2º Dia de Tech Trends mostra poderes públicos famintos por inovação

Em uma semana cheia de eventos de tecnologia em São Paulo, o Tech Trends 2024 fez sua estreia em um pavilhão do Expo Center Norte para agregar diversos agentes interessados em pensar em inovações. E se no primeiro dia da feira a palavra de ordem era inteligência artificial, no segundo parece que a política tomou o lugar.

Movimentação na Startup Village, no segundo dia do Tech Trends
Movimentação na Startup Village, no segundo dia do Tech Trends Imagem: Divulgação Tech Trends

O evento estava ligeiramente mais vazio do que no primeiro dia e, passadas as novidades dos estandes, a maioria dos frequentadores preferiu se concentrar nas palestras e debates sobre temas como plataformas digitais para governos, compras públicas de soluções inovadoras, justiça algorítmica e LGPD. Veja um pouco abaixo:

IA pode trazer transparência aos governos

Com roupa social e camiseta da Microsoft, Carlos Teixeira subiu ao palco para falar sobre como a empresa trabalha com inteligência artificial para oferecer soluções para o governo.

O executivo, que lidera a área latino-americana de serviços para governos na Microsoft, defendeu que o uso de IA pelos órgãos públicos não só pode servir para colaborar com o ganho de gestão e economia dos funcionários, mas também para trazer transparência e aproximar governos dos cidadãos.

Teixeira defende que a IA generativa pode gerar impactos econômicos significativos em basicamente qualquer área pública, como segurança, saúde e educação. Relatório da Microsoft reforça a ideia e estima que, até 2033, governos poderão ter US$ 1,75 trilhão de ganhos em produtividade anual.

Hoje é uma realidade no Brasil e na América Latina governos avançando no uso de aplicações de IA ou na digitalização, como vimos no uso do Gov.Br, por exemplo. Mas ainda tem muito para acontecer no âmbito dos estaduais e municipais.

É possível ter justiça com algoritmos?

Uma das poucas pessoas negras a subir em um dos palcos, Nina da Hora, pesquisadora, cientista da computação e responsável pelo Instituto da Hora falou sobre justiça algorítmica.

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O conceito foi trabalhado por Da Hora a partir das ideias de Justiça de John Rawls, professor de Harvard com quem ela estudou, e propõe que a IA seja utilizada para reduzir desigualdades, e não para reproduzir de forma automatizada.

"Para que isso aconteça, você tem que garantir que o processo de desenvolvimento de uma IA seja horizontal desde o começo", diz. Se você desenvolve uma tecnologia como o ChatGPT apenas com alguns executivos no Vale do Silício, sem incluir diversos agentes sociais, o risco de reproduzir desigualdades é alto.

Assim como debatedores do primeiro dia do Tech Trends, Da Hora também defendeu que a regulamentação de IA no Brasil deve ser feita não só por juristas, mas deve envolver a comunidade técnica e acadêmica para complexificar o debate.

No entanto, enquanto outros debatedores defendiam o mesmo ponto de vista por temerem que a regulamentação sufocasse a inovação, Da Hora fez comentário levantando a preocupação de que as IAs sejam mais justas.

Todas as etapas de justiça algorítmica estão sendo negligenciadas no debate sobre a regulamentação de IA no Congresso.


O dinheiro público busca a tecnologia

Em três debates, os participantes fizeram rápidas pesquisas com a audiência. A tendência foi mais ou menos a mesma nos três: ao perguntarem quem trabalhava com tecnologia, cerca de 5% levantavam a mão; ao perguntarem quem empreendia, aproximadamente 10% levantavam a mão; já ao perguntarem quem trabalhava no setor público, aproximadamente 75% levantavam.

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Desnecessário dizer, mas esses números são apenas uma impressão do que o repórter viu. Ainda assim, eles deixavam claro que a vocação dessa primeira edição do Tech Trends realmente era da relação entre poder público e tecnologias — intersecção muitas vezes chamada de GovTech.

No Tech Trends, discutiu-se o uso de generative AI para dados públicos
No Tech Trends, discutiu-se o uso de generative AI para dados públicos Imagem: Divulgação Tech Trends

Não surpreende, portanto, que um dos debates mais cheios do dia fosse o sobre "compras públicas de soluções inovadoras". Havia muitas pessoas no palco: Felipe Campos (consultor de políticas públicas no Sebrae), Pedro Seno (vice-presidente do Fórum Inova Cidades), Rafael Fassio (procurador do estado de São Paulo), Leticia Feres (procuradora geral do Ministério Publico de contas do estado de São Paulo), Marcela Arruda (secretária de gestão da cidade de São Paulo) e Humberto Silva (secretário adjunto de São Paulo).

Arruda citou que a cidade de São Paulo tem 134 mil servidores públicos e 4,5 mil parcerias com o terceiro setor. "Isso é só para mostrar o quanto há de espaço para inovar ou investir em inovação", mencionou.

Fassio, que também foi pesquisador de IA pelo Banco Mundial, lembrou que o Brasil destina, em média, 12% do PIB a contratações públicas e que, por isso, mais do que pensar no que gastar, é necessário procurar como fazer isso de forma estratégica. Para ele, o Marco Legal das Startups dá um bom caminho para olharmos por onde inovar.

Apesar de termos várias modalidades e instrumentos, as contratações vivem uma realidade binária no Brasil — seja contratação direta ou pregão. E isso é a forma mais limitada de contratar inovação.

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