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Poder além da Terra: o 'fantasma' da corrida armamentista no espaço

Satélite chinês Tiangong-1 Imagem: Divulgação / CMSE

Colaboração para Tilt*

14/07/2024 04h00

EUA e Rússia se acusaram mutuamente nos últimos meses de querer lançar armas no espaço. No começo do ano, a Força Espacial norte-americana afirmou que, além dos russos, os chineses também lançaram espaçonaves de uso "duplo" —que podem inspecionar e consertar outros satélites, mas também atacar.

À medida que nações poderosas ampliam suas capacidades tecnológicas e exploratórias, o espaço se transforma em um novo campo de disputa estratégica.

A corrida armamentista no espaço

Militarização do espaço é antiga. Assim que o Sputnik-1, o primeiro satélite artificial a orbitar em torno da Terra, foi lançado, em 1957, EUA e Rússia começaram a estudar maneiras de armar —e também de destruir— satélites.

O espaço, porém, não é "sem lei". A possibilidade da existência de armas nucleares no espaço gerava grande preocupação. Diante disso, em 1967, as superpotências e outros países assinaram o Tratado do Espaço Exterior, que proíbe armas de destruição em massa em órbita.

"Burlando" o tratado. Desde então, países como EUA, Rússia e China têm explorado formas de lutar no espaço fora do tratado. Nessa crescente corrida armamentista espacial, satélites potencialmente armados com bombas, espaçonaves que disparam laser e outras tecnologias se tornaram realidade. O foco de todos é o mesmo: a destruição de satélites —que são essenciais para navegação, vigilância e comunicações dos países.

O que se sabe é que o espaço já é utilizado para fins militares. Mas, mesmo diante de uma corrida armamentista no espaço, os países mantêm sigilo sobre suas atividades espaciais.

Timed, satélite da Nasa Imagem: Nasa

Acusações dos EUA. Em um relatório chamado "Competindo no Espaço", elaborado pela Força Espacial dos EUA e divulgado no início deste ano pela Bloomberg, os norte-americanos afirmam que a China e a Rússia lançaram satélites com o intuito de inspecionar e reparar outras naves espaciais, mas que também poderiam ser usados para atacar ativos dos EUA.

A natureza de uso duplo de algumas espaçonaves "torna os testes antiespaciais ou atividades hostis difíceis de detectar, atribuir ou mitigar", disse a Força Espacial dos EUA. Mas, apesar de afirmar que a China e a Rússia estão projetando e testando armas para "negar, interromper ou destruir satélites e serviços espaciais", o documento não cita capacidades ofensivas norte-americanas semelhantes.

Ainda de acordo com o relatório, o tráfego está cada vez mais congestionado no espaço. Em 2022, 7.096 satélites estavam em órbita. Os EUA lideram a lista, com 4.723. A China tem 647, a Rússia tem 199 e o restante do mundo tem 1.527.

Já em abril deste ano, a Rússia vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, proposta em conjunto pelos EUA e pelo Japão, que pedia aos países que evitassem uma corrida armamentista no espaço. A votação aconteceu após Washington acusar Moscou de desenvolver uma arma nuclear antissatélite baseada no espaço —alegação negada pelos russos.

No mês seguinte, Moscou acusou os EUA de quererem lançar armas no espaço depois que Washington vetou uma proposta russa sobre o mesmo tema. As duas superpotências apresentaram diferentes propostas —em ambas fracassaram.

A possibilidade de armas nucleares no espaço. Diante de tantos alertas, Spencer Warren, pós-doutorado em tecnologia e segurança internacional na Universidade da Califórnia, afirmou em artigo publicado no site The Conversation que "as recentes revelações sobre as armas espaciais russas plantam o fantasma de que os países podem decidir implantar as armas nucleares no espaço em algum momento".

Entre as razão pontuadas pelo especialista que levariam os países a colocar armas no espaço, estão: uma estratégia defensiva, já que essas armas escapam às defesas antimísseis; proteção em caso de um primeiro ataque, visto que elas têm a capacidade de destruir armas nucleares dos adversários; e a possibilidade de apontar essas armas para outras regiões do espaço, podendo até acertar asteroides para defender a Terra.

Independentemente do propósito, Warren pontua que a colocação de armas nucleares no espaço poderia ser desestabilizadora. "Aumenta o risco de um país recorrer às armas nucleares durante uma crise. Tanto as armas que apontem para a Terra como as que apontem para os objetivos no espaço criam incentivos para o uso de armas nucleares de forma preventiva."

O que são armas espaciais

Satélite em órbita no espaço Imagem: Pixabay

Trata-se de armas estacionadas na Terra e direcionadas contra alvos no espaço. Ou o contrário: armas estacionadas em estações espaciais ou mísseis no espaço que podem atacar alvos na Terra ou no próprio espaço.

Os mais conhecidos são os chamados "satélites assassinos", colocados em órbita com o objetivo destruir especificamente outros mísseis.

E os planos para a Lua?

Rover chinês Yutu-2 explora o lado oculto da Lua Imagem: Wikimedia Commons

As grandes potências têm interesses econômicos, científicos e/ou estratégicos na corrida espacial para a Lua, uma etapa crucial rumo a Marte.

A China planeja enviar astronautas à Lua antes de 2030 e tem como principal objetivo construir uma base lá. O programa espacial chinês vem ganhando impulso por meio de investimentos bilionários e, em 2019, conseguiu uma façanha histórica: pousar uma nave no lado oculto da Lua.

Os EUA têm como objetivo, oficialmente para 2025, o retorno dos astronautas, incluindo a primeira mulher e o primeiro homem negro sobre solo lunar. A ideia é construir uma base na superfície da Lua e uma estação espacial em sua órbita.

Já a Rússia lançou, em agosto de 2023, seu primeiro foguete à Lua depois de quase 50 anos. Chamada de Luna-25, essa missão faz parte de um ciclo com vistas a uma possível base em órbita lunar construída em conjunto com a China.

Os novos na corrida. Também em agosto do ano passado, a Índia pousou na Lua o foguete não tripulado Chandrayaan-3. Em janeiro deste ano, o Japão conseguiu realizar seu primeiro pouso na superfície lunar.

*Com APF e reportagem publicada em 21/02/2024

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