'Poder dos recebidos': o que faz o Brasil ter 10 mi de influenciadores?
Colunistas de Tilt e Colaboração para Tilt
20/08/2024 05h30
Todo mundo quer ser influenciador? Talvez não, mas uma grande quantidade de brasileiros atua dessa forma. A estimativa é que sejam 10,4 milhões.
A chance de viralizar e mudar de vida é um dos principais chamarizes para quem quer ganhar a vida com as "publis", explica Issaaf Karhawi, professora de comunicação e uma das primeiras a se dedicar à pesquisa de influenciadores no Brasil. Ela é a convidada do novo episódio de Deu Tilt, podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, apresentado por Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz. Mas como o país chegou a tanta gente influenciadora?
O principal ponto é a baixa barreira de entrada para se tornar um influenciador. Significa que, para atuar profissionalmente como influenciador, não é preciso passar, por exemplo, pelo que chamamos de 'paradigma do expert'
Issaaf Karhawi
O conceito diz respeito ao acúmulo de expertise que permitem a um profissional desenvolver novas habilidades e subir na carreira.
O que faz alguém ser influenciador?
Dentro desse universo, existem influenciadores muito populares e que operam como uma empresa, enquanto os nanoinfluenciadores possuem número menor de seguidores, mas promovem maior proximidade das marcas com os clientes.
Issaaf pontua que essas nomenclaturas são importantes, mas o que define de fato um influenciador é outra coisa: ele se sustenta com a produção nas redes sociais?
Se o dinheiro que ele [o influenciador] ganha vem do que ele chama de influência ou produção de conteúdo, eu entendo como influenciador digital. Não vai ter a ver necessariamente com ter mais ou menos seguidores
Issaaf Karhawi
Para Issaaf, o grande número de influenciadores está ligado à promessa de que a carreira é tranquila, com retorno financeiro rápido. Os 10,4 milhões de influenciadores constam do relatório Relatório Anual de Marketing da Nielsen, que considera perfis com mais de mil seguidores.
Influenciadores são responsáveis pelas pessoas que cativam?
Apesar de ser um ramo de fácil entrada, ganhar com isso não é para qualquer um.
Temos um modelo de negócios muitos específico, que é o trabalho com marcas, mas não temos marcas para todo mundo
Issaaf Karhawi
Diante da escassez de marcas, influenciadores acabam endossando serviços suspeitos ou ilegais. Jogo do Tigrinho, venda de produtos inexistentes ou esquemas de pirâmide são exemplos de serviços referendados por influenciadores que podem levar pessoas a se colocar em posições desfavoráveis.
Para a professora de comunicação, ainda que as barreiras de entrada sejam pequenas, todos os influenciadores passam por etapas diárias de legitimidade. E elas vão desde o apoio da audiência a cada novo post ou conteúdo produzido até as parcerias publicitárias que estabelecem com empresas.
E tem a mídia também. Influenciador está doido para sair na capa de uma revista
Issaaf Karhawi
A gente exige sempre ética. Quando contratamos um trabalhador, esperamos que ele seja responsável, ético. Por que não exigimos isso dos influenciadores?
Issaaf Karhawi, pesquisadora
'Tiktokização': a lógica para seu médico apelar para dancinha no TikTok
Elemento mandatório na vida dos influenciadores digitais, as dancinhas saídas do TikTok têm aparecido nos feeds dos mais diversos profissionais, de nutricionistas e médicos a políticos.
No quadro "Arrasta pra cima" de Deu Tilt, a pesquisadora Issaaf Karhawi foi desafiada a decidir se dá um "like" ou "vai de arrasta" para a seguinte afirmação: "As redes sociais aumentam a transparência da vida política e aproximam o cidadão das pessoas que ele elegeu, mas há políticos que viraram verdadeiros influenciadores".
Estar nas redes é performar. Eu vou de arrasta pra cima para a ideia de 'Tiktokização' de todas as profissões. Acho que é exigir que a pessoa atue quase como que em um terceiro período de trabalho
Issaaf Karhawi
Por que influenciadores estão deixando de ser influenciadores?
A atuação dos influenciadores digitais é bastante recente, mas já está sendo transformada. E os efeitos dessa guinada são sentidos por todo mundo que segue alguma dessas figuras nas redes sociais.
Se antes o foco de marcas era apenas contratar pessoas para divulgar produtos, agora o cenário é outro, explica Issaaf Karhawi. Ela enumerou ao menos três pontos para entender a remodelação dos influenciadores. O primeiro deles é a mudança de nomenclatura.
É interessante como a gente muda o foco: no marketing de influência, estamos olhando para a influência que eles têm, ou seja, sua capacidade de vender. Na 'creator economy' [economia dos criadores de conteúdo], estamos de olho nas habilidades de criação de conteúdo
Issaaf Karhawi
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo às 14h.