Maus-tratos e violência: o que está por trás dos memes 'fofos' de macacos
Muito utilizadas em memes e como figurinhas, imagens de macacos com roupas ou usando maquiagem têm chamado a atenção de entidades de proteção animal. Um relatório da Coalizão de Crueldade Animal nas Redes Sociais (Social Media Animal Cruelty Coalition - SMACC, na sigla em inglês) denunciou as condições nas quais os animais são mantidos e faz um apelo para que as pessoas deixem de compartilhar esse tipo de conteúdo.
ATENÇÃO: Essa matéria tem imagens fortes.
Exploração dos animais para gerar visualizações
Relatório denuncia série de abusos contra macacos. O documento divulgado pela SMACC busca alertar para o sofrimento de macacos de estimação usados como "personagens" na produção de conteúdo para mídias sociais.
Maus-tratos se iniciam logo após o nascimento. De acordo com a SMACC, filhotes são afastados de suas mães e passam anos em sofrimento por causa da privação do contato materno. Alguns são retirados desse convívio com apenas um dia de vida e a maioria passa a viver isolado de outros macacos. Esses ambientes, segundo a coalizão, não são naturais aos animais e não atendem suas necessidades inatas.
Esses macacos são usados para atuar diante da câmera na esperança de popularidade viralizada e ganho financeiro. Infelizmente, os criadores de conteúdo aprenderam que o conteúdo com macacos de estimação pode se tornar extremamente popular, o que incentiva sua criação. Trecho de relatório da Coalizão de Crueldade Animal nas Redes Sociais
Segundo a SMACC, os responsáveis pelos macacos forçam "situações estressantes e angustiantes" para os animais. Parte desse tipo de conteúdo mostra os animais se alimentando com mamadeiras e usando chupetas e fraldas. Maquiagens também são frequentemente utilizadas nos animais, que são forçados a ficar em determinadas poses e têm reações como medo deliberadamente provocadas pelos humanos.
Responsáveis pelo conteúdo forçam os macacos a ficarem em postura ereta. Uma das explorações denunciadas pela SMACC é a prática de fazer com que os macacos aprendam a andar como humanos. Para isso, os animais têm as mãos presas por horas, para que não consigam apoiá-las no chão, na tentativa de fazer com que aprendam a se movimentar somente com as pernas.
Número de visualizações é alto. Segundo o relatório, foram acompanhados cerca de 1,2 mil links com o conteúdo ao longo de 18 meses, período em que se somaram mais de 12 bilhões de visualizações dos vídeos.
Principais abusos foram classificados pela coalizão. O relatório informa que a tortura psicológica foi a mais presente nos conteúdos, seguida por: tortura física, utilização dos animais como forma de entretenimento, manuseio rude por parte do humano, privação do contato materno, condições precárias no ambiente, privação de comida, utilização de roupas desconfortáveis nos macacos, entre outros.
Incitação a brigas entre os macacos também foi descrita pela SMACC. A coalizão relatou ainda que alguns conteúdos mostravam macacos aparentemente drogados, a utilização de outros animais para amedrontá-los e abuso sexual dos animais. Provocar e/ou prolongar a morte do macaco também foi um abuso notificado pela coalizão.
Careta de medo é confundida com sorriso. O documento da SMACC ilustra o que é conhecido pelos especialistas como uma careta de medo. Para leigos, pode parecer que o macaco está sorrindo, mas, na verdade, a expressão indica que o animal está assustado.
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Quero receberRelatório denuncia também a comercialização dos animais. Além de haver um comércio ilegal dos macacos, parte do conteúdo é justamente o "unboxing" dos animais, ou seja, o momento em que o comprador abre a caixa e mostra os macacos adquiridos.
Coalizão pede que usuários não compartilhem conteúdo
O apelo da SMACC engloba duas frentes: as próprias plataformas, como X, Instagram, YouTube e TikTok (veja o que disseram abaixo), para que tenham políticas claras e monitoramento de eventual conteúdo com exploração animal; e para os usuários dessas redes, que não devem compartilhar vídeos, memes e figurinhas que usem animais, diminuindo a monetização gerada pelas visualizações. Ao se deparar com qualquer conteúdo desse tipo, é necessário buscar meios de denunciar o post como conteúdo de violência.
O que dizem as plataformas
Ao UOL, o YouTube informou que todos os conteúdos precisam seguir diretrizes e disse contar com sistemas inteligentes, revisores humanos e denúncias de usuários para identificar material suspeito.
"No YouTube, não é permitido mostrar conteúdo violento ou explícito com o objetivo de chocar ou causar repulsa nos espectadores, nem material que incentive as pessoas a cometerem atos violentos. Isso inclui conteúdo que mostra abuso animal, como rinhas, conteúdo que exalte ou promova negligência, maus-tratos ou danos aos animais, que simule o resgate de animais e que coloque esses animais em situações perigosas", afirma em nota.
Meta
A Meta, responsável pelo Instagram, Facebook e WhatsApp disse não permitir conteúdos que mostrem danos físicos contra animais e informou que remove esse material quando toma conhecimento dele em suas plataformas.
"Estamos sempre aprimorando nossos esforços para manter nossas plataformas seguras e também incentivamos as pessoas a denunciarem conteúdos e contas que acreditem violar nossas políticas através das ferramentas disponíveis dentro dos próprios aplicativos", disse em nota.
TikTok e X
Procurados, TikTok e X não responderam até a publicação desta reportagem.
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