL (America Online).
A plataforma chegou a ter 100 milhões de usuários registrados em 2001. A AOL vendeu o serviço para a Digital Sky Technologies, a empresa que possuía a VK, então conhecida como Mail.ru, em 2010.
Na época, o uso do ICQ no Brasil era majoritariamente feito pelo computador. Era necessário ter o programa (baixado ou instalado via CD-ROM), conectar-se à internet e fazer um cadastro. Como resultado, a pessoa ganhava um número de identificação único.
Denúncias de pornografia infantil
Em setembro de 2023, a plataforma foi bloqueada no Brasil pela Justiça do Distrito Federal, após pedido da Polícia Federal, por disseminação de pornografia infantil.
Segundo comunicado da PF, houve "inúmeras tentativas infrutíferas de comunicação com o aplicativo", que vem "sendo utilizado para disseminação de vídeos e imagens de crianças e adolescentes em condição de nudez e/ou sendo abusadas sexualmente".
O bloqueio do ICQ em território nacional contou com a ajuda da Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações), que solicitou aos mais de 19.200 provedores do território nacional para impedir o uso do app e da interface web.
O ICQ, na verdade, servia como uma espécie de repositório. Os links com conteúdo ilegal eram compartilhados em grupos abertos em outras redes sociais, como o Facebook, Twitter ou Instagram. Nesses links do ICQ, membros do grupo podiam comprar imagens de pornografia infantil.
Como resultado, o Google bloqueou em meados de junho o download do aplicativo em sua loja. O compartilhamento de tais conteúdos é tipificado como crime de abuso sexual infantil, que está previsto no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), além do crime de estupro de vulnerável, presente no Código Penal.