Quem tira o X do ar? Bloquear rede social não é como 'puxar fio da tomada'

O ministro Alexandre de Moraes deu 24 horas para Elon Musk indicar um representante legal do X (antigo Twitter) no Brasil. Há duas semanas, a rede social fechou seu escritório no país e demitiu todos seus funcionários.

Ainda assim, seria possível manter o funcionamento do X por aqui caso uma banca de advogados fosse indicada pela empresa de Musk. Isso porque, pelo código civil brasileiro, uma empresa não pode atuar no país sem representante legal - e os advogados cumpririam esse papel.

Se o prazo vencer e a medida não for cumprida, o X deve sair do ar e parar de funcionar por aqui. Mas essa derrubada não é tão simples e rápida quanto parece, e pode até não ser exatamente infalível.

Quem tira o X do ar?

Várias etapas são seguidas. "Não é uma única entidade que executa a ação diretamente, por isso a ordem judicial é enviada a órgãos reguladores e a provedores de serviços de internet", explica Hiago Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética (Abraseci).

A Anatel pode ser notificada e, em alguns casos, pode coordenar a implementação do bloqueio junto aos provedores de serviços de internet (ISPs). No entanto, a Anatel não tem o poder de executar o bloqueio diretamente.
Hiago Kin, da Abraseci

Operadoras e provedores de internet têm papel principal na execução dos bloqueios. "Eles podem fazer isso de várias maneiras, como bloqueando o acesso aos IPs da rede social, bloqueando os servidores DNS que resolvem os domínios da rede social, ou aplicando filtros que impedem o acesso ao site", continua Kin.

Brasil tem mais de 8 mil provedores regionais. Segundo Jesaias Arruda, vice-presidente da Abranet, porém, se a Anatel bloquear apenas 186 deles (que controlam a venda do tráfego internacional), já seria suficiente para impedir o acesso ao X por aqui.

O impacto seria em território nacional e em uma parte da América Latina, que trafega pelo Brasil. Além disso, o bloqueio é instantâneo para os clientes de cada empresa.

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VPN ainda permite acesso

Bloqueio não é tão simples. Ainda segundo o especialista, grandes redes sociais, como o X, geralmente utilizam uma rede distribuída de servidores, o que significa que há muitos endereços IP espalhados em várias regiões. "Para efetivamente bloquear o serviço, todos esses IPs conhecidos teriam que ser bloqueados", afirma Hiago Kin.

Medida é complexa. "Existe uma dificuldade em bloquear, porque esse endereço não é passado para um único provedor, ele é distribuído em diversos provedores ao redor do Brasil", complementa Jesaias Arruda.

A indisponibilidade pode acontecer nos provedores, em operadoras maiores. Mas em operadoras menores ela pode continuar liberada. Então não vai ser efetivo esse bloqueio, de forma geral.
Jesaias Arruda, da Abranet

VPN burla bloqueio facilmente. "Se o usuário estiver utilizando um aplicativo de VPN, ele vai ter acesso da mesma forma, porque os aplicativos de VPN direcionam para qualquer rede fora do Brasil", explica Arruda. "Isso faz com que o bloqueio de IP, embora eficaz, não seja infalível", complementa Kin.

Como fica a rede social?

Erro no navegador. Depois do bloqueio, ao tentar acessar o site, o usuário deve se deparar com mensagens como "este site não pode ser acessado" ou "página não encontrada". A justificativa não é especificada na tela.

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Aplicativo não some do celular. "Ele permanece instalado, mas pode se tornar inutilizável se o serviço ao qual ele se conecta estiver bloqueado", explica Kin. "As autoridades podem solicitar que o aplicativo seja removido das lojas de aplicativos, como a Apple Store e o Google Play. Isso significa que novos usuários não poderão baixar."

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