'Europa quer chegar onde Brasil está': como país domina novos combustíveis
Se globalmente três quartos das emissões de gases de efeito estufa vêm do setor energético, no Brasil essa proporção é inversa. A maior parte das emissões brasileiras está ligada ao desmatamento e ao uso da terra pela agropecuária.
"A problemática do Brasil é diferente. Nossa matriz energética é muito mais limpa, com 85% a 90% da eletricidade gerada por fontes renováveis, como hidrelétrica, eólica, solar e biomassa", afirmou Erik Eduardo Rego, coordenador do Centro de Inovação e Transição Energética da Poli-USP e especialista da PSR, no painel "Combustíveis do Futuro: o Brasil Protagonista" do evento "Brasil do Futuro - Transição Energética", realizado pelo UOL em São Paulo.
Completaram a mesa-redonda mediada pelo editor e colunista de Tilt Helton Simões Gomes, André Lavor, CEO e sócio da Binatural, fabricante brasileira de biocombustível, e Heloisa Borges, diretora de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Na conversa, os especialistas destacaram as particularidades do Brasil na questão da transição energética, ressaltando a posição de liderança do país e os desafios específicos que enfrenta. Você pode acompanhar aíntegra do painel no vídeo acima.
"Não podemos importar soluções para problemas que não temos. O Brasil está em uma posição de liderança, mas nossos desafios são diferentes", comentou Heloisa, destacando que 25% da matriz de transporte no Brasil já é renovável, principalmente devido ao uso da biomassa.
Um dos exemplos bem-sucedidos do país é o etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar e do milho, bem estabelecido no território nacional há mais de duas décadas e com preço acessível à população. Tecnologia vanguardista em relação aos carros elétricos, segundo o professor da Poli-USP.
"Um veículo elétrico na Europa, durante todo o ciclo de vida dele, tem a mesma pegada de carbono do carro movido a etanol. Isso mostra que o europeu quer chegar hoje onde a gente já está com o carro a etanol há anos", afirma.
No contexto global, a mobilidade se apresenta como um dos principais desafios da transição energética. No Brasil, o Projeto de Lei do Combustível do Futuro, atualmente em discussão no Congresso Nacional, busca impulsionar setores como o biometano e o biodiesel.
Lavor destacou que a Binatural produziu 2 bilhões de litros de biodiesel nos últimos anos e tem a expectativa de aumentar esse número com a aprovação do projeto.
"Hoje, o diesel tem mistura de 14% com biodiesel, ano que vem vamos para 15%, e o PL quer chegar a 20% de mistura até 2030 e 30% até 2035", afirma Lavor. Para ele, essa é uma estratégia para descarbonizar o transporte rodoviário, lembrando que 80% do biodiesel no Brasil é originado do farelo de soja.
Outro ponto em debate é o uso do hidrogênio verde na aviação e no transporte marítimo de longo curso, áreas onde o Brasil também pode se destacar.
Devido à complexidade para transportar esse combustível, que é bastante inflamável, Erick acredita que o Brasil poderia virar um hub de abastecimento para hidrogênio, oferecendo uma alternativa sustentável sem a necessidade de exportá-lo.
Política Nacional de Transição Energética
Lançada na semana passada pelo governo federal, a Política Nacional de Transição Energética busca abordar as diferentes complexidades de geração e distribuição de energia limpa.
A EPE, parte da equipe que elabora essa política, busca garantir a segurança energética de forma acessível à população. "Quando a gente pensa no desenvolvimento econômico e garantia do abastecimento, precisamos falar de cocção limpa, pois um quarto do nosso consumo residencial no Brasil ainda é lenha. Então, pensar na transição energética é pensar nessa população de baixa renda e trazê-la para um combustível que reduz danos para o ambiente e à saúde, sobretudo de mulheres, que é o público que cozinha", avalia a diretora da EPE.
Desafios para o futuro do Brasil
Para Lavor, o desafio brasileiro é continuar incentivando os biocombustíveis na matriz energética, pois eles já são uma realidade e há espaço para crescimento. Erick, no entanto, aponta que o desafio é o Brasil não perder a oportunidade de liderar a transição energética mundial. E, para encerrar o painel, Heloisa apontou a necessidade de governança e reforço das instituições para planejar o futuro energético do país.
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