Videogame vai acabar? Jogo tipo Netflix quebra o galho, e não é barato
Muita gente cresceu se divertindo com videogame: um console em casa conectado a uma TV. Mas isso parece estar prestes a mudar, porque grandes empresas do ramo estão oferecendo opções para jogar diretamente pela internet, seja no seu computador ou até na televisão, sem precisar baixar os jogos.
A tecnologia existe, e há ofertas em diferentes plataformas. No entanto, ainda não está, digamos, tudo redondo, o que dificulta decretar "a morte do console".
O preço da assinatura, por exemplo, não é dos mais baratos (com valores na casa dos R$ 50/mês), os gráficos e definição ainda não são os mesmos de um console e ainda tem a questão da internet, que precisa ser boa e estável, além do número limitado de títulos.
O consumo de música e vídeo foi para o streaming. Então, o entretenimento de games deve passar por um processo parecido. É muito prático jogar na nuvem, entrando numa plataforma e apertando poucos botões. O maior desafio é entregar um desempenho parecido, o que deve levar um tempo Carlos Silva, sócio da Go gamers, idealizadora da PGB (Pesquisa Game Brasil)
Por que games via streaming?
A definição de jogo na nuvem é permitir que pessoas joguem games de PC ou de console rodando direto da internet, usando um smartphone ou algum dispositivo conectado, podendo ser um tablet, navegador de um computador ou até uma televisão.
Desde 2020, a indústria começou a sinalizar para essa possibilidade. O Google começou com o Stadia, mas em 2022 deixou de lado por falta de usuários. Hoje em dia, as gigantes por trás dos principais consoles têm assinaturas à la Netflix que possibilitam jogar online e ainda baixar games: a Microsoft, com o Game Pass Ultimate (R$ 50/mês), e a Sony, com o Playstation Plus Deluxe (R$ 59,90/mês).
Fora as empresas que vendem console, há serviços que correm por fora. A Amazon tem o Amazon Luna (indisponível no Brasil), enquanto a Nvidia tem o GeForce Now (R$ 64/mês).
Você assina um desses serviços num esquema tipo Netflix e os acessa em dispositivos compatíveis. Na sequência, é necessário parear um controle e começar a jogar.
Para jogadores casuais que queiram testar games de console, mas não querem comprar um videogame, pode ser uma ótima alternativa [jogar direto na nuvem]. No entanto, isso representa ainda um número muito pequeno. O jogador médio vai continuar satisfeito com seus games no celular George Jijiashvili, analista sênior de games consultoria Omdia
A consultoria de mercado Omdia estima que menos de 5 milhões de pessoas pagam por serviços exclusivos para jogar direto na nuvem.
A tendência é parecida no Brasil, segundo a PGB (Pesquisa Games Brasil) 2024. Levantamento diz que o streaming (acesso de game direto na nuvem) é a 5ª "plataforma" em que jogadores utilizam todos os dias, com 7,6%, ficando atrás de dispositivos móveis (29,4%), computador (14,3%), consoles (12,9%) e outros (Smart TV, mini games, etc).
No geral, ainda segundo a consultoria Omdia, o serviço de assinatura de games mais famoso do mundo é o Game Pass Ultimate, da Microsoft, com cerca de 15 milhões de assinantes.
A questão, no entanto, é que jogar pela internet (Xbox Cloud Gaming) é apenas um dos benefícios dele - essa assinatura mais cara costuma ser usada para baixar uma seleção de games, além ter acesso a benefícios extras (como acesso a jogos do EA Play, como Fifa, e benefícios extras como assinatura do EA Play e benefícios de jogos da Riot Games). O mesmo vale para o Playstation Plus Deluxe, que oferece salvamento de games online, entre outros.
Os gargalos de se jogar diretamente na internet
- Preço
Gastando pelo menos R$ 50 por mês (no caso o Game Pass Ultimate) já dá para ter acesso a uma boa seleção de games, inclusive títulos AAA [como são chamados games famosos]. Lá tem Forza Horizon 5, Mortal Kombat 11, Gears of Wars, entre outros. Em breve, o serviço também contará com games da franquia Call of Duty, um dos jogos mais populares do mundo.
Segundo executivos da indústria, as empresas devem mirar em exemplos semelhantes aos de streaming de vídeo, que tem diferentes planos. No caso dos games, por exemplo, em vez de liberar um acervo completo, poderá haver uma seleção de games, sendo uma alternativa para quem tem um computador ou um celular, mas não tem dinheiro para comprar um console novo. Outra possibilidade é oferecer planos mais baratos, mas com exibição de propagandas.
- Resolução e internet
Um dos grandes gargalos é que por mais que os jogos rodem em datacenters poderosos na nuvem, é difícil reproduzir a mesma resolução que um console ou um PC equipado com placa de vídeo conseguem.
No Xbox Cloud Gaming, por exemplo, a resolução máxima é 1080p (FullHD) a 60 fps (frames por segundo) - medida de atualização da tela, que é relevante, sobretudo em jogos de tiro. Já no GeForce Now, a resolução é 720p a 60 fps - fora do Brasil, a plataforma consegue entregar até 120 fps.
Em consoles modernos, como Xbox Series X e Playstation 5 é possível rodar games em resolução 4K a 120fps.
Sem contar a conexão a internet, que precisa ser rápida e o mais estável possível — caso contrário, quadros são "comidos" do jogo e se perde a sequência de uma jogada, por exemplo. As plataformas sugerem pelo menos 15 Mbps (megabits por segundo) para poder jogar de forma satisfatória.
Ok, mas o console vai morrer mesmo?
A princípio, não. A estratégia de fornecer jogos na nuvem acaba sendo, segundo o analista Lewis Ward, da consultoria de mercado IDC, "uma outra forma de acessar games que existem atualmente". No futuro, argumenta, teremos jogos que só rodam na nuvem e a partir do momento que houver algum de sucesso, ele será um marco este ramo.
George, da Omdia, argumenta na mesma linha. Ele diz que hoje em dia os games que estão na nuvem foram feitos para consoles ou PCs, então nos próximos anos haverá mais jogos pensados para serem rodados direto da internet. "Certamente esses games via streaming serão mais adaptados para a internet, vão ficar melhores e as pessoas vão jogá-los. Agora, se algum dia essa vai ser a forma principal que as pessoas jogam, é difícil saber".
Os consoles não têm apresentado sinal de enfraquecimento. Segundo dados da Omdia, 53,1 milhões de unidades do Playstation 4 foram vendidas nos quatro primeiros anos de venda; no Playstation 5, foram comercializadas 52,6 milhões na mesma faixa de tempo.
Em 2020, Jim Ryan, chefe da Sony Interactive Entertainment, disse ao jornal britânico Financial Times que o PS5 seria o último console da marca. No início deste ano, a empresa informou em resultado financeiro que o videogame foi o mais lucrativo já feito pela companhia. "Tudo isso sugere que o ramo de console não está apresentando sinais de desinteresse das pessoas, e há grande chance de haver um PS6", explica George, da Omdia.
*O jornalista viajou a convite da Microsoft