Arqueólogos encontram ruína de comunidade cristã perdida no Oriente Médio

Arqueólogos da Universidade de Exeter, no Reino Unido, encontraram vestígios de uma das primeiras construções cristãs do Golfo Pérsico. A descoberta indica a primeira evidência física de uma comunidade anteriormente considerada perdida.

O que aconteceu

Arqueólogos da Universidade de Exeter, no Reino Unido, encontraram vestígios das primeiras construções cristãs na vila de Samaheej, no Bahrein. O estudo foi divulgado na última sexta-feira no portal oficial da Universidade.

Para descobrir a idade do local encontrado, os pesquisadores utilizaram a técnica de radiocarbono e indicaram que as ruínas foram habitadas entre os séculos 4 e 8.

Instalações foram abandonadas após o surgimento do islamismo. Apesar de atualmente não ser uma religião associada ao Oriente Médio, o cristianismo esteve presente na região com a Igreja Nestoriana, também conhecida como Igreja do Oriente, até que a população local passou a se converter ao islamismo, abandonando os templos até então utilizados.

Essa é a primeira evidência física da Igreja Nestoriana encontrada no Bahrein, e [a descoberta] fornece um conhecimento fascinante sobre como as pessoas viviam, trabalhavam e faziam seus cultos Professor Timothy Insoll, um dos responsáveis pelo estudo

Trabalhos foram concentrados sob um monte localizado em um cemitério do povoado, no qual encontraram um grande edifício com oito cômodos. Entre os cômodos estão três salas de estar, cozinha, um escritório e uma instalação semelhante a uma sala de jantar. De acordo com os arqueólogos, as paredes do local eram de pedra e rebocadas por dentro e o piso era feito de gesso.

Segundo os arqueólogos, a construção original está provavelmente vinculada à Meshmahig, bispo da diocese da qual a vila de Samaheej fazia parte. Registros históricos indicam que a relação entre Meshmahig e as autoridades centrais da igreja passou por desafios. Um bispo local teria sido excomungado no ano de 410 e, em meados do século 7, outro bispo teria sido condenado por "desafiar a unidade da Igreja".

Mesquita foi construída no local. A mesquita Sh. Malik foi erguida em cima das instalações cristãs. A sobreposição das construções teria ajudado a preservar o edifício descoberto pelos pesquisadores.

Descoberta reforça a presença do cristianismo no Oriente Médio. Até o estudo publicado, outros poucos edifícios cristãos haviam sido encontrados em regiões remotas do Irã, do Kuwait, dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita. O edifício em Samaheej, porém, indica a presença do cristianismo em um local habitado.

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Escavações aconteceram entre 2019 e 2023, lideradas por arqueólogos do Reino Unido e do Bahrein. O projeto foi realizado em conjunto entre o professor Timothy Insoll, do Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade de Exeter e o Dr. Salman Almahari, representante da Autoridade do Bahrein para Cultura e Antiguidades.

Local será transformado em um museu. Segundo os responsáveis pela pesquisa, o museu está sendo elaborado para preservar a descoberta e tem previsão de abertura para 2025.

Objetos e alimentos indicam padrão de vida no local

Habitantes locais teriam um "bom padrão de vida". De acordo com os arqueólogos, a alimentação daqueles que moravam no edifício encontrado incluía carne de porco (que deixou de ser consumida após a conversão ao islamismo), peixes e mariscos. Sementes encontradas estão em processo de análise e podem indicar mais detalhes sobre o consumo no local.

Pedra semipreciosa e cerâmica foram encontradas. A descoberta de cornalina, uma pedra semipreciosa e pedaços de cerâmica indiana fazem com que os arqueólogos acreditem que os cristãos locais mantinham atividade comercial, em particular com a Índia.

Copos de vinho e moedas com gravuras. A comunidade cristã utilizada utensílios de vidro, incluindo pequenos copos de vinho, que foram extintos na era do islamismo. Moedas de cobre também foram encontradas, e suas gravuras indicam que os habitantes utilizavam moedas cunhadas pelo Império Sassânida, o último Império Persa pré-islâmico.

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Tecidos seriam confeccionados para utilização em cultos. Os arqueólogos encontraram agulhas de cobre e espirais de fuso, utilizada em rocas de fiar (ferramenta para costura e manipulação dos tecidos).

Desenho em betume pode ser de criança local. O professor Insoll declarou que os pesquisadores ficaram maravilhados ao descobrir o desenho de parte de um rosto que pode ser de uma criança de vivia no edifício. O rosto foi desenhado em uma concha de pérola em betume, material do qual atualmente são obtidos bases para pintura, vernizes e massas de revestimento.

Identidade cristã

Segundo os estudiosos, a identidade cristã pode ser vista em símbolos no local. Grafites no gesso indicam o Chi-Rho e um peixe, conhecidos por serem símbolos do início do cristianismo.

Cruzes de gesso também seriam evidências. Três cruzes de gesso foram encontradas no local. Duas delas, segundo os pesquisadores, eram utilizadas como decoração do edifício, enquanto a terceira seria um objeto tido como uma "lembrança" pessoal.

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