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72 mi de dados coletados até os 13 anos: como rede social espreme seu filho

Colunistas de Tilt e Colaboração para Tilt, de São Paulo

03/09/2024 05h30

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é: Como redes sociais espremem crianças; 'Aos 6, ele já faz publi de casino online' e Baixinhos confiam mais em robôs do que em humanos; a culpa é nossa?)

As redes sociais dizem não permitir a entrada de menores de 13 anos, mas basta uma voltinha por qualquer um desses sites para flagrar gente com essa idade por lá. Enquanto isso, essas plataformas espremem os baixinhos por informações. Tanto é que, antes mesmo da idade permitida, crianças e adolescentes nesses espaços já tiveram 72 milhões de dados coletados, indica uma pesquisa do SuperAwesome, um serviço de marketing para jovens.

Estamos falando de uma geração que vai ter a vida inteira 'datificada'. É muito dado. Nenhum de nós aqui passou ou passará por este tipo de situação
Maria Melo, coordenadora de programas do Instituto Alana

O novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes, recebe a especialista em vida digital da entidade referência em assuntos relacionados às infâncias para discutir os impactos de crianças que crescem imersas na internet e nas redes sociais.

Quais são os riscos para as crianças?

Antes de tudo, Maria faz questão de separar a internet das redes sociais. Cada um dos ambientes oferece possibilidades diferentes a seres em formação e os impactos de maneira diferentes.

Ela elenca quatro modalidades de risco impostos pela internet para as crianças:

  • risco de conteúdo: é aquele exercido pelo material exibido na rede, como exploração sexual, conteúdo de ódio e desinformação;
  • risco de contato: são os percalços da interação maliciosa de um adulto com uma criança;
  • risco de conduta: geralmente nascem do comportamento entre os usuários e mesmo entre aqueles da mesma idade. Um exemplo é o ciberbullying;
  • risco de contrato: está ligada à falta de transparência sobre a extensão do poder de plataformas conectadas, como as redes sociais, têm sobre nossos dados.

O risco de contrato é o que menos se fala e o que mais a gente deveria olhar. Ele está ligado à falta de consciência quando assinamos os termos de uso de uma plataforma ou de uma rede social
Maria Melo

Já as redes sociais, ainda que rodem na internet, possuem uma dinâmica diferente.

As redes sociais foram criadas com um propósito bem específico, que não é exatamente conectar as pessoas (...) O vício que uma rede social proporciona a uma criança - e aos adolescentes também --é muito maior e muito mais impactante se comparado a adultos e idosos
Maria Melo

Por isso, afetam crianças de modos adicionais. Entre eles, Maria cita problemas de visão, dificuldades de atenção e, o mais recente, um incentivo a um comportamento consumista.

O apelo consumista que está nas redes sociais --muitas vezes de forma velada-- é muito impactante para crianças e adolescentes, porque elas ainda não estão em condições de enfrentar em pé de igualdade os apelos que a indústria provê
Maria Melo

Perigos do sharenting

As redes sociais afetam também o discernimento de adultos importantes na vida de uma criança. Pais, mães e outros responsáveis não escapam.

São eles os responsáveis pelo "shareting", um termo em inglês que mistura "share" (compartilhar) com parenting (referente a maternidade ou paternidade) e significa o compartilhamento desenfreado de imagem, voz ou vídeo de crianças na internet. Muitas vezes a hiperexposição ocorre antes mesmo de elas estarem conscientes da própria autonomia. Ainda assim, a especialista não culpa os responsáveis.

As famílias são o elo mais frágil dessa corrente
Maria Melo

Além disso, os pais acabam expondo as crianças por falta de conhecimento ou porque algumas empresas não comunicam direito o que farão com as informações. Durante a pandemia, instituições de ensino criaram ambientes virtuais de aprendizagem com plataformas de tecnologia que aproveitavam para coletar dados a serem usados em publicidade infantil.

Gastar mais energia e menos bateria

Remediar os vícios e impactos negativos gerados pelas redes sociais nas crianças passa por aproximar as crianças da natureza, conta a especialista ouvida por Deu Tilt.

As crianças precisam gastar mais energia do que bateria. Sabemos o quanto a natureza é importante para o desenvolvimento das crianças
Maria Melo

'Aos 6, ela faz publi de cassino online': por que redes ignoram crianças?

Influenciadores digitais envolvidos com rifas fraudulentas e apostas online são polêmica certa se forem adultos. Há, no entanto, um novo fenômeno: crianças, que nem deveriam estar nas redes sociais, estão promovendo essas atividades para atrair outros menores de idade.

É muito fácil falar: 'não tem criança de 13 anos aqui'. Mas elas estão lá e fazendo publi de Jogo do Tigrinho
Maria Melo

Maria conta que o Instituto Alana, organização que atua na promoção dos direitos de crianças e adolescentes, identificou a atuação de influenciadores mirins de 6 anos fazendo publicidade de cassino online no Instagram. Primeiro, a organização reuniu evidências e denunciou o caso para a plataforma.

Crianças confiam mais em robôs do que em humanos; a culpa é nossa?

Será possível que crianças dêem mais moral para o que um robô diz do que para o que os pais dizem? Pode não ser um cenário global, mas pesquisadores da Austrália, Alemanha e Suécia chegaram à conclusão que crianças de 3 a 6 anos confiam mais em máquinas do que em seres humanos.

Como fizeram isso? Eles mostraram vídeos para as crianças onde eram exibidos objetos do cotidiano e a descrição era dada por humanos e robôs [de forma intercalada]
Helton Simões Gomes

Durante a pesquisa, continua Helton, tanto robôs quanto humanos cometiam erros, mas as crianças sempre tendiam a confiar nas máquinas. Esse foi o assunto do "Arrasta pra cima", quadro em que os apresentadores imaginam a vida como se ela fosse uma rede social - se curtem, vão de "like"; se não gostam, vão de "arrasta pra cima".

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo às 15h.

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