De IA a internet: agronegócio leva tecnologia para tornar campo sustentável

Se na década de 1970, o agronegócio brasileiro ainda era somente importador de alimentos, hoje em dia, o setor chama a atenção pela capacidade de produzir em larga escala para abastecer não só a indústria internacional, mas também a nacional.

O avanço é acelerado safra após safra devido à velocidade com que novidades chegam ao campo, da expansão da conectividade à inteligência artificial, passando pelo uso de dados para a ágil tomada de decisão. E essa adoção ocorre antes, dentro e depois da porteira.

O 'Brasil do Futuro - Agrotech', evento realizado pelo UOL, em junho, mostrou que diferentes tecnologias caminham juntas e passam a fazer parte do dia a dia de propriedades rurais de pequeno, médio e grande porte pelo Brasil. O mesmo vale para empresas de diferentes tamanhos. Enquanto as startups do setor, também chamadas de agtechs, criam soluções pensadas tanto para a agricultura familiar quanto para os maiores produtores de grãos, as Big Tech descobrem o potencial das fazendas do país. É o caso de Amazon e Microsoft.

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'Smartwatch' das vacas

Enquanto um colar inteligente pode captar informações sobre a saúde do rebanho bovino, tratores rodando em uma lavoura geram dados sobre a qualidade do plantio e o consumo de combustível. As duas soluções se apoiam na conexão, mas revertem em benefícios diferentes: a primeira leva bem-estar ao animal, enquanto a segunda torna a aplicação de insumos mais eficiente. Em comum, há o uso sustentável da terra e dos recursos naturais.

A startup brasileira Cromai trabalha com tecnologia semelhante, mas em outra linha: reduz a aplicação de defensivos no campo em 65%, conta Dirceu Ferreira, diretor de tecnologia do PwC Agtech Innovation e sócio na PwC Brasil.

"Através de visão computacional, ela consegue ativar um pulverizador para aplicar determinado herbicida para controlar diferentes tipos de erva daninha", disse.

Campo digital

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A agricultura digital tem impulsionado a agenda ESG no campo ao viabilizar o uso de dados para favorecer a eficiência financeira e de recursos naturais. A gestão hídrica é um exemplo. Decisões certeiras sobre a irrigação ou o monitoramento de áreas produtivas podem economizar água.

Guilherme Belardo, líder de desenvolvimento de negócios digitais da Bayer para América Latina, conta que o uso de dados favorece todo o ecossistema do agronegócio. As seguradoras, conta ele, podem desenvolver modelos específicos de seguro rural com base no histórico de dados da microrregião e de um talhão específico dentro da propriedade.

Já Fernanda Spinardi, líder de Gestão de Soluções para Clientes na Amazon Web Services, acrescenta que o tratamento de dados feito pela empresa garantiu a avaliação de 43 mil registros do Cadastro Ambiental Rural (CAR) no estado do Pará.

Múltiplos segmentos

De robôs para identificar pragas e doenças a diversos modelos de financiamento para perfis diferentes de produtores. A ampliação das tecnologias é capaz de atender um amplo leque de segmentos no agronegócio.

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Nessa economia cada vez mais conectada, produtores de menor porte muitas vezes são excluídos da base de fornecedores da indústria, seja por sempre conseguem garantir a consistência nos dados, seja por já terem tido problemas socioambientais. Lucas Tuffi, sócio e diretor de marketing e estratégia da Agrotools, explica que a interpretação de dados permite que eles sejam reinseridos à cadeia de valor.

Por outro lado, o cruzamento de distintas bases de dados viabiliza a concessão de crédito, explica Mariana Bonnora, cofundadora e diretora executiva da Sette.

Conectividade em curso

Para o universo dos dados e da inteligência artificial seja difundido no meio rural, é preciso que iniciativas públicas e privadas ganhem tração. Enquanto o Ministério das Comunicações planeja a criação de "distritos agrotecnológicos", voltados para pequenos e médios produtores, a Associação ConectarAGRO reúne companhias para levar soluções em conjunto, entre empresas envolvidas nos segmentos de telefonia e máquinas agrícolas.

A gente tem o objetivo de levar a conectividade, impactar a economia e vida das pessoas. A associação tem um indicativo de conectividade rural, junto com Universidade de Viçosa, a Anatel e o Ministério da Agricultura, buscando informações e mostrando onde tem infraestrutura de cobertura e onde não tem
Renato Bueno, Diretor financeiro na ConectarAGRO e diretor de novos negócios para América Latina na Nokia

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A associação também está em projetos como a Fazenda Conectada, no município de Água Boa, no Mato Grosso, uma parceria entre a montadora CNH Industrial e a operadora TIM que levou internet à propriedade. Também participaram a consultoria Agricef e a Unicamp para avaliar a performance da safra a partir da conexão com o sinal 4G.

No primeiro ano com internet, na safra 2022/23, a propriedade teve 7% a mais de produtividade em comparação à média das fazendas do entorno e 13% a mais do que a média no Brasil. Também houve aumento de produção de grãos em 18% e desdobramentos positivos ao meio ambiente, com redução de 25% de uso de combustível na fazenda.

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