5 golpes que aprendi com criminoso que inspirou 'Prenda-me se For Capaz'
Aquele famoso filme com o Leonardo DiCaprio, "Prenda-me se For Capaz" é baseado na história real de Frank Abagnale, que aos 16 anos, após fugir de casa, começou a dar golpes para conseguir dinheiro. Em passagem pelo Brasil a convite da Único, empresa brasileira de tecnologia em Identidade Digital, o americano mostrou como é fácil aplicar golpes.
Frank não ficou impune por seus crimes e foi preso na França, na Suíça e nos Estados Unidos. Em seu país de origem, a condição para que pudesse ter liberdade condicional era ensinar para os agentes federais como ele conseguia aplicar aqueles golpes —aulas que nunca pararam.
"Trabalho para a Academia do FBI há quatro décadas e já participei de três mil seminários ao redor do mundo sobre crimes digitais e fraudes", diz. Para ele, três pilares de conhecimento são primordiais para evitar que crimes aconteçam: educação, prevenção e validação.
Ensinando como os crimes acontecem, você passa a entendê-los melhor. Suas chances de se tornar uma vítima diminuem. Frank Abagnale
Tilt participou de uma palestra com o especialista de segurança. No papo, ele deixou claro como, em algumas situações, é fácil enganar e fraudar documentos em busca de dinheiro e benefícios. Veja a seguir.
1. Tecnologia artificial em reuniões
No mundo das chamadas de vídeo, ficou ainda mais fácil enganar as pessoas fazendo uso da inteligência artificial. Basta um e-mail e um vídeo bem feito que você consegue ludibriar uma empresa inteira. Foi isso que aconteceu com uma corporação em Hong Kong.
"O CEO, que não estava na empresa, mandou um e-mail para a equipe do financeiro marcando uma reunião. No horário marcado, todos estavam na sala e, por vídeo, o CEO e o CFO explicaram por cerca de meia hora que iriam comprar uma nova companhia e que precisavam que 25 milhões de dólares fossem transferidos para uma outra conta", diz Abagnale.
A equipe atendeu ao pedido, mas tudo não se passava de um golpe. A voz e a imagem do CEO e CFO foram criados por inteligência artificial —com conteúdos facilmente encontrados nas redes sociais. O e-mail era falso. E, sim: o dinheiro foi transferido e eles perderam essa bolada.
Como não cair no golpe:
Procure por inconsistências nos movimentos faciais, expressões ou movimentos corporais que pareçam estranhos ou não naturais. Observe se há desalinhamentos nos olhos, boca ou outras partes do rosto.
Verifique se as palavras correspondem corretamente aos movimentos labiais e se as expressões faciais são apropriadas para o contexto do vídeo.
Avalie se a iluminação no rosto se alinha com o ambiente ao redor. Inconsistências na iluminação podem indicar manipulação.
Sempre cheque com superiores mais de uma vez e por diferentes meios quando for solicitada transações ou informações valiosas. Se puder, verifique em uma conversa ao vivo.
2. Informação nas redes
Quanto de sua vida você compartilha na internet? Faz isso em tempo real? Essa é uma das principais fontes de informação dos golpistas e eles nem precisam se esforçar para encontrar detalhes valiosos.
"Supostamente, o CEO de uma empresa do sul da Califórnia enviou um e-mail para o CFO de uma outra companhia. O texto era bem simples e dizia: 'Bom dia, John. O nosso jantar ontem foi maravilhoso. Por favor, agradeça Susan, sua mulher, pela companhia. Helen, minha esposa, adorou. Como falei, vou para uma conferência e estarei fora do escritório até a próxima segunda-feira, mas esqueci de dizer que preciso que você me transfira os fundos sobre aquele cliente. Disse que teríamos os valores até às 11 da manhã. Te aguardo'.", narrou Abagnale.
"Todas as informações estavam disponíveis na internet: fotos nas redes sociais com os nomes das pessoas, post no Facebook sobre a conferência —e por quantos dias ficaria lá. Tudo isso foi convertido para um e-mail bem impressionante", conta Abagnale.
Mais uma vez, tchau dinheiro. A empresa caiu no golpe.
Como não cair no golpe:
Evite compartilhar localizações na internet
Se quiser postar uma foto de um encontro ou algo do tipo, evite que seja em tempo real.
Não compartilhe informações valiosas online.
3. Documento falso
O roubo de identidades, principalmente de crianças, cresce a cada ano. Em 2012, mais de 10% das crianças já tinham suas identidades roubadas. Na deep web, segundo Abagnale, comprar todas as informações de um bebê recém-nascido não é tão caro. É possível fazer isso por um pouco mais de US$ 10. E com o conhecimento certo nos Estados Unidos, você consegue documentos em nome de outras pessoas sem sair de casa.
"Vi um caso no jornal de roubo de identidade que funcionou da seguinte maneira: uma pessoa com idade semelhante à do golpista morreu em um acidente de carro. Ele vai ao cartório da sua cidade e pega atestado de óbito, que é um documento público. No mesmo corredor, consegue uma cópia da certidão de nascimento. Usando o que tem, dá entrada uma carteira de motorista e, com ela em mãos, abre uma conta no banco. Tudo sem sair de casa e com dados que não são seus", diz Abagnale.
O especialista alerta: quanto mais jovem for a pessoa da identidade roubada, melhor para os criminosos. "Essa criança não vai pedir empréstimo ou dar entrada em grandes compras nos próximos 18 ou 20 anos, dando a liberdade do uso sem preocupação", explica.
Como não cair no golpe:
Evite compartilhar ou confirmar informações valiosas online ou por telefone, especialmente de crianças.
Não poste sobre aniversário ou até fotos da festa no dia em que ela ocorre.
Não passe informações pessoais para qualquer pessoa —cheque se está em ambiente seguro.
Nunca deixe o documento com um desconhecido quando você não estiver por perto.
Nunca forneça seus dados pessoais para pessoas estranhas.
4. Cheque (quase!) em branco
Um dos golpes que Abagnale aplicou foi em uma companhia aérea, quando ele fingiu ser piloto. Na época, só existia contato telefônico e, segundo ele, foi muito difícil conseguir falsificar os documentos de que precisava. Hoje, com a tecnologia, afirma: é muito mais fácil.
"Você entra no site da empresa e pega um logo que ela usaria em cheques para pagamento. No computador, consegue copiar esse layout em 15 minutos. Aí, basta comprar papel de cheque em uma papelaria e imprimi-lo em casa", explica o especialista.
"Quando eu falsifiquei os documentos, inventei tudo. Mas hoje em dia basta telefonar para conseguir detalhes", diz.
Como não cair no golpe:
Os cheques se tornaram cada vez mais raros no dia a dia dos brasileiros, mas ainda existem.
Evite andar com o talão ou folhas já assinadas.
Não deixe as folhas de cheques em cima do balcão da loja ou à vista de outras pessoas.
Porte apenas as folhas que for utilizar no dia.
5. Seu CPF no papo
Abagnale define sua habilidade de levar as pessoas no papo para conseguir informações como engenharia social. Conversas descontraídas podem entregar para pessoas mal intencionadas muito sobre nossas vidas.
Nos Estados Unidos, o Security Number (que seria como o nosso RG ou CPF) tem nove dígitos, e os três primeiros de quem nasceu até 2013 é composto por números referentes ao ano e estado em que você nasceu. Os quatro últimos, são usados em várias transações para garantir a veracidade das pessoas.
"Para transações de segurança, pede-se apenas os quatro dígitos finais, o que é bem seguro. Depois de ter essa informação, você pode puxar a conversa como: 'Aliás senhor, percebi que você tem um sotaque do Sul'. E a pessoa responde: 'Sim, sou nascido e criado no Alabama'. E aí você continua: 'Acho que temos a mesma idade. Você tem 49?' e a pessoa responde: 'Nada disso, fiz 52'. Pronto, ela disse o ano e o local que nasceu para você", exemplifica o ex-golpista.
Isso deixa apenas dois números para serem "adivinhados" por bandidos.
Como não cair no golpe:
Não informe os números dos seus documentos quando participar de sorteios.
Nunca deixe o documento com um desconhecido quando você não estiver por perto.
Nunca forneça seus dados pessoais para pessoas estranhas.
Não faça cadastros em sites que não sejam de confiança.