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Terremotos podem estar por trás da formação de grandes pepitas de ouro

Pepita de ouro 'presa' no quartzo encontrada em Val d'Or, em Québec, no Canadá Imagem: Pierre Longnus/Getty Images

Colaboração para Tilt

08/09/2024 05h30

Joias, aparelhos eletrônicos, moedas e até o famoso bife com folhas de ouro da Copa do Mundo devem sua existência a terremotos. A conclusão é de um estudo publicado pelo periódico Nature Geoscience na semana passada, que aponta que os abalos sísmicos são responsáveis pela formação de grandes pepitas.

Ouro e quartzo

Grandes depósitos de ouro surgem dentro de outro minério, o quartzo, explicam os pesquisadores da Universidade Monash, da Austrália. Isso ocorre porque o quartzo comum tem propriedades elétricas bastante particulares: se for chacoalhado intensamente, gera eletricidade. Estas correntes acabam "puxando" as partículas que compõem o ouro de fluidos na camada mais superficial da Terra.

Com o fim das vibrações, estas partículas se cristalizam como grãos de ouro. Com a repetição do processo e suficiente estímulo elétrico, os grãos acabam se amalgamando (fundindo) e formando as pepitas de ouro. Não à toa, cerca de 75% delas costumam ser encontradas por garimpeiros em "veias" dentro do quartzo.

O papel da eletricidade

O processo depende de estímulo elétrico, e a piezoeletricidade, também conhecida como "eletricidade de pressão", é uma propriedade bem documentada do quartzo desde a década de 1880, quando foi descoberta pelos físicos franceses Jacques e Pierre Curie. Como o nome sugere, é a capacidade de um material gerar carga elétrica se colocado sob pressão mecânica. Isso não é observado apenas no quartzo: ocorre naturalmente na cana de açúcar e até em ossos e seu princípio básico deu origem a outras criações como impressoras com jato de tinta. A diferença é que o quartzo é o mineral natural com piezoeletricidade mais abundante da Terra.

Pepita de ouro pode ter origem em terremotos Imagem: assistantua/Getty Images/iStockphoto

Outro fato que os cientistas (e até garimpeiros) já conheciam, por pura observação, é a existência de ouro dissolvido em fluidos nas camadas mais superficiais da Terra que acabaria "infiltrando" no quartzo. Este "vazamento" entre os cristais não surpreendia em pequenas quantidades, mas até então não havia uma explicação razoável para a formação de grandes pepitas.

O que este estudo fez foi criar uma ligação entre dois conceitos ou realidades, até então, independentes. E a grande pergunta era: como nanopartículas de ouro teriam energia suficiente para criar a reação necessária para rachar a superfície do quartzo em grandes proporções e formar uma pepita?

Como foi o experimento

Para estudar as reações envolvidas no processo de formação das pepitas, os cientistas australianos mergulharam pedaços de quartzo em água com ouro dissolvido. Então, eles submeteram o quartzo a vibrações semelhantes àquelas que acontecem naturalmente durante um terremoto. E o resultado foi surpreendente: formações de ouro infiltraram no quartzo e "subiram" para a superfície do cristal.

Juntando esses elementos, entendemos que os terremotos fraturam as rochas e forçam os fluidos hidrotermais para dentro das veias de quartzo, enchendo-as com ouro dissolvido. Em resposta ao estresse do terremoto, as veias de quartzo geram simultaneamente uma carga elétrica que reage com o ouro, fazendo com que ele precipite e se solidifique.
Christopher Voisey, geólogo e autor principal do trabalho, ao site Live Science

Outro ponto importante da descoberta é que o ouro tende a se acumular em pontos do quartzo onde já existiam partículas presentes, o que explicaria a formação das grandes pepitas. Ou seja, é preciso haver traços de ouro próximo ao quartzo para formar uma pepita, já que ele funciona como "um para-raio", segundo Voisey, e atrai ainda mais ouro por afinidade elétrica.

As voltagens piezoelétricas "não deixam traços visíveis para trás", o que poderia ser útil para desenvolver métodos de mapeamento de grandes depósitos de ouro, disse o pesquisador ao jornal britânico The Guardian. O experimento também não explica, até o momento, como os primeiros traços de ouro surgem em determinados locais, mas aponta um caminho interessante para conceber como as movimentações das camadas da Terra foram essenciais para as formações da paisagem e dos elementos que conhecemos hoje.

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