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Por que a Meta oferece de graça IA que custou caro e é vendida por rivais?

Ruam Oliveira

Colaboração para Tilt, de São Paulo

08/08/2024 05h30

Quando a esmola é muita, o santo desconfia. Dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, a Meta está liberando de graça o uso do seu modelo de inteligência artificial, que é tão poderoso quanto o sistema por trás do ChatGPT. Logo surge a pergunta: por que uma das empresas mais poderosas do mundo está dando de graça um serviço pelo qual os concorrentes dela cobram —e caro?

No episódio desta semana de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz discutem por que a empresa de Mark Zuckerberg investiu bilhões no treinamento e desenvolvimento de uma ferramenta para torná-la aberta e gratuita.

Isso ocorre graças ao modelo open source (código aberto) do Llama 3.1, modelo com poder comparável ao GPT 4o, versão mais recente do sistema da Open AI. Empresas que querem embutir o sistema da dona do ChatGPT em suas plataformas precisam desembolsar uma grana pra isso, enquanto a Meta oferece seus serviços "de forma gratuita".

Ao mesmo tempo que ela quer incorporar os modelos dentro de seus serviços, ela quer fortalecer o ecossistema de uso da inteligência artificial com outras empresas, fazendo com que fiquem dependentes do seu modelo. Se mais pessoas estão usando, o próprio modelo de código aberto ganha força
Diogo Cortiz

Ou seja, a esperança da empresa é que o modelo gratuito torne-se um padrão da indústria.

Nem tão 'open' assim

Contudo, ao analisar as letras miúdas, fica claro que o "open source" da Meta não é tão "open" assim. Nada parecido com o Linux, sistema operacional inteiramente aberto, em que os usuários podem acessar o código fonte e modificá-lo como desejar. O que a Meta disponibiliza, na verdade, são os "pesos" e não o código fonte inteiro.

Quando estamos falando desses modelos de IA, estamos falando de rede neural e essa rede neural acaba sendo como se fossem neurônios conectados. Conforme forem sendo treinados, ela vai se reconfigurando a partir desses parâmetros, que são os pesos de conexão entre os modelos. O aprendizado da IA está nesses pesos
Diogo Cortiz

Com isso, o usuário não tem acesso, por exemplo, ao conjunto de dados usados.

E tem mais: caso a empresa que esteja usando o Llama 3.1 possua uma base de usuários superior a 700 milhões, aí é preciso pedir uma licença adicional.

Parece que a Meta está fazendo um caminho que já vimos, que é o das redes sociais. Muito se discutiu que, se a gente não está pagando nada, provavelmente o produto somos nós
Helton Simões Gomes

Ele compara a outros movimentos de Big Techs, como o Google inicialmente oferecer o Docs gratuitamente para depois vender pacotes de armazenamento na nuvem para os arquivos produzidos nos aplicativos do Workspace. Talvez este seja um caminho trilhado pela Meta, acrescenta.

Algoritmo descarta risco para mulher agredida, e ela é morta pelo marido

Após ter sido espancada pelo marido, Lobna Hemid recorreu à polícia. Ela foi mandada para casa após a situação ser avaliada pelo algoritmo do governo espanhol que verifica a gravidade de casos de violência doméstica. Algumas semanas depois, o homem assassinou a mulher.

No novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes apresentam casos de confiança cega na tecnologia que fazem pensar sobre o uso acrítico da inteligência artificial para lidar com crimes, casos de violência ou abordagens policiais.

Isso traz uma questão que a gente precisa discutir como sociedade, que é essa confiança cega que a humanidade passa a ter na inteligência artificial. Começamos a ter uma dificuldade maior em saber em que momento acaba uma decisão humana e começa uma decisão com as máquinas e vice-versa
Diogo Cortiz

Estão acontecendo coisas que mostraram que passamos dos limites muitas vezes nessa confiança
Helton Simões Gomes

Novo apagão cibernético global está mais perto do que você imagina

O dia 19 de julho de 2024 vai entrar para a história da tecnologia como um dia de caos. Empresas que usam Windows, da Microsoft, viram a "tela azul da morte" como um prenúncio catastrófico.

Neste episódio de Deu Tilt, Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz explicam por que o apagão cibernético que se abateu sobre o mundo pode até ter passado, mas está muito próximo de se repetir muito em breve.

As razões que estão por trás desse último caos global não foram resolvidas e não serão porque são sistêmicas. Não são problemas, mas sim condições do modelo que a gente vive hoje em dia
Helton Simões Gomes

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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