Por que influenciadores estão desistindo de ser influenciadores?

A atuação dos influenciadores digitais é bastante recente, mas já está sendo transformada. E os efeitos dessa guinada são sentidos por todo mundo que segue alguma dessas figuras nas redes sociais.

Se antes o foco de marcas era apenas contratar pessoas para divulgar produtos, agora o cenário é outro, explica Issaaf Karhawi, professora de comunicação e uma das primeiras a se dedicar à pesquisa de influenciadores no Brasil. Em sua participação no Deu Tilt, podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, apresentado por Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz, ela enumerou ao menos três pontos para entender a remodelação dos influenciadores. O primeiro deles é a mudança de nomenclatura.

É interessante como a gente muda o foco: no marketing de influência, estamos olhando para a influência que eles têm, ou seja, sua capacidade de vender. Na 'creator economy' [economia dos criadores de conteúdo], estamos de olho nas habilidades de criação de conteúdo
Issaaf Karhawi

Isso ocorre, diz a pesquisadora, devido à saturação do mercado: há mais influenciadores do que marcas disponíveis para parcerias. "Se tem muita gente produzindo e não tem marca para todo mundo, é preciso pensar em estratégias."

Com isso, muitos influenciadores trilham outros caminhos, como criar as próprias marcas, elaborar e vender cursos. Há ainda aqueles que abraçam campanhas publicitárias que incentivam serviços ilegais ou controversos, como produtos inexistentes, esquemas de pirâmide ou apostas online.

Novos nomes, novas mudanças

Nessa onda de se reinventar e seguir atuando no mercado, os influenciadores passam a não querer mais ser influenciadores. A onda agora é ser "creator".

Cada mudança de nomenclatura [me leva a fazer] um processo arqueológico, de gênese das expressões. Não é só se chamar de outra coisa, é consolidar uma disputa que estava acontecendo. Quando eu dou nome a alguma coisa, quer dizer que eu estabilizei ela
Issaaf Karhawi

Alterações na personalidade

Esse desenho das plataformas, para ambos, também modifica o que é possível ser entendido como autenticidade, visto que os produtores de conteúdo precisam se encaixar no que elas pedem para poder continuar trabalhando nesse ramo.

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É possível mesmo pensar em autenticidade mediada? Não sei. Estamos falando dessa cultura de templates, [onde] parece que todo mundo faz a mesma coisa
Issaaf Karhawi

Essa exigência por autenticidade ganha ares de paradoxo, já que a plataforma em que os influenciadores atuam é regida por algoritmos que impulsionam conteúdos com que as pessoas estão habituadas e pouco incentiva a inventividade. Diogo Cortiz explica ainda que atualmente as pessoas seguem cada vez menos os perfis devido à programação dos algoritmos, que apenas entrega conteúdos com base nos gostos dos usuários.

No meio do caminho tinha uma IA

Como se não bastassem todas essas mudanças, os influenciadores ainda precisarão lidar com uma nova -e aparentemente proeminente- figura: os influencers sintéticos. Sim, são aqueles feitos com inteligência artificial.

Cai por terra tudo o que se discute sobre influenciadores, porque se [ser] influenciador tem a ver com essa relação estabelecida com a audiência, o que significa um influenciador virtual? Para mim, ele é um mascote de marca
Issaaf Karhawi

'Tiktokização': por que até seu médico apelar para dancinha no TikTok?

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Elemento mandatório na vida dos influenciadores digitais, as dancinhas saídas do TikTok têm aparecido nos feeds dos mais diversos profissionais, de nutricionistas e médicos a políticos.

No quadro "Arrasta pra cima" de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, a pesquisadora Issaaf Karhawi, uma das primeiras a estudar os influenciadores digitais no Brasil, foi desafiada a decidir se dá um "like" ou "vai de arrasta" para a seguinte afirmação: "As redes sociais aumentam a transparência da vida política e aproximam o cidadão das pessoas que ele elegeu, mas há políticos que viraram verdadeiros influenciadores".

Estar nas redes é performar. Eu vou de arrasta pra cima para a ideia de 'Tiktokização' de todas as profissões. Acho que é exigir que a pessoa atue quase como que em um terceiro período de trabalho
Issaaf Karhawi

'Poder dos recebidos': o que faz o Brasil ter 10 mi de influenciadores?

Todo mundo quer ser influenciador? Talvez não, mas uma grande quantidade de brasileiros atua dessa forma. A estimativa é que sejam 10,4 milhões.

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A chance de viralizar e mudar de vida é um dos principais chamarizes para quem quer ganhar a vida com as "publis", explica Issaaf Karhawi, professora de comunicação e uma das primeiras a se dedicar à pesquisa de influenciadores no Brasil. Ela é a convidada do novo episódio de Deu Tilt, podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, apresentado por Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz. Mas como o país chegou a tanta gente influenciadora?

O principal ponto é a baixa barreira de entrada para se tornar um influenciador. Significa que, para atuar profissionalmente como influenciador, não é preciso passar, por exemplo, pelo que chamamos de 'paradigma do expert'
Issaaf Karhawi

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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