Transição energética no Brasil exige ação conjunta entre público e privado
A crise climática global torna urgente acelerar a transição energética, e o Brasil se destaca como um dos países com maior potencial para liderar essa mudança, desde que haja uma força-tarefa entre os setores público e privado. Esse foi o foco do evento "Brasil do Futuro - Transição Energética", realizado pelo UOL, que debateu as oportunidades e os desafios rumo à neutralidade de carbono.
"Em 15 anos, temos condições de gerar toda a energia que precisamos com fontes renováveis", afirmou o cientista Carlos Nobre, ao destacar a urgência de investir em usinas solares, eólicas e hidrogênio verde com o objetivo de descarbonizar a economia brasileira até 2040.
Na avaliação de Nobre, a transição energética está avançando de forma rápida, mas há o que melhorar. "Não basta interromper a exploração de novos poços de petróleo ou minas de carvão, é preciso fechar as que já estão em operação."
O segundo painel, "Combustíveis do Futuro: o Brasil Protagonista", reuniu Erik Eduardo Rego, coordenador do Centro de Inovação e Transição Energética da Poli-USP e especialista da PSR, André Lavor, CEO e sócio da Binatural, fabricante brasileira de biocombustível, e Heloisa Borges, diretora de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). A conversa foi mediada pelo editor e colunista de Tilt Helton Simões Gomes.
No Brasil, ao contrário do cenário global onde três quartos das emissões vêm do setor energético, a maior parte das emissões está relacionada ao desmatamento e à agropecuária. Com uma matriz energética majoritariamente renovável, o país se destaca na transição energética, especialmente no uso de biocombustíveis como etanol e biodiesel.
Na conversa, os especialistas destacaram as particularidades do Brasil na questão da transição energética, ressaltando a posição de liderança do país e os desafios específicos que enfrenta. Você pode acompanhar aíntegra do painel no vídeo acima.
"Não podemos importar soluções para problemas que não temos. O Brasil está em uma posição de liderança, mas nossos desafios são diferentes", comentou Heloisa, destacando que 25% da matriz de transporte no Brasil já é renovável, principalmente devido ao uso da biomassa.
Se o Brasil for capaz de interromper o ciclo de queimadas e o desmatamento, que emitem gases poluentes, é possível que o paíse se torne um dos primeiros países a alcançar o status de net zero até 2030, conforme dados apresentados por Henrique Ceotto, sócio e líder da prática de Sustentabilidade e Transição Energética da McKinsey & Company no Brasil.
"Identificamos ao menos US$ 190 bilhões em oportunidades [de investimento nesses setores] até 2040 para a descarbonização da economia brasileira", afirmou, se referindo às fontes renováveis, ao hidrogênio verde, biogás, créditos de carbono voluntários e mobilidade elétrica.
Ceotto também alertou que minimizar os custos da transição pode ser prejudicial ao Brasil. "Com um investimento um pouco maior, podemos mais do que dobrar o PIB até 2050", afirmou, defendendo que o país deve buscar maximizar os benefícios socioeconômicos dessa transformação.
"A oportunidade para o Brasil é tão grande, que perseguir minimizar o custo de transição energética é um erro. O que a gente deveria fazer é maximizar o potencial socioeconômico associado a essa transição energética", explicou.
Isso inclui o segmento da mobilidade, discutida no Projeto de Lei do Combustível do Futuro, atualmente em discussão no Congresso Nacional. Enquanto o PL busca impulsionar setores como o biometano e o biodiesel, um setor já bem consolidado é o etanol.
O painel "Financiando a Energia do Amanhã" reuniu Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Alexandre Castanheira, head de Debt Capital Markets do Citi Brasil, e Bernardo Sicsú, vice-presidente de Estratégia da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia). A conversa foi mediada pela jornalista Mariana Sgarioni, colunista de Ecoa.
Na esfera federal, a Política Nacional de Transição Energética é um dos principais projetos em andamento. O governo prevê R$ 2 trilhões em investimentos ao longo de dez anos para impulsionar o uso de fontes de energia limpa. "Precisamos escalar SAF (Combustível Sustentável de Aviação), biobunker (combustível marítimo), biometano, hidrogênio verde, amônia verde, fertilizante verde e metanol. Para isso é necessário capital intensivo. A gente não vai precisar só de dívida, vai precisar também de equity", disse Luciana Costa.
Na opinião de Bernardo Sicsú, da Abraceel, o mercado livre de energia será um importante impulsionador da transição energética no Brasil, pois oferece ao consumidor a possibilidade de escolher o fornecedor, tipo de energia, preço e prazos. "Não vamos concluir transição energética nenhuma sem que o consumidor seja o protagonista e tenha acesso de forma barata", disse.
Desafios para o setor privado
Ponderar os impactos que a transição energética tem sobre as comunidades também foi destaque na palestra de Daniela Teston, diretora de relações corporativas da WWF-Brasil. Daniela falou sobre a importância de uma negociação equilibrada entre empresas e comunidades locais e que é preciso ir além dos interesses corporativos e avaliar os impactos de maneira inclusiva e descentralizada. "Seja no Cerrado, Mata Atlântica ou Amazônia, precisamos considerar que a realidade dessas populações não é a mesma que a gente vive [nos centros urbanos]. Então, essa transição tem que acontecer de forma equilibrada", defendeu, na conclusão do evento.
Sobre o Brasil do Futuro
O evento foi o segundo da série "Brasil no Futuro", com o objetivo de trazer para o mundo físico e amplificar no digital ideias que podem parecer distantes, mas que já são para lá de concretas na atualidade. No primeiro evento, sobre agrotech, a conversa foi sobre a intersecção entre tecnologia e agronegócio para discutir como a conectividade no campo pode fazer uma área que já é forte gerar ainda mais riqueza para o país.
Por meio de reportagens e séries de vídeos semanais, o "Brasil do Futuro" combina conteúdo jornalístico multimídia com uma forte presença nas redes sociais, como TikTok e Instagram, e no aplicativo de mensagens WhatsApp. O objetivo é mostrar o quanto o país é um enorme celeiro de inovações científicas e tecnológicas que acabam adotadas pelos mais diferentes setores - da saúde às telecomunicações, passando pelo agronegócio - transformando a vida das pessoas.
Dentro dessa cobertura, o projeto abriga a série multimídia "Cidades do Amanhã". São reportagens especiais sobre cidades ou regiões brasileiras que estão desenvolvendo tecnologias, processos ou serviços inovadores que podem influenciar a vida da humanidade no futuro.