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'Design manipulativo' e mais: os 'trombadinhas de atenção' das Big Tech

Ruam Oliveira

Colaboração para Tilt, de São Paulo

15/06/2024 04h05

Você está sendo roubado e nem está percebendo. Não se trata de nada físico, mas de algo mais pessoal. Trata-se da sua atenção. E ela começa a ser desviada quando o smartphone vibra ao receber uma notificação.

Elas foram feitas para desencadear um processo dentro do nosso cérebro para a gente sentir aquele sentimento gostosinho que sentimos da primeira vez que clicamos naquela primeira notificação e abriu um post de rede social de alguém que a gente queria muito ver
Helton Simões Gomes, colunista do UOL

As notificações ativam a dopamina, o hormônio da felicidade, no cérebro. Essa e outras estratégias de plataformas digitais foram discutidas no Deu Tilt, podcast do UOL para humanos por trás das máquinas. Diogo Cortiz, também colunista e apresentador do programa, encontrou uma saída: fechou as portas para as notificações.

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Anteriormente, qualquer notificação eu ia ver e acabava entrando em um universo paralelo e não voltava mais. Nem lembrava o que eu estava fazendo
Diogo Cortiz

Impacto do design

Diogo decidiu desativar as notificações após o que encontrou em suas pesquisas sobre como as empresas de tecnologia criam designs pensando em moldar determinados comportamentos.

Olhando para um setor muito específico - que são as redes sociais -, elas têm vários mecanismos que são feitos para te manter ali dentro. São os trombadinhas de atenção
Diogo Cortiz

Exemplo disso é o botão de curtir, outra das ferramentas de interação criadas para injetar dopamina, tanto em quem curte quanto em quem é curtido. Na esteira, vieram as reações de carinhas bravas, nojo ou os aplausos. Tudo pensado para mexer com a química cerebral.

Outras mudanças são feitas para incentivar o usuário a continuar criando conteúdo para a plataforma. É o caso da ocultação das curtidas no Instagram. Apenas o autor do post tem acesso à quantidade de corações recebidos. Isso ocorreu, explica Diogo, porque a expectativa de curtidas afetava o desejo de alguém publicar determinado conteúdo.

Mudaram o design da aplicação, não pensando em você, mas, sim, na plataforma
Diogo Cortiz

Ou seja, inicialmente criaram um artifício para a gente ficar engajado na plataforma e depois criaram outro artifício para corrigir a primeira armadilha, para que de alguma forma a gente coloque mais conteúdo nessa plataforma
Helton Simões Gomes

O que é design manipulativo?

As ações deliberadas que visam alterar a maneira como as pessoas interagem com as plataformas são conhecidas como "design manipulativo" ou "desing deceptivo", conta Diogo, que pesquisa o tema.

Os casos são vários. Inverter os botões de "sim" e "não" ou as cores associadas a essas decisões ("verde" e "vermelho") na hora do cancelamento de assinaturas. A rolagem de página infinita, presente não apenas em muitos sites, como também nas principais redes sociais e até mesmo na busca do Google.

Experiência do usuário é mesmo para o usuário?

Diogo Cortiz lembra que parte do objetivo de quem desenha essas funções é garantir que haja fluidez no uso das plataformas. É a área conhecida como UX, que pensa na experiência do usuário.

O que acontece quando você deixa a experiência mais fluida possível é que o usuário não precisa pensar
Diogo Cortiz

E esse comportamento pouco reflexivo do usuário é ótimo para as plataformas. É quando você está distraído que autorizações para dados pessoais serem usados de forma imprópria podem ser dadas.

Foi o que ocorreu no caso da Cambridge Analytica, que roubou dados de usuários do Facebook por meio de um jogo na rede social para depois usá-los em uma campanha política. A empresa conseguiu até informações dos amigos dessas pessoas.

O desenvolvedor do jogo usou esses dados para entender qual era a propensão dessa pessoa e de seus amigos a serem atingidos por propagandas políticas de modo que elas pudessem mudar o [próprio] voto. Ou seja, foi algo que nasceu do design e acabou interferindo no processo democrático de vários países
Helton Simões Gomes

Algoritmo: o grande olho

Para além do design manipulativo, os algoritmos também interferem diretamente no comportamento das pessoas, explica Diogo Cortiz. Eles são os principais motores de manipulação de preferências e de como manter as pessoas nas plataformas.

O algoritmo conhece muito bem suas preferências. Ele é como um grande olho, que entende suas preferências e que de uma certa forma acaba restringindo seu livre arbítrio
Diogo Cortiz

Do polegar à memória: é assim que corpo humano é deformado pela tecnologia

Rayban da Meta, Apple Vision: óculos high tech serão o próximo queridinho?

Deu Tilt

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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