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Governo planeja R$ 1 bi para IA nacional, e presidente vira 'chefão da IA'

Colunistas de Tilt

17/08/2024 05h30

O plano nacional de inteligência artificial, lançado no fim de junho pelo governo Lula, destinará R$ 1,1 bilhão para a criação de um LLM (grande modelo de linguagem, na sigla em inglês) brasileiro. A tecnologia é o "coração" por trás de chatbots como o ChatGPT.

A ideia é que ela seja treinada com dados nacionais e compreenda português como primeira língua. O prazo curto para ela sair do papel é curto, de 12 meses.

Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, explica que a escolha das empresas a serem incentivadas ocorrerá por edital. Em sua participação no "Deu Tilt", o podcast do UOL sobre tecnologia, a ministra contou que ficará a cargo do presidente da República a função de ocupar o conselho supervisor das ações do plano, que prevê investimentos de R$ 23 bilhões.

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Juntamente com o supercomputador e a "nuvem soberana", a criação de um LLM brasileiro visa ampliar a soberania digital do Brasil. Ainda assim, essa ação não desconsidera a participação das grandes empresas multinacionais, desde que transfiram tecnologia para o país.

No processo de montagem do plano, as grandes empresas participaram. Fui muito clara: queremos uma troca, um aprendizado mútuo. E queremos, claro, ter o domínio tecnológico. (...) Há uma cobiça pelos nossos dados. Não vamos com isso abrir mão, mas haverá algum tipo de interseção (...) Mas vamos caminhar com aqueles que queiram caminhar conosco. A nossa vontade política é essa, e percebo que não há resistência por parte dessas grandes empresas, também pelo interesse do objetivo que tem em partilhar desse novo momento que estamos vivendo nessa revolução tecnológica
Luciana Santos

Não há ainda indicação se haverá exigência para as plataformas serem de código aberto ou não. A ministra diz, sem detalhar, que haverá premissa de que a tecnologia utilizada seja brasileira.

Pode ser mais de uma linguagem, contanto que seja brasileira. Esse é um dos grandes debates que há na IA. São os vieses. Aquele estrangeirismo que não tem nada a ver com o que é do povo brasileiro, e você tem dificuldade de usar aquela tecnologia. Ser brasileiro é falar mais do que nós somos
Luciana Santos

O monitoramento do plano de IA será feito por um conselho superior, encabeçado pelo presidente da República e formado por ministros e representantes de empresas, academia e sociedade civil.

Isso quer dizer que Lula será o chefão da IA no Brasil? "Ele será e já está sendo na prática. Ele está convicto da importância estratégica que [o assunto] tem", diz a ministra.

Supercomputador e nuvem soberana: a soberania digital do Brasil para IA

O plano de IA pretende ainda fortalecer a infraestrutura tecnológica brasileira por meio de um supercomputador robusto e de um sistema de computação em nuvem dedicado ao serviço público, chamado de "nuvem soberada".

Estaremos nos próximos cinco anos numa situação de top 5 de computador de alto desempenho, o que nos possibilitará produzir soluções de IA, de armazenamento e de integrar dados, na velocidade e escala que o assunto exige. Vamos estar aí no pódio da corrida tecnológica
Luciana Santos

O objetivo do Brasil é tão ambicioso quanto distante. O supercomputador perseguido pelo governo ficará no LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica), em Petrópolis (RJ). A ideia é turbinar o Santos Dumont, máquina com 5,1 petaflops/s (5,1 quatrilhões de operações matemáticas por segundo).

Na dianteira do Top500, projeto científico internacional que mapeia os mais potentes supercomputadores do mundo, a lista compreende do primeiro, o norte-americano Frontier e seus 1.206 petaflops/s, ao quinto, o finlandês Lumi e seus 379,7 petaflops/s.

A ministra, porém, classifica o objetivo como "ousado e ao mesmo tempo factível".

Atrás de EUA e China, à frente da França: como Brasil entra no jogo da IA

O governo brasileiro lançou o Plano Brasil de Inteligência Artificial no fim de julho. A iniciativa para lançar de vez o país na corrida tecnológica que tem movido o mundo chega mais de um ano e meio após o ChatGPT ter assustado o mundo no fim de 2022, mas com previsão de investimentos da ordem de R$ 23 bilhões.

Na conversa para explicar o plano do Brasil para IA do governo Lula, ela admite que o Brasil saiu atrás.

Temos um investimento que mostra que estamos chegando, é verdade, um pouco atrás. Mas eu já fui atleta e, no atletismo, às vezes a gente começa uma corrida atrás e daqui a pouco está disputando o pódio
Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação

Ela afirma, no entanto, que o país reservou mais dinheiro que outras potências e vai apostar em ações que virem legado para além da tecnologia do momento. Isso inclui o incentivo a data centers sustentados por energia renovável e a transferência tecnológica para garantir soberania digital.

O Brasil entra no jogo, de uma forma que não seremos meros consumidores ou fornecedor de dados para os gigantes tecnológicos globais. Estamos apostando em ter uma infraestrutura robusta que permita criar programas próprios de IA, soberania na produção, armazenamento e produção de dados. Vamos garantir um investimento de R$ 23 bilhões para os próximos cinco anos, mostrando que a gente chegou chegando. Para você ter ideia, no Reino Unido, essa cifra chega a R$ 18 bilhões em 10 anos. Na França, R$ 14 bilhões até 2030. Ou seja, a gente se compara com os investimentos que a União Europeia está fazendo. A gente não se compara só com EUA e China
Luciana Santos

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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