Estudantes criam luva que estabiliza tremor de pessoas com Parkinson
Adriana Amâncio
Colaboração para o Tilt, do Recife
17/07/2024 04h05
Estudos da Universidade de Rochester apontam que até 2030 a população de pessoas que sofrem de Parkinson no Brasil irá dobrar, chegando a 8,7 milhões. A perspectiva de ascensão da doença motivou estudantes da Escola Técnica Estadual Paulo Freire, em Carnaíba, cidade encravada no coração do sertão de Pernambuco, a 400 km do Recife, a criar uma luva que estabiliza os tremores das mãos, um dos sintomas da doença.
Diferente das luvas disponíveis no mercado que chegam a custar até R$ 8.000, o protótipo sai por apenas R$ 92.
Eu não imaginava que a robótica fosse acessível para nós, aqui no sertão, e que ela poderia criar soluções para melhorar a vida das pessoas
Danilo de Lima, 18 anos, que integra o projeto
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Danilo é um dos quatro estudantes por trás da ideia. Eles absorviam os conceitos das lições de física e robótica e trabalhavam quando dava, seja nos intervalos do almoço ou após as aulas, no período noturno.
Gustavo Bezerra, um dos professores que acompanhou a experiência, conta que os alunos aplicaram muito do que aprenderam sobre circuitos elétricos e componentes eletrônicos. Aplicavam tudo que sabiam para o laboratório de robótica da escola. Lá usaram impressora 3D, furadeiras e uma microrretífica, ferramenta capaz de perfurar, escavar, cortar, lixar e polir materiais e superfícies em pequena escala.
Conseguiam os insumos usados na produção na escola. O resto foi comprado pelos professores, que fizeram uma forcinha.
Com isso, criaram um equipamento composto por uma luva de academia, um disco HD, regulador de energia e arduino, uma placa programável. O segredo está em usar o HD como giroscópio para que estabilize as mãos ao girar em alta velocidade.
O Parkinson é uma doença degenerativa, que afeta as células cerebrais, e tem os tremores involuntários dos músculos como um dos seus sintomas mais conhecidos.
Em fase final de aperfeiçoamento, as luvas devem funcionar com uma bateria acoplada.
Felipe Santos, 18 anos, é outro estudante que participou da produção do protótipo. Ele ingressou no projeto após participar de duas edições da Olimpíada de Robótica da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e conta que sempre foi um entusiasta da área de tecnologia e que a experiência serviu para dar os primeiros passos.
Eu quero seguir a carreira de tecnologia e também prezo muito por ajudar as pessoas. Para mim, desenvolver um protótipo como esse que ajuda as pessoas é sensacional
Felipe Santos
A luva estabilizadora tem até nome. É chamada GlovETE. Ela ficou entre os 50 melhores projetos no ranking do Prêmio Solve For Tomorrow, da Samsung, e levou o primeiro lugar no evento QCiência, realizado pela UFPE, e no Ciência Jovem, um dos maiores eventos de ciência do Recife.
Esse prêmio é uma grande conquista para o nosso trabalho. Além de aperfeiçoar a nossa capacidade de lidar com a tecnologia, permite que pessoas com Parkinson possam comer, sem derrubar os alimentos da colher, por exemplo
Felipe Santos
Os quatro estudantes, que atuaram no projeto inicial, já concluíram o ensino médio. Agora, outra equipe está passando por um estudo dos princípios da física e da robótica para darem continuidade ao aperfeiçoamento do produto, que deve ganhar vibradores nos cinco dedos. Esses vibradores são os mesmos usados em celulares e servirão como distração para o cérebro, que podem reduzir os tremores involuntários.