Faraó poderoso, Ramsés 2º 'ganha' rosto com ajuda de múmia e crânios doados
Desvendar a aparência de faraós é objeto de estudo de especialistas há décadas. Com o auxílio da tecnologia, pesquisadores conseguem identificar características e apresentar como seria o rosto de nomes famosos, cujas múmias serviram como base para os estudos.
Na última semana, uma dupla de especialistas liderada pelo designer brasileiro Cícero Moraes divulgou o resultado de uma "reconstrução" facial de Ramsés 2º.
O que aconteceu
A dupla de pesquisadores apresentou o que seria o rosto do faraó Ramsés 2º. O designer brasileiro Cicero Moraes foi o responsável pelo processo 3D que possibilitou a reconstrução facial, junto com o egiptólogo e arqueólogo Michael Habicht, da Universidade de Flinders, em Adelaide, Austrália.
Designer brasileiro utilizou técnicas forenses para reconstrução facial de Ramsés 2º. Segundo divulgado em seu estudo, Moraes explica que a reconstrução facial forense (RFF) ou aproximação facial forense (AFF) é utilizada quando há pouca informação para a identificação de uma pessoa, sendo uma técnica de reconhecimento que reconstrói a face a partir do crânio do indivíduo.
Estudos anteriores serviram como referência para os especialistas. Para terem um ponto de partida na pesquisa, Moraes e Habicht aproveitaram o trabalho que já havia sido realizado sobre Ramsés 2º, como imagens e medidas disponíveis em obras publicadas ao longo das últimas décadas. As fotografias da múmia, por exemplo, foram redimensionadas para a escala real e estruturas internas foram desenhadas e ajustadas dentro dessas fotografias.
Crânio em 3D foi o primeiro passo no estudo. Segundo o designer, a partir das imagens 3D e de dados estatísticos, foi possível projetar o perfil e as estruturas faciais do faraó. Com o auxílio da técnica de "deformação anatômica", Moraes conseguiu gerar o volume do rosto de Ramsés 2º, seus detalhes e cabelos.
Foi possível atestar que a mandíbula encontrava-se levemente aberta, sendo ajustada à possível oclusão dentária.
Trecho oficial do estudo
Processo de reconstrução teve utilização de modelos de crânios doados virtualmente e comparação com egípcios modernos. Para que pudessem reconstruir o rosto de Ramsés 2º, os autores do estudo ajustaram o crânio de um doador virtual para encaixá-lo nas características do crânio do faraó. Em outra etapa da pesquisa, Moraes utilizou uma série de marcadores de espessura de tecido mole, baseando-se em uma população de egípcios modernos. Com esses resultados e o auxílio de medidas e ângulos encontrados em tomografias de pessoas vivas, foi possível traçar tanto a visão frontal quanto o perfil de Ramsés 2º.
Busto e ponta do nariz também foram projetados. O processo digital realizado no rosto de Ramsés 2º foi aplicado também para a reconstrução de seu busto. "Marcas de expressão compatíveis com a idade avançada foram esculpidas e a ponta do nariz foi rotacionada seguindo o grau de decaimento extrapolado para a idade de Ramsés 2º", explicam os especialistas.
Vestimenta e nemés foram criados digitalmente para finalizar a reconstrução. Na montagem final, os autores apresentam Ramsés 2º com uma vestimenta característica, especialmente pelo nemés (uma espécie de touca listrada utilizada pelos faraós do Egito antigo). Moraes explica que a coloração dos cabelos (com potencial pigmentação artificial) e da pele utilizada na montagem seguiu o resultado de estudos anteriormente divulgados.
Ramsés 2º, sua múmia e a discussão sobre a cor da pele
Também conhecido como Ramsés, o Grande, o faraó governou o Egito por 66 anos. Ramsés 2º foi escolhido como príncipe herdeiro durante a adolescência e governou o país entre 1279 a.C. e 1213 a.C.
8 esposas, uma centena de filhos e trabalhos militares. De acordo com especialistas, Ramsés teve oito esposas, sendo Nefertari a mais famosa delas. Ao todo, Ramsés teria tido 100 filhos. Segundo Moraes, o faraó era construtor de obras públicas e teria se envolvido em campanhas militares com o objetivo de recuperar territórios perdidos.
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Quero receberMúmia de Ramsés 2º foi descoberta em 1881 em Deir el-Bahari, no Egito. O local onde a múmia foi encontrada é um conhecido complexo de sepulturas e templos em homenagem aos antigos egípcios e fica às margens do rio Nilo.
Examinando a múmia, especialistas conseguiram definir características físicas do faraó. Desde a descoberta da múmia de Ramsés 2º, diversos estudos se dedicaram a identificar como seria sua aparência. Segundo Moraes, acredita-se que Ramsés 2º tinha cerca de 1,70 metro e, de acordo com sua musculatura, entre 87 e 92 anos quando morreu. Estudos do início do século 20 indicaram cabelos amarelados e artérias deformadas. O formato do crânio sugeria que, além de características egípcias, Ramsés 2º também apresentava traços estrangeiros.
Tomografia em 2010 enriqueceu os detalhes da aparência de Ramsés 2º. Em exame computadorizado, especialistas notaram desgastes nos dentes e em juntas no corpo do faraó. Esses desgastes, segundo pesquisadores, indicariam que Ramsés 2º sofria com doenças geriátricas e possivelmente teria perdido os dentes. Em estudo citado por Moraes, aspectos "curiosos" foram encontrados na múmia, como a utilização de ossos de animais e o uso de sementes de plantas. Esses artefatos teriam sido úteis para manter o formato original de algumas superfícies do corpo, como a região do nariz.
Divulgação das imagens reacende debate sobre as características físicas do povo egípcio na época dos faraós. Diversos estudos já se debruçaram sobre o tema, que gera polêmica ao tentar identificar, principalmente, qual seria a cor da pele dos egípcios. Moraes e Habicht explicam que utilizaram diversas pesquisas como referência, bem como obras de arte, esculturas e pinturas em túmulos para tentar chegar à cor correta da pele de Ramsés 2º. Além das características das múmias, estudos genômicos analisados pelos pesquisadores indicaram que os egípcios teriam semelhanças com diferentes povos.
Embora a arte egípcia indique um meio termo entre o branco europeu e o preto africano, uma forma de resolver a questão é apresentar uma versão da AFF [aproximação facial forense] em escala de cinza, totalmente dessaturada, evidenciando mais o formato da face do que as questões relacionadas à cor da pele.
Trecho do estudo
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